sábado, 16 de agosto de 2014

As falhas do Datafolha e o desempenho fraco de Padilha em São Paulo


Jornal GGN - Em pelo menos dois pontos o Datafolha de agosto pode ter prejudicado o desempenho do candidato do PT, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo. Primeiro, porque a cartilha de perguntas não associa cada concorrente ao seu respectivo partido. Segundo, por não apurar o grau de conhecimento do entrevistado em relação aos postulantes. E se cabe uma terceira crítica, essa vai para a simulação de um segundo turno sem o petista. Na análise de especialistas, o instituto - e parte da mídia - ignoram o potencial do PT junto ao eleitorado paulista.
Pelos dados divulgados nesta sexta-feira (15), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é líder isolado na disputa estadual. Com 55% das intenções de voto, o tucano seria reeleito no primeiro turno, com larga vantagem sobre Paulo Skaf (PMDB), que registrou 16%, e Padilha, 5%. O petista encabeça apenas a lista de rejeição. Cerca de 28% dos entrevistados disseram que não votam nele de jeito nenhum. Alckmin é descartado por 19%, e Skaf, por 20%.
Na avaliação do cientista social e pesquisador Marcos Soares, é difícil analisar o quadro eleitoral em São Paulo sem dados sobre a popularidade de cada candidato, algo que o Datafolha não teve o cuidado de observar. "Não sabemos o quanto Padilha e Skaf são conhecidos pela maioria dos eleitores, e intenção de voto e conhecimento dos candidatos andam juntos. Padilha é o mais rejeitado na pesquisa, mas como sei que essa rejeição não é mero desconhecimento?”, disse.
Soares lembrou da disputa municipal de 2010, quando o hoje prefeito Fernando Haddad (PT) amargava o posto de lanterna nas primeiras pesquisas eleitorais. Ele saiu dos 3% de intenções de voto em maio daquele ano para a vítória, no segundo turno, contra o ex-governador José Serra (PSDB).
Sobre a apresentação dos candidatos ao entrevistados sem associação aos partidos, Soares considerou ser um erro do Datafolha que prejudica especialmente Padilha. “Isso tem impacto determinante no desempenho do candidato do PT, porque sabe-se que o PT tem um eleitorado grande em São Paulo, de pelo menos 25%. A conduta do Instituto impede que o eleitor simpático ao PT tenha conhecimento de Padilha", pontuou.
O segundo turno e a mídia
O Datafolha de agosto decidiu testar o entrevistado sobre um possível segundo turno. Mas na única simulação feita, o confronto é entre Alckmin e Skaf. O pesquisador Marcos Soares explicou que legislação deixa brechas em matéria de pesquisa eleitoral. Os institutos são obrigados, sim, a apresentar todos os candidatos com registro, e isso é feito, geralmente, quando da análise das intenções de voto no primeiro turno. As simulações sobre segundo turno ficam a critério de cada instituto e, no caso do Datafolha, podem ter atendido à "linha editorial" do jornal Folha de S. Paulo.
"É a mesma coisa na questão da Globo, que decidiu que fará cobertura do candidato que tem 6% em São Paulo [portanto, excluindo Padilha] e 3% na eleição nacional [inserindo o Pastor Everaldo na telona como mais um concorrente à sucessão de Dilma Rousseff]. Isso faz supor que há opção por não dar maior espaço ao candidato do PT. Aliás, se você observar o trabalho da Folha pelo olhar do Manchetômetro [trabalho da UFRJ], vai ver um claro viés na cobertura do jornal em relação ao governo federal e ao PT”, comentou.
"A avaliação é que há certa indisposição em relação ao candidato petista. É razoável pensar que o Instituto não tenha feito a opção de simular o segundo turno porque Padilha ainda tem 5%, mas eles poderiam ter feito e eu digo que deveriam, pois o histórico mostra que o PT alcança mais de 25% do eleitorado paulista no decorrer da campanha na TV. Em breve, eles vão ter que fazer", acrescentou.
Horário eleitoral
Essa semana, em entrevista ao GGN, Rui Tavares Maluf, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, minimizou o poder de influência da Globo sobre as pesquisas eleitorais e endossou o poder do horário eleitoral. Segundo ele, "é preciso considerar que o eleitor que acompanha política com frequência não se informa apenas na Globo, e o eleitor que dá as costas, quando se vê obrigado a decidir o voto, passa a dar mais atenção ao horário eleitoral no rádio e na TV. Isso vai refletir nas pesquisas."
Leia mais: A cobertura restritiva da globo e a campanha do PT em São Paulo
O horário eleitoral começa oficialmente em 19 de agosto e aponta para uma disputa relativamente equilibrada entre os três principais candidatos ao Palácio dos Bandeirantes. Padilha terá cerca de 4 minutos e 22 segundos. Skaf terá o maior tempo, 5 minutos e 58 segundos. Alckmin, 4 minutos e 51 segundos.

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