segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A crise hídrica no Sudeste não tem solução de curto prazo, diz relator da ONU



cantareira10
Publicado na DW.
ADVERTISEMENT

A crise hídrica no sudeste não tem solução a curto prazo a não ser chuva e redução do consumo, afirma Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico. A partir de 1º de dezembro, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai substituir a portuguesa Catarina de Albuquerque na ONU. O mandato dura três anos e pode ser renovado pelo mesmo período.
“Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções”, afirmou Heller, em entrevista à DW Brasil.
Caso não chova nos próximos meses, alerta o engenheiro, a situação pode ficar “dramática”.
Ele considera que o volume de água desperdiçada ao longo do sistema de abastecimento brasileiro “não é admissível”. “Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução dessas perdas.”
Heller é cauteloso ao falar do tratamento do esgoto para transformação em água de reúso. Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou a construção de uma estação que irá empregar a técnica, com o objetivo de aumentar a oferta de água.
DW Brasil: O que o senhor acha que poderia ter sido feito para minorar a seca no sudeste?
Léo Heller: Deveria ter tido um planejamento mais adequado, que levasse em conta a possibilidade de estiagem, que é um fenômeno natural e sazonal. Esses momentos precisam ser incluídos no planejamento. Os atuais mananciais e captações de água têm sido insuficientes para atender a demanda, isso requer aumentar e diversificar as fontes de água, não só quantitativamente, mas qualitativamente. Isso inclui água subterrânea e de chuva, por exemplo.
E do ponto de vista da demanda?
É preciso reduzir as perdas no sistema de abastecimento de água. Além disso, poderíamos consumir menos água com mudanças nos hábitos da população e com equipamentos mais econômicos, como a descarga dual (com dois botões, um para resíduos sólidos e outro para líquidos). Algumas cidades estão incentivando a captação da água da chuva no nível domiciliar para alimentar a descarga dos vasos sanitários. É uma solução muito inteligente, porque usamos uma água de altíssimo padrão, sem necessidade. E é onde mais se consome água nos domicílios.
O que pode acontecer caso não chova nos próximos meses no sudeste?
A situação ficaria dramática e precisaríamos intensificar o racionamento. Eu prefiro pensar no longo prazo, que os gestores tomem as providencias necessárias para que, no próximo verão, isso não volte a acontecer.
Então, no curto prazo, não tem muito o que possa ser feito…
Não, não tem. Exceto campanhas para que as pessoas economizem. Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções.
Que medidas preventivas poderiam ter sido tomadas para economizar água?
Deveríamos ter feito gestão da demanda, trabalhado para diminuir o consumo de água, com campanhas contra o desperdício e combate às perdas. A redução da pressão também ajuda a diminuir o consumo. Todas essas medidas deveriam ter sido tomadas preventivamente.
Como o senhor vê a tentativa transferir água do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira?
A transferência de água de uma bacia para alimentar a captação de outra, se for realizada e gerenciada de forma inteligente, pode ser uma solução. Desde que, obviamente, essa transferência não comprometa a água da bacia doadora. Aparentemente, estudos desenvolvidos pela própria ANA [Agência Nacional de Águas] mostram que isso não colocaria em risco o abastecimento dos outros estados. Mas isso precisa ser feito com muito cuidado.
Há uma mentalidade de que a água é um recurso infinito. Essa crise hídrica pode mudar isso? 
A crise no sudeste alerta para a necessidade de uma mudança de paradigma da gestão de água. Ela não é infinita e ela não tem um volume constante ao longo do ano e das décadas. Alguns autores falam que o abastecimento de água deve mudar de uma lógica linear – captação, uso e descarte – para uma lógica mais circular, com o reúso e outras fontes. Precisamos sair de uma acomodação e investir não só em novas obras, mas na modernização da gestão. É muito possível que uma parte do problema atual tenha origem nas mudanças climáticas globais, o que sinaliza que esse fenômeno pode ocorrer com mais frequência.
O que o senhor acha da proposta de multar pessoas que, por exemplo, seguem lavando carros e calçadas com mangueira, apesar da seca?
Associada a um conjunto de medidas, a multa pode ter efeito. Isoladamente é quase uma transferência de responsabilidade, como se os culpados fossem os usuários e o gestor não tivesse nenhuma responsabilidade. Isso não é correto. De certa forma, os modelos de tarifação de água hoje já incluem essa lógica, porque quem consome muito paga mais pelo metro cúbico. Só que esse modelo tarifário se demonstrou incapaz de coibir esse tipo de desperdício. Mas nós não temos ainda condições empíricas para dizer que as multas contribuiriam a redução do consumo. Pode ser que um proprietário muito rico concorde em pagar mais para continuar desperdiçando.
Estudiosos têm alertado para o desmatamento ao redor de represas, como o Cantareira, e mesmo na Amazônia, como um dos agravantes da seca. O senhor concorda que se dá pouca importância a esse fator no gerenciamento da água?
Sem dúvida. Os profissionais da hidrologia sabem muito bem disso. Não é apenas o desmatamento ao redor das represas que tem impacto, mas nas bacias hidrográficas inteiras. Quando há alterações importantes, no sentido de remover vegetação, ampliar a urbanização e iniciar práticas agropecuárias, a bacia perde sua capacidade de armazenar água. Ou seja, em época de estiagem, a vazão dos rios vai ser cada vez menor. As bacias no sudeste são muito afetadas pela ação do homem, isso certamente explica parte do que está ocorrendo. Em relação à Amazônia, esse impacto ainda carece de uma comprovação mais firme.
Recentemente, o governo de São Paulo anunciou a construção de uma estação que para fazer o reúso do esgoto. O Brasil está avançado em relação ao reaproveitamento da água em comparação com outros países?
Nós estamos muito atrasados. Há várias formas de reúso, como reaproveitar a água para a irrigação ou para o vaso sanitário. Essa de transformar o esgoto em água potável é a mais radical. Existem tecnologias para isso, sim, mas são mais sofisticadas e nós estamos menos habituados a operá-las. É preciso muito cuidado, porque qualquer falha no processo pode levar a uma insegurança sanitária da população. E as falhas são possíveis em um processo novo, quando não temos mão de obra qualificada para isso. Tem que ter um controle muito fino ou podemos trazer risco para a população.
O senhor mencionou o reúso domiciliar, mas o que poderia ser feito em larga escala?
É possível pensar em grandes reservatórios de água de chuva para usos menos nobres. O problema é que muitas vezes esse reúso implica uma grande reformulação dos sistemas, tanto públicos, quanto domiciliares. Alguns países têm rede dupla na rua, uma para água mais pura e outra mais impura. Em uma cidade que já esteja totalmente consolidada, essa transformação é muito penosa. O que parece mais viável são pequenas mudanças em nível domiciliar, mais do que municipal. A tecnologia existe para qualquer tipo de reúso, mas precisamos observar a segurança sanitária, a viabilidade técnica e econômica.
O Brasil tem uma taxa alta de perda de água ao longo do sistema. O que pode ser feito em relação a isso?
Temos uma taxa média nacional de perdas na distribuição de 37%, segundo o SNIS [Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento]. É bem alta. Dificilmente chegaria a zero, mas os engenheiros trabalham com uma meta de 25%. Abaixo disso, costuma ser pouco viável economicamente. Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução desse desperdício. Para isso, faltam investimentos públicos e um programa de controle de perdas mais efetivo. Existem incentivos do governo federal, mas muitas vezes os gestores se acomodam e preferem fazer novas obras de infraestrutura do que trabalhar nesse ajuste fino, que requer um trabalho de detetive e dá pouca visibilidade. Do ponto de vista ético, não é admissível perder tanta água no sistema.
O que o senhor, como brasileiro, acha que o nosso país pode contribuir nesse debate sobre água e esgoto no mundo?
O Brasil avançou muito nos seus marcos legais e institucionais, isso pode ser um exemplo interessante. Nós temos agora uma lei nacional que estabelece a regulação da prestação do serviço de água e esgoto, além de um plano nacional e uma estrutura no governo que cuida disso. Também tem havido certa estabilidade nos financiamentos públicos federais para a área. Esse conjunto de medidas terá efeitos de longo prazo, elas prepararam o país para avançar muito na ampliação do acesso ao saneamento.
A maior parte dos brasileiros não tem acesso a tratamento de esgoto. Quais são os desafios para a universalização desse serviço?
Sem dúvida isso tem avançado lentamente, mas tem avançado. O Plano Nacional de Saneamento Básico dá prioridade a isso. A ideia hoje é não implantar nenhum sistema de coleta de esgoto sanitário que não tenha tratamento. Isso já vem sendo feito, mas nós temos um passivo muito grande e superá-lo é um desafio enorme.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Crise hídrica: A histórica incompetência gerencial de Alckmin, por Sérgio Reis


Crise hídrica: A histórica incompetência gerencial de Alckmin
Dos últimos 20 anos, Geraldo Alckmin esteve em posições-chave na Administração Pública do Estado de São Paulo em 18 deles – 90% do tempo, que corresponde a uma geração inteira. Ele foi Vice-Governador de Mario Covas entre 1995 e 2001. Com o falecimento do Chefe de Estado, assumiu o Governo e lá se manteve – foi reeleito, em 2002, e continuou como Governador até 2006, quando renunciou ao cargo para tentar ser Presidente da República (foi derrotado por Lula, tendo tido menos votos no segundo turno do que no primeiro).
Após sequer conseguir chegar ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2008 (quando parte do próprio PSDB rifou sua candidatura para apoiar Kassab, que seria reeleito contra Marta Suplicy), foi convidado por José Serra, então Governador, para assumir a Secretaria de Desenvolvimento do Estado. Alckmin a ocupou entre 2009 e 2010, quando saiu para disputar novamente o Governo de São Paulo e sagrou-se vencedor, já no primeiro turno, por estreita margem acima da metade dos votos válidos necessários para tanto.
Não há, portanto, nesses últimos 20 anos da história do Estado de São Paulo alguém tão intimamente conectado à estrutura de poder vigente como Geraldo Alckmin. Quem estuda ou acompanha políticas públicas sabe que a transformação significativa de uma realidade muito dificilmente ocorre no curto prazo. Aliás, é o enorme distanciamento histórico entre sociedade e Estado no Brasil um fator relevante para explicar a impaciência de parte da população com a falta de impacto das políticas públicas na realidade, na mesma medida em que muitos se impressionam com o surgimento de viadutos, pontes e novas avenidas – e daí emerge o fenômeno do populismo urbano (o adhemarismo e o malufismo em São Paulo, o rorizmo e o arrudismo no Distrito Federal, e assim por diante), que teve (e ainda tem) tanta aceitação em nosso contexto.
Quando falamos da política de recursos hídricos, então, a dificuldade de se observar resultados concretos no curto prazo tende a ser maior ainda. São muitas variáveis incluídas nas análises feitas durante o processo de formulação; há, em geral, uma curva de maturidade imensa no desenvolvimento dos projetos, que em sua maioria tendem a ter um tamanho expressivo; existe a necessidade de inversão de muitos recursos – nem sempre disponíveis. É claro que a inteligência e a criatividade permitem com que os gestores e os políticos sintonizados consigam contornar algumas dessas quase inevitáveis exigências, mas ainda assim não é um processo trivial trabalhar temas como esse, de forma transformadora, em pouco tempo.
Mas esse não pode ser um argumento-subterfúgio de Alckmin. Mesmo diante da complexidade e do desafio embutidos no desenvolvimento de uma política de recursos hídricos capaz de endereçar as exigências contidas em um estado como São Paulo, houve muito, muito tempo para que ele tivesse dado conta dessas questões. Até quando tratamos de política pública e a enxergamos da perspectiva da transformação sistêmica, duas décadas expressam um tempo mais do que suficiente. E Alckmin, situado nas mais favoráveis posições de poder ao longo de todo esse período, falhou retumbantemente.
Se não era possível imaginar que, diante de seu provincianismo enquanto político, viesse a promulgar ações de gestão que fossem imaginativas, ao menos do ponto de vista do “obrismo puro” ele não poderia decepcionar o cidadão paulista. Mas nem aí foi prodigioso: não houve uma construção sequer que tenha sido entregue no prazo, não houve um grande projeto qualquer que tivesse sua fase de planejamento terminada no marco temporal delimitado; nem os documentos ou relatórios que orientariam o processo de formulação das melhores alternativas foram concluídos no deadline inicialmente previsto.
No primeiro grupo, daria para citar a reversão do Taquacetuba, do Guarapiranga, que atrasou pelo menos 9 meses e deixou milhões de pessoas em água em 2000; a conclusão e a entrega das represas de Biritiba-Mirim e Paraitinga, do Alto Tietê, previstas para 2002 e disponibilizadas apenas em 2005; a estação de tratamento Taiaçupeba, que poderia ter sido concluída em 2007 mas ficou pronta apenas em 2011-2; mesmo a obra para a captação da primeira cota do volume morto do Cantareira, embora entregue no prazo, estava incompleta, conforme nos mostrou Fernando Brito à época.
No segundo grupo, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) da mencionada ETA Taiaçupeba, que demoraram mais de 3 anos para ficarem prontas; as PPPs do São Lourenço, que levaram 6 anos para terem apenas o seu projeto concluído (o prazo inicial era de menos de 3 anos); o projeto da transposição do Paraíba do Sul, previsto desde 2004, e não concluído até hoje; o projeto de Duas Pontes e Amparo, pensado desde uma primeira prospecção em 2004 e só agora entregue.
No terceiro grupo, constam a maioria dos termos previstos na Outorga do Cantareira de 2004: os planos de contingência, que eram para ter sido concluídos em 2005, só o foram em 2010; o plano de redução da dependência desse Sistema, que era para ter sido apresentado em fins de 2006, mas só o foi em 2013 (tornou-se o Plano Diretor para o Uso da Água da Macrometrópole); a atualização das curvas de cota-volume dos reservatórios (essenciais, agora, no contexto do uso do volume morto), que deveria estar pronta em 2005, só concluída em 2008; a revisão dos estudos hidrológicos, também prevista para 2005, e terminada apenas em 2009. Há muitos e muitos outros exemplos.
Vemos, então, que seja do ponto de vista da formulação, seja da perspectiva do planejamento, seja do viés da implementação e da gestão das políticas públicas relacionadas à questão hídrica, a atuação de Geraldo Alckmin não foi nada menos do que desastrosa. Muitos sinais de alerta foram acesos, seja por técnicos do próprio Estado, seja pela sociedade civil, seja pela Academia. A capacidade de intervenção do “vice (2x)/governador (2x)/secretário/governador”, ativamente presente como ator de primeira ordem em 18 dos 20 anos de domínio do PSDB em São Paulo, foi, então fragorosamente insuficiente.
Na verdade, como já disse antes, a tragédia hídrica era para ter ocorrido há vários anos. Estávamos, o tempo todo, na corda-bamba do clima, surfando na onda de São Pedro. Assim que o clima deixou de ser imensamente favorável, foi desnudada a fragilidade de seu modelo de gestão. Chances para contornar o cenário como o atual, ele teve muitas. Nunca superamos, na verdade, o estresse hídrico historicamente vivenciado por São Paulo. Alckmin ficou sempre, contudo, aquém das metas que ele mesmo propôs, daquelas colocadas pela população e daquelas impostas pelo contexto. Não é preciso dizer que, em várias outras áreas de política pública, observamos a mesma incompetência. Quando apareceu a variável fora da curva, que lhe tirou da velocidade de cruzeiro, ele fracassou, e expôs o amadorismo com que enxerga a coisa pública. Por que mereceria mais quatro anos?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lula: PiG julga o PT antecipadamente

“Todo vazamento é contra o PT”, disse o Presidente na abertura do V Congresso Nacional do partido
"O PT cometeu o crime de acabar com a fome. Cometeu o crime de fazer o maior programa de transferência de renda" (Foto: Ricardo Stuckert)

Em discurso no lançamento do V Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, o Presidente Lula criticou a oposição pela postura adotada após a derrota na eleição presidencial e comparou o andamento da Operação Lava-jato com o que ocorreu no processo do chamado Mensalão.

“Agora a bola da vez somos nós. O PT não pode continuar crescendo, tem que ser atacado de todos os lados, em todas as frentes, com artilharia leve e pesada,  não importa se é verdade ou mentira. Vamos tentar difamar, destruir esse partido. No processo do mensalão, os companheiros que foram julgados já estavam condenados. Esse processo da Petrobras, o que a gente está vendo é que quando chegar na Suprema Corte, quando o Teori (Zavascki) for analisar a delação premiada, instrumento criado por nós, a imprensa já vai ter condenado. Todo o vazamento é contra o PT. É preciso dizer que foi o PT ”, afirmou nesta quarta-feira (10), em Brasília.

Sem citar Aécio Neves (PSDB), candidato derrotado pela Presidenta Dilma Rousseff, Lula se referiu às recentes manifestações convocadas pelo senador. “A Dilma tem que governar. Ela não pode ficar atrás de passeata, não. Deixa a mulher trabalhar, gente. Ela ganhou as eleições. Se enfiar todos eles um dentro do outro, eles não são mais honestos do que eu. Quando eles não têm argumento para fazer o debate político, o debate da economia, o debate da política social, a corrupção é o único discurso da direita em todo lugar do mundo. Se valeu para eles, para mim não vale”.

Em tom irônico, Lula comentou as denuncias feitas pelos partidos de oposição, em especial o PSDB, contra o PT. “A presidente Dilma tentou explicar isso muitas vezes na campanha eleitoral, mas nossos adversários nunca quiseram compreender, como se quem faz campanha pedindo dinheiro para empresário fosse só o PT. Me parece que os tucanos arrecadam dinheiro em campanha como o Criança Esperança, de tão nobre que eles são”, disse.

Para completar:  “Eles acham que a campanha não acabou e a gente não pode ficar fazendo essa disputa com eles.”



Futuro

O Presidente conclamou o partido a sair da defensiva e ajudar a presidente Dilma Rousseff no segundo mandato. “Não temos que ficar pensando apenas no futuro se a gente não construir o amanhã”, discursou.

“Ninguém tem que pensar neste momento em 2018, temos que pensar na posse da presidente Dilma e do sinal que temos que dar a esse país. Na expectativa que a presidente Dilma anuncie no dia 1º o que serão os próximos quatro anos do ponto de vista econômico, das politicas sociais, de desenvolvimento, de crescimento, para que a gente possa recuperar neste país a alegria.. É importante que a gente não perca de vista que os tempos que virão pela frente não serão fáceis”.

“Os tempos que virão pela frente não serão fáceis. Eles (oposição) não estão habituados a conviver com a democracia, muito menos a conviver com a democracia que faz política social para a maioria do povo brasileiro”, prosseguiu Lula, que buscou uma explicação para o ódio propagado contra o PT.

“O que me assusta é um programa como o Bolsa Família ser tão odiado por uma elite que joga fora de comida todo dia aquilo que falta na mesa de milhões de brasileiros. Todos nós somos petistas e queremos uma sociedade justa e igualitária para atender aos interesses do povo brasileiro. Não existe no mundo nenhuma experiência política mais bem sucedida do que o PT”, opinou para a plateia.

“Não nascemos para ser iguais aos outros. Nascemos para ser diferentes. Não nascemos para fazer campanha igual aos outros. É preciso voltar a construir sonhos. É preciso voltar a construir utopias. Porque a humanidade não caminha sem esperança, sobretudo em um momento histórico em que a humanidade está digitalizada. No momento em que somos atacados, no momento em que essa juventude pouco conhece da gente, e conhece apenas do massacre que somos vítimas nesse país”, sugeriu o Presidente.

E finalizou: “O PT cometeu o crime de acabar com a fome. Cometeu o crime de fazer o maior programa de transferência de renda”.

A segunda etapa do congresso acontecerá entre os dias 11 e 14 de junho de 2015 em Salvador (BA).

Alisson Matos, editor do Conversa Afiada

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

5 milhões de paulistanos passarão virada do ano sem água


Grande imprensa descobre o Alto Tietê, que chega aos seus últimos dias
A não ser que 1) tenhamos chuvas absolutamente históricas ou 2) os técnicos da SABESP apresentem uma solução mágica (indisponível até o presente momento), quase 5 milhões de pessoas passarão a virada de ano sem água na região metropolitana de São Paulo em pouco mais de 20 dias. Como nem a primeira, nem a segunda possibilidade parecem factíveis, soa a cada instante mais provável a conjectura apresentada acima, hipótese que apresentei, pela primeira vez, em um texto publicado aqui no blog ainda em 18 de Julho - Um diagnóstico sobre a dramática situação do Sistema Alto Tietê  – há praticamente 5 meses, portanto.
Se a cobertura midiática sobre a crise hídrica já pode, em si, ser classificada como sofrível, a diferença no tratamento dado à situação do Cantareira quando comparado ao Alto Tietê é praticamente inexplicável (não por acaso, as fotos utilizadas em reportagem da Folha de hoje - para ilustrar a situação do Alto Tietê são de Julho!). Hoje, pela primeira vez, os grandes veículos de comunicação destacaram, como prioridade, o momento crítico enfrentado pelo segundo mais importante sistema de abastecimento de água de São Paulo. E, pela primeira vez, também aventaram a hipótese de que ele “pode colapsar”.
Uma primeira questão interessante, ao analisarmos o comportamento da mídia, é o desencontro de informações, sem réplicas ou críticas, que são produzidas pelos jornalistas. Na notícia do G1, afirma-se que a SABESP fala sobre a existência de uma reserva técnica, sem especificar seu tamanho ou o início de seu bombeamento. Já na notícia do R7 , coloca-se no título da própria matéria que o sistema não possui o tal volume morto. Para quem estuda o tema da transparência, o fenômeno do desencontro não pode ser catalogado de outra forma: trata-se de um case clássico de opacidade governamental. A gestão Alckmin, mais uma vez, demonstra o seu absoluto desinteresse em informar o cidadão, em produzir uma estratégia adequada de comunicação em situação crítica.
A guerra pela água está apenas começando, mas tudo o que o governo estadual diz é que não haverá problemas, e que a solução do bônus pela redução do consumo está sendo uma medida eficaz. Nada mais longe da realidade. Quando combinamos esse comportamento com a práxis conservadora da mídia, produz-se uma bomba-relógio, cada vez mais perto de explodir. Essa bomba mistura desinformação, ausência de incentivos colaborativos, crescente sensação de desespero e, é claro, a proximidade do esgotamento fático dos reservatórios. E nada, absolutamente nada, está no horizonte para mitigar quaisquer desses componentes trágicos para a população paulista.
A situação no Alto Tietê é tão grave, mas tão grave, que não é mais possível calcularmos em meses, mas sim em dias, a perspectiva de seu esgotamento. Para que tenham uma ideia, a represa de Biritiba-Mirim – aquela que começou a ter o seu volume morto extraído ainda na primeira semana de Outubro (o que foi confirmado pela SABESP apenas em Novembro) – está em um nível tão baixo, mas tão baixo, que sequer o Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê  é capaz de especificar o quanto de água ainda restaria nesse reservatório.
Em Julho, após analisar esse documento, produzimos uma planilha (que foi compartilhada aqui no blog e que tem sido, até mesmo, utilizada por técnicos interessados na questão) a partir de uma regressão polinomial para podermos calcular o quanto de água ainda restava disponível em cada uma das represas do Alto Tietê – considerando-se os dados atualizados a cada 10 minutos no Sistema de Alerta de Inundações, o SAISP. No Plano supramencionado, são indicados alguns pontos-chaves de cada um dos reservatórios (cotas mínimas operacionais, cotas máximas, valores intermediários e alguns valores abaixo dos mínimos, em alguns casos). Vale dizer que a precisão das informações é bem inferior ao observado para o Cantareira, já que neste caso um dos compromissos cobrados pela ANA, na Outorga de 2004, era justamente a atualização das curvas cota x volume de cada um dos reservatórios desse sistema.
No caso de Biritiba, sabemos que o mínimo operacional se encontrava na cota 752,5 metros, quando então a represa se encontraria, ainda, com 25,84 bilhões de litros. A cota mínima apresentada no Plano é a de 750 metros, quando então restariam 15,37 bilhões de litros de água. Vale dizer que, em Julho, o DAEE teria autorizado a SABESP a retirar 10 bilhões de litros desse reservatório. E, em novembro, quando observamos aquela subida repentina do nível do Alto Tietê de 6,5% para 8,9%, vimos a imprensa noticiar, sem qualquer juízo crítico, que as chuvas teriam sido responsáveis por tal elevação, em apenas um dia. Depois, contudo, o governo afirmou que 1,8 pontos percentuais dessa subida teriam se dado em razão da adição dessa nova parcela – o que configuraria, acima de tudo, uma falta informação, levando-se em conta que parte considerável dessa fatia já havia sido consumida. Mas boa parte da mídia se “esqueceu” de noticiar essa correção, ao ponto de, agora, ficar em dúvida sobre a existência, ou não, se um volume morto extraível no Alto Tietê.
E em que nível se encontra, afinal, a represa de Biritiba? Neste momento, ela se aproxima da impressionante cota 748. Para sabermos o quanto, em termos nominais, ainda resta de água, temos de voltar às equações. Descobrimos que o “zero absoluto” desse reservatório se encontra na cota 744. Pela análise dos dados, chegamos à conclusão de que sobram, neste momento, cerca de 9 bilhões de litros de água. Por dia, a represa “perde” mais de 400 milhões de litros, algo entre 15 e 20 cm. Obviamente, quanto mais fundo se vai, maior é a diminuição das cotas, já que as represas tendem a possuir o formato “funil”. E, quanto mais fundo se vai, mais difícil se é de extrair os volumes restantes. Não é um exagero, por exemplo, pensarmos que o último metro de água não possa ser retirado. E não é pessimismo, portanto, constatarmos que, na verdade, algo como apenas 7 bilhões de litros poderão ser transferidos de Biritiba. Isso dá não mais do que 18 dias. O curioso é que, portanto, a SABESP já retirou algo como 160% do volume morto autorizado para essa represa. Logo, ela não terá condições sequer de atender às especificações da outorga com relação às afluências para os rios a montante, de forma que se corre o risco premente de inviabilizar o abastecimento das cidades que captam a água dessa forma. E aí, nenhuma nota do DAEE a respeito, nenhuma cobrança pública da SABESP, nenhuma estratégia alternativa a ser implementada?
E o que acontece a partir daí? Simples. Biritiba é a “represa do meio”, unindo Ponte Nova e Paraitinga aos reservatórios de Jundiaí e Taiaçupeba. Ela é central, tanto de um ponto de vista geográfico como hidrológico. Com seu completo esvaziamento, ou é cessada a comunicação com as represas anteriores, ou, mais provável, passa-se a depender consideravelmente mais das contribuições dessas duas para que os 12 m³/s que precisam chegar até a população possam vir a ser produzidos. O problema é que a situação de todas as demais represas também é absolutamente crítica.
Paraitinga, por exemplo, está, em tese, com cerca de 22% de sua capacidade. Parece bastante, mas o seu comportamento ao longo dos últimos meses nos mostra que há dificuldades operacionais significativas para que seja possível transferir o pouco de água que resta. Pouco, sim, porque são apenas 8 bilhões de litros. Um agravante – que talvez explique a dificuldade do seu funcionamento por gravidade – é o de que ela, definitivamente, não possui volume morto. Logo, ela se encontra em uma situação de quase colapso.
Ponte Nova é o maior dos reservatórios do Sistema Alto Tietê. Em volume útil, possui 290 hm³ disponíveis, quase 58% do total da capacidade dessas 5 represas juntas. No momento, no entanto, ela está em situação incrivelmente dramática. Restam, acima do nível operacional, não mais do que 4 bilhões de litros, menos de 2% de seu nível máximo, e algo como 30 cm de água acima dos níveis mínimos. E, pelo menos desde Outubro, a SABESP vem dependendo quase que exclusivamente do volume morto de Biritiba e do volume operacional restante de Ponte Nova para manter funcional o Alto Tietê.   No Plano supracitado, é dito que, em tese, ainda existiriam cerca de 43 bilhões de litros de água situados abaixo da cota mínima (755 metros). No entanto, os estudos feitos pela SABESP, ainda em Julho deste ano, ponderavam que apenas os volumes mortos de Biritiba e da represa Jundiaí poderiam ser captados. Como Ponte Nova tem perdido cerca de 400 milhões de litros ao dia, não é pessimismo considerar, então, que em apenas 10 dias ela deixará de transferir água adequadamente. E o que ocorre a partir daí?
No final da tarde, por sinal, tivemos a notícia  de que Alckmin "já" pediu autorização para explorar o volume morto de Ponte Nova. Já? Mesmo? Quanta tempestividade. Se o DAEE autorizar amanhã, as obras ficarão prontas até que o volume útil se esgote (os 10 dias aventados acima)? Provavelmente, não, levando-se em conta que processos similares tomaram 2 meses da SABESP. E mesmo que fique, o que representam 40 bilhões de litros, se plenamente extraíveis, caso não chova? Um mês e meio, quem sabe? E depois?
Sobram, então, as represas Jundiaí e Taiaçupeba. Desde praticamente o mês de Julho, Jundiaí se encontra no mesmo nível crítico. Equilibrando-se em uma corda bamba, a SABESP tem buscado transferir a água de Biritiba até Jundiaí, e de Jundiaí até Taiaçupeba sem reduzir ainda mais o nível da segunda. E por que razão? Simples. Jundiaí não tem sequer 1 bilhão de litros de água acima do zero operacional. Sendo mais específico, são 7 cm de água, e nada mais. E, se levarmos em conta uma reportagem do G1 de Novembro, parece que a SABESP desistiu de buscar captar o volume morto dessa represa.
Talvez como parte desse contexto desesperador, a SABESP buscou preservar a represa de Taiaçupeba, a última por onde passa a água até chegar à estação de tratamento, de mesmo nome. Após ter chegado a ter menos de 6 bilhões de litros, hoje possui quase 10. Todavia, no caso de colapso total das demais represas, esse volume não duraria mais do que 12 dias. E, como vimos, o caos total, em breve, está absolutamente na ordem do dia. Se a medida mais efetiva do Governo Alckmin é o de contar com “as chuvas de Dezembro”, então logo passaremos a calcular o completo esgotamento do Alto Tietê em horas. E sem avisos governamentais com qualquer antecedência.
Alckmin parece ter tido aulas bastante tortuosas sobre o que é ser um estadista. Ou, pior, as aulas podem ter sido boas, mas ele não compreendeu o seu sentido. Em algum momento, entendeu e reproduziu a ideia de que enfrentar uma das situações mais complicadas da história paulista, a qual exigiria liderança, medidas drásticas e criatividade, na verdade seria lidada a partir de uma aparente tranquilidade - que expressa, na verdade, um terrível misto de apatia, provincianismo no tratamento do problema e pouquíssima abertura democrática. Pois essa postura de quem nega a gravidade das coisas e afirma estar no controle da situação, típica de heróis burlescos ficcionais, na realidade nos transmite a ideia de que ele possui um imenso desapreço pela cidadania diante dessa verve de que "a gestão é minha e eu só aviso o que estiver fazendo se os jornais pressionarem um pouco mais".
Longe de esboçar estadismo, Alckmin nos ensina sobre o que é o "populismo neoliberal": políticas públicas com transparência débil, parcas oportunidades de controle social, foco privatista, prioridade ao lucro mesmo nas emergências, discurso chocho, com sabor de chuchu. A fórmula, apesar de asséptica, é altamente populista, já que se volta meramente à sobrevivência política do mandatário. A novidade conceitual está em seu viés neoliberal, o qual busca criar uma "cola" direta entre governante e indivíduo (e não um corpo social), o que é viabilizado a partir da mítica retórica do bônus, que retoma o homus economicus dos velhos manuais de microeconomia. Todo esse caldo pode até funcionar, de um ponto de vista eleitoral, na tão conservadora São Paulo. Mas os resultados práticos desse modelo de gestão, a cada dia, vão nos mostrando o equívoco monumental que representam, na medida em que, reiteradamente, expressam a mais primária negação a respeito da profundidade - sem trocadilho - da tragédia hídrica vivida por São Paulo.
Curva Cota-Volume do Biritiba
Cota x Volume do Volume Morto do Biritiba
Comparação Julho/Dezembro
Níveis dos Reservatórios em %

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014



Facebook, o novo PiG.
(E maior !)

Quem disse que a tecnologia é neutra ?



O Conversa Afiada reproduz importante post de ​Luciano Martins Costa, a partir da Carta Maior:


O novo sistema de poder



O Facebook não tem obrigação de revelar como manipula o sistema de notícias e tem se tornado um novo sistema de poder sem controle social.


Luciano Martins Costa – Observatório da Imprensa


As empresas de jornalismo estão perdendo o controle do que é notícia. O domínio de empresas de tecnologia na produção e distribuição de conteúdo informativo e opinativo está criando uma nova esfera pública, cujos controladores não estão especialmente preocupados com transparência e ética.

Esse é o tema de publicações recentes sobre a maneira como a mídia tradicional ajuda, por omissão, a consolidar no mundo contemporâneo o poder quase absoluto dos tecnólogos que inundam o planeta com uma enxurrada ininterrupta de aplicativos cujas possibilidades as pessoas desconhecem. Uma das análises mais interessantes é feita por Emily Bell, diretora do Centro Tow de Jornalismo Digital, instituto de pesquisas da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, e foi considerada pelo Fórum Mundial de Editores como o mais importante texto sobre o futuro do jornalismo divulgado neste ano (ver aqui, em inglês, a versão editada para o Instituto Reuters, de Oxford, publicada na terça-feira, 2/12). Sua principal qualidade está em marcar o esvaziamento do poder do jornalismo em definir sua própria natureza.

Emily Bell observa que as principais decisões que impactam o espaço público da comunicação estão sendo tomadas por engenheiros que raramente pensam em jornalismo, em impacto social da informação ou na responsabilidade sobre como notícias são geradas e disseminadas. “Jornalismo e liberdade de expressão se agregaram como parte de uma esfera comercial onde as atividades de notícias e jornalismo se tornaram marginais”, alerta a pesquisadora.

Apontada como responsável pelo renascimento do grupo britânico Guardian, do qual foi diretora de conteúdo digital, ela lembra também que nenhuma das principais iniciativas tecnológicas que dominam o serviço de relacionamentos e interações entre pessoas foi criado ou pertence a empresas jornalísticas.

Como as plataformas de mediação social não estão interessadas em contratar jornalistas ou criar estruturas para a tomada de “decisões editoriais”, atividade altamente complexa e custosa – conclui –, o espaço público fica à mercê dos interesses do mercado de tecnologia.

Onde mora o perigo

Emily Bell comenta que o Facebook usa um conjunto de complicadas fórmulas para decidir como as notícias vão para o alto das páginas pessoais dos usuários; esses mecanismos não apenas determinam o que o indivíduo vai ver, mas também definem, pela constância do uso, o modelo de negócio das plataformas sociais. Esses algoritmos são secretos, não são alcançados pelas regulações que asseguram as liberdades básicas inerentes ao direito à livre informação e à privacidade e, pior, podem ser alterados sem aviso prévio.

A diretora do Centro Tow lembra que nenhuma outra plataforma na história do jornalismo criou tal concentração de poder, o que faz do jovem Gregory Marra um dos mais poderosos executivos do mundo. Ele é diretor de produto do sistema de notícias do Facebook e tem apenas 26 anos de idade. Recentemente, Marra repetiu no New York Times o refrão dos tecnólogos segundo o qual a tecnologia é neutra, porque não faz julgamento editorial sobre o conteúdo postado nas redes sociais. Pois é justamente aí que mora o perigo, diz Emily Bell.

Ainda que os engenheiros acreditem que não estão tomando decisões editoriais, é isso que fazem suas fórmulas matemáticas. Por exemplo, ela lembra, em junho deste ano pesquisadores registraram que o Facebook manipulou as fontes de notícias de 700 mil usuários para observar como diferentes tipos de informação poderiam afetar o humor das pessoas. A resposta: boas notícias deixas as pessoas mais felizes. A questão dos pesquisadores: como o Facebook ousa brincar, literalmente, com as emoções das pessoas?

Em 2010, a rede social fez outra experiência, para verificar como a inserção de notícias sobre eleição estimula pessoas a votar no sistema americano de voto facultativo. Um professor de Harvard pondera que o mesmo recurso pode convencer milhões de eleitores, por exemplo, a escolher determinado candidato.

Emily Bell conclui o artigo alertando que o Facebook não tem obrigação de revelar como manipula o sistema de notícias. Ela afirma também que a imprensa tradicional deveria parar de se deslumbrar com as filas para comprar o novo iPhone e olhar mais para a tecnologia como um novo sistema de poder sem controle social.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014



O esforço dos meios de comunicação para encontrar  — de qualquer maneira — uma ligação da campanha de Dilma Rousseff com os recursos da operação Lava Jato superou um novo limite na fronteira que separa a boa fé da manipulação mais descarada.
Tenta-se, agora, aproximar a delação premiada do executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo Setal, da campanha presidencial de Dilma em 2010. Todos os jornais destacaram que parte da propina paga para o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque eram “doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”.
O que se esconde é um aspecto essencial. Mendonça Neto esclareceu no depoimento que não havia informado ao PT do motivo das doações.
É verdade que o executivo admitiu  ter mantido em 2008 uma reunião com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, na sede do diretório estadual do PT em São Paulo, quando disse que “gostaria de fazer contribuições” ao partido. Mas Mendonça Neto também disse no depoimento que “não mencionou a Vaccari que as doações seriam feitas a pedido de Renato Duque” e que seriam fruto de propina.
Vaccari então  orientou o executivo como doar de forma legal. Ou seja, o PT aceitou a doação na forma da lei. Está lá, entre aspas, na página 8 do depoimento de Mendonça Neto.
Este é o ponto espantoso. A divulgação seletiva de informações, de modo a atingir adversários e proteger aliados é uma tradição de nossos jornais e revistas. Mas raras vezes se fez isso de forma tão descarada, sem o cuidado sequer de manter as aparências. Vamos combinar que quem é capaz de vazar informações prestadas de caráter confidencial, como consta do documento, deveria, pelo menos, cumprir o dever de prestar um relato fiel daquilo que se disse a Justiça. Afinal, o que se quer é elevar o padrão ético de nossas práticas políticas e econômicas, correto? Ou não?
Outro aspecto é que os jornais preferiram confundir seus leitores ao repercutir a acusação de Aécio Neves que a doação legal ao PT em 2010 poderia tornar “ilegítima” o governo de Dilma Rousseff. No depoimento à Justiça do Paraná, Mendonça disse que as empresas Setec Tecnologia, PEM Engenharia e a SOG Óleo e Gás doaram legalmente R$ 4 milhões ao PT. Não existe nenhuma prova de que esse dinheiro tenha sido usado pela campanha de Dilma porque a legislação eleitoral da época não exigia a identificação da origem dos recursos transferidos entre partido e campanha, a chamada “doação oculta”. Isso só passou a ser obrigatório em 2014.
Com essa obrigatoriedade, sabe-se hoje que seis construtoras ligadas à Lava-Jato e com obras nos governos tucanos de Minas (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão) doaram R$ 34,17 milhões à campanha de Aécio Neves.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

SOBRAL: E MAIS UM BISPO É TRANSFERIDO DE SOBRAL, SERÁ QUE EXISTE ALGUMA RELAÇÃO COM O CASO IVÁ MONTEIRO?

 

EX-SUPERINTENDENTE DA SANTA CASA IVÁ MONTEIRO IRÁ DEPOR NA PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SOBRAL



O ex-superintendente da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, Ivá Monteiro, estará na Princesa do Noroeste nesta sexta-feira(21/11), para dar seu depoimento na Procuradoria da República, sobre o que sabe dos desvios de cerca de R$ 15 milhões dos cofres do hospital. Ivá Monteiro, considerado um homem “bomba”, chegou inclusive no plenário da Câmara de Sobral, a levar os nomes dos que roubaram a Santa Casa, afirmando que se tratava de dois médicos, um casal de advogados e um contador. Só não divulgaria os nomes porque não tinha imunidade parlamentar, mais os edis que quisessem divulgar, ficassem a vontade. Nenhum vereador quis arriscar a ler os nomes dos acusados pelo Ivá Monteiro.
fonte: politica em evidencia -Marcelo Marques

Bispo Dom Odelir José Magri será transferido de Sobral para Chapecó

A data da posse do Bispo em Florianópolis será divulgada posteriormente. Diocese de Sobral fica provisoriamente vacante - sem ninguém
notícia 0 comentários
divulgação diocese
data da posse será divulgada posteriormente
Compartilhar
Dom Odelir José Magri, 6° Bispo de Sobral, 250,3 km de Fortaleza, será transferido para Chapecó, em Florianópolis. A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 3, em informe do Vaticano. Ainda não há previsão sobre quem irá ocupar a vaga de Dom Odelir, segundo a direção da Diocese de Sobral.

Dom Odelir José Magri nasceu em 18 de abril de 1963, na cidade de Campo Erê, em Santa Catarina. Ele iniciou a profissão religiosa na Congregação dos Combonianos e recebeu a ordenação em 18 de outubro de 1992.

Segundo a Diocese de Sobral, entre 1992 e 1996, Dom Odelir atuou no Congo e  desde 2003 é assistente-geral da Congregação em Roma; desde 2009, ele atua como vigário-geral dos Combonianos.

A transferência de Odelir pegou de surpresa a direção da Diocese de Sobral, que informou ainda que a data da posse do Bispo em Florianópolis será divulgada posteriormente.
Outras transferências
O Vaticano também deliberou outras duas transferências de Bispos do Brasil. O Bispo de São Mateus (ES),  Dom Zanoni Demettino Castro, assume como Arcebispo Coadjutor da Arquidiocese de Feira de Santana (BA). A Diocese de Luziânia (GO) terá como novo Bispo Coadjutor  Dom Waldemar Passini Dalbello, até então Auxiliar de Goiânia (GO).
FONTE: OPOVO

quinta-feira, 27 de novembro de 2014


Miriam Leitão “urubuza” seca até debaixo d´água

 Autor: Fernando Brito
urubologa
Hoje, em sua coluna em O Globo, a profetisa do caos elétrico, Miriam Leitão reclama assim da “ameaça de apagão”:
Ontem mesmo o ONS divulgou que o nível dos reservatórios do Sudeste caiu para 15,26%, o percentual mais baixo desde 2000 para meses de novembro. Até mesmo no ano do apagão, 2001, a taxa era maior do que agora, de 23,04%. É verdade que ainda pode se torcer para chover muito até o final do mês, mas nem mesmo o Operador Nacional do Sistema Elétrico acredita que isso vai acontecer. Na semana passada, o ONS reduziu a estimativa do nível dos reservatórios para 14,9% no final do mês. No Nordeste, chegará ao fim do mês em 12,6%. No mesmo período do ano passado, o nível do Sudeste era de 41% e no Nordeste, 22,19%.
O ONS, Míriam, faz sempre cálculos conservadores, como é do seu dever fazer.
Não pode contar com a chuva no…na nuvem.
Mas você poderia consultar os sites do tempo.
E vai ver que a região Sudeste, especialmente aquela onde se localizam as represas, está debaixo de temporais.
Liga para alguém em Belo Horizonte que te informam.
Ou então, se quiser ser mais “científica”, consulte as páginas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e veja os dados que são colhidos diariamente das estações meteorológicas.
Você vai ver como está chovendo a cântaros nas cabeceiras do São Francisco, do Paranaíba, e em trechos do Rio Grande e do Paranapanema,  com registros que vão de 30 a quase 100 milímetros em 24 horas.
Mas isso não é que nem encher banheira, Miriam, que abre a torneira do céu e a água começa a subir na mesma hora e daí a alguns minutos está cheia.
Primeiro tem de encharcar o chão, encher os córregos, daí os ribeirões, os rios e, finalmente, água na represa.  Que, no caso de algumas delas, são maiores que a Baía da Guanabara.
E mesmo aí, muitas vezes, não sobe de imediato, porque tem de soltar água, às vezes, para ajudar outras represas mais adiante, em situação difícil.
Nestas coisas, cara agourenta, não se pode fazer afirmações olhando um dia, nem  mesmo uma semana.
É devagar, devagarinho.
Tanto que não encho a paciência dos meus raros e caros leitores com qualquer 0,1% que caia o cantareira, porque sei que o problema não destes dias, mas de como será a estação seca do ano que vem.
Porque, se a temporada de chuvas de verão ocorrer normalmente, como todos os meteorologistas concordam, os reservatórios ganharão de 20 a 25% de sua capacidade, no mínimo.
Isso, no caso das represas das hidrelétricas, repete em 2015 o quadro desta época em 2014. Ruim, mas não o desastre.
Muito melhor que no caso de São Paulo, que tem hoje  menos 20%, fica com zero.
Sem terrorismo. E sem defender, como se faz na sua coluna, mais ganhos para as empresas elétricas, sob a alegação de que quem paga é o consumidor.
Porque é o consumidor que sempre paga.

“Oh, happy day”:
a festa da Sabesp em Nova York

Enquanto isso, falta água em São Paulo …
O Conversa Afiada reproduz vídeo e texto extraídos do Diário do Centro do Mundo:

“Oh, happy day”: a festa da Sabesp em Nova York e a falta de água em São Paulo


Circula na Internet um vídeo do final de 2012 em que a cúpula da Sabesp e mais alguns membros do governo de São Paulo comemoram os dez anos da empresa na Bolsa de Nova York. Dê uma olhada:



À luz da falta de água no estado, as imagens são uma piada de mau gosto — uma schadenfreud com os paulistas. Num clima triunfal, vê-se um congraçamento bonito em grandes mesas com brindes generosos de champanhe. “Oh, happy days”, canta o hino  gospel.


A abertura de capital avolumou as receitas da companhia. De 2002 a 2012, as ações em Nova York registraram valorização de 601% e seu valor de mercado triplicou, passando de 6 bilhões para 17 bilhões de reais. Atualmente, a companhia vale 13 bilhões.


Hoje, o Sistema Cantareira voltou a bater um recorde negativo, chegando a 3% de sua capacidade. A segunda cota do volume morto está sendo utilizada. Como avisamos no DCM, o prejuízo para a saúde causado pela presença de poluentes ainda é uma incógnita.


Não é a única incógnita nessa história. É de amplo conhecimento que a Sabesp e o governo Alckmin não alertaram os consumidores dos problemas. Até pouco depois das eleições, Alckmin insistia que não havia “racionamento”, numa negação malufística.


Não foi por falta de dinheiro que não foram feitas as obras necessárias desde 2004, quando se recomendou um aumento da oferta hídrica para a região metropolitana de SP. Isso atenderia o aumento populacional e reduziria a dependência do Cantareira, segundo um inquérito civil instaurado para acompanhar a renovação da outorga.


Durante o oba oba nos EUA, a presidente Dilma Pena já tinha informações de que a situação não era das melhores. Desde então, ela já foi flagrada dizendo que não orientou a população a economizar por “orientação superior”, Alckmin foi passar o chapéu em Brasília, a falta d’água é uma realidade cotidiana — e em 2015 as perspectivas são as piores possíveis.


Mas, naquele dia em Nova York, eles nunca foram tão felizes.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Petrobras foi roubada por políticos de todos os partidos que por lá passaram


EUA NAO TEM SUS, CANADENSE DESCOBRIU DA PIOR MANEIRA

Turista recebe conta após dar à luz nos EUA: R$ 2,4 milhões

Jennifer e Reece, o bebê de R$ 2,4 milhões - Reprodução/Facebook(Jennifer Huculak)
Grávida de 7 meses, a canadense Jennifer Huculak-Kimmel estava passando férias no Havaí (EUA), em novembro de 2013. Só que a bolsa estourou no segundo dia em solo havaiano, fazendo com que médicos realizassem um parto prematuro.

O bebê de Jennifer ficou hospitalizado por dois meses. A família havia tentado uma transferência da pequena Reece para o Canadá, mas a iniciativa não obteve apoio dos médicos e de uma empresa que transporta pacientes por via aérea, segundo reportagem do "Daily Mirror".

Resultado: Jennifer está praticamente com falência decretada. A conta do hospital ficou em nada menos que R$ 2,4 milhões!

O plano de saúde da família - o Blue Cross - está se recusando a pagar a conta. A empresa alegou que uma "condição pré-existente" a liberar de arcar com as despesas. A companhia afirmou, ainda, que a cobertura dada a Jennifer não se estende ao bebê.
Jennifer disse ter falado com o seu médico particular e com a Blue Cross e garante ter recebido aval para viajar.

"A Blue Cross disse que, por eu ter tido infecção urinária e hemorragia no quarto mês, ela não cobriria a minha gravidez. Pensamos ter feito tudo certo e achamos estar cobertos e seguros para viajar", disse a canadense, segundo o "Mirror".
Após longa negociação infrutífera, o casal, morador de Saskatchewan (Canadá), deve apelar à Justiça.
fonte OGLOBO

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A cronologia do colapso da USP

A cronologia do colapso da USP
Como o ex-reitor João Grandino Rodas, indicado pelo então governador José Serra, arruinou as contas da Universidade de São Paulo, que perdeu o posto de melhor universidade da América Latina e vive às voltas com uma greve que já dura três meses
Por Igor Carvalho
Em 2014, a Universidade de São Paulo (USP) enfrenta aquela que pode ser considerada a maior crise financeira de sua história. O atual momento decorre de diversos erros cometidos por gestões anteriores, mas guarda relação íntima com o período em que o ex-reitor João Grandino Rodas (2010-2013), indicado por José Serra mesmo tendo sido derrotado no processo de escolha interna, esteve à frente da universidade.
Para tentar conter a crise, a USP anunciou o congelamento dos salários de professores e funcionários em maio deste ano. Como resposta, os servidores, docentes e alunos entraram em uma greve que já dura três meses. Se a USP mantiver o ritmo de gastos da administração anterior, de acordo com a atual reitoria, esgotaria sua reserva de caixa – que já foi de R$ 3,5 bilhões antes do início da gestão Rodas – em um ano e meio. O pagamento de servidores e professores alcança, hoje, 105% do orçamento da USP.
José Serra foi responsável pela nomeação de João Grandino Rodas (Foto: Governo de São Paulo)
José Serra foi responsável pela nomeação de João Grandino Rodas (Foto: Governo de São Paulo)
A gênese de uma crise
Em seu discurso, quando assumiu a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) no dia 25 de janeiro de 2010, João Grandino Rodas mostrou que conhecia os problemas apontados pela comunidade universitária. Mencionou à época a participação política da comunidade universitária e a violência policial entre seus temas prioritários.
“Grandes problemas da universidade, muitas vezes, considerados tabus, serão colocados em discussão: desde a questão da abertura do Conselho Universitário para que a representação seja mais ampla, até o maior diálogo que possibilite sair do círculo vicioso que, muitas vezes, a universidade se encontra”, afirmou durante cerimônia luxuosa realizada na Sala São Paulo.
Em outro momento, Rodas criticou a violência policial que marcou a gestão de sua antecessora, Suely Vilela, de acordo com ele utilizada “de maneira corriqueira”, prometendo que providências seriam tomadas e o “diálogo aberto” seria frequente na universidade.
Rodas não parecia, desde o princípio, a pessoa mais indicada para refletir sobre violência policial. Quando era diretor da Faculdade de Direito requisitou, pela primeira vez na história, a presença da Polícia Militar no Largo São Francisco em agosto de 2007, para expulsar manifestantes que integravam a Jornada em Defesa da Educação.
Enquanto discursava, do lado de fora da Sala São Paulo estudantes gritavam contra sua nomeação. Isso porque a indicação do ex-diretor da Faculdade de Direito foi tida por muitos como mais uma ingerência autoritária dos governos tucanos na USP. Em 2009, Rodas foi o segundo mais votado em uma lista tríplice apresentada ao então governador José Serra (PSDB). Para surpresa de toda a comunidade acadêmica, o tucano indicou seu amigo João Grandino Rodas como reitor, apesar da derrota nas urnas. Somente em 1969, durante a gestão do governador biônico Paulo Maluf, o reitor escolhido havia perdido o pleito e sido imposto à universidade.
Política salarial
Com pouco mais de quatro meses à frente da USP, João Grandino Rodas já dava o tom do que seria sua gestão, com medidas autoritárias e tentativa de desmobilizar os trabalhadores. Em maio, unilateralmente, Rodas decidiu promover a quebra da isonomia salarial entre professores e funcionários, algo inédito. Docentes receberam um reajuste salarial de 6%, mas o mesmo não ocorreu com os demais servidores, que decidiram parar pela primeira vez.
Ao perceber a articulação dos trabalhadores, Rodas mudou de atitude e passou a investir em salários e contratações. Na greve de 2010, por exemplo, o reitor ofereceu reajuste de 17,50% no Auxílio Alimentação, superior ao índice do Dieese que era de 15,85%, referente à cesta-básica em São Paulo. À época, em entrevista ao Jornal do Campus, da USP, Magno Carvalho, liderança do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), não via com bons olhos a atitude da Reitoria. “O reitor está subestimando o movimento e tentando comprar a nossa greve”. Ainda hoje, a medida é criticada pela categoria.
“O Rodas durante toda sua gestão tentou sequestrar nossas convicções com aumentos e bonificações que não eram negociados conosco e, por isso, nunca atingiam nossas expectativas”, afirma Anibal Cavali, diretor do Sintusp. No final de 2011, ano sem greve na universidade, Rodas anunciou um prêmio de R$ 3,5 mil para funcionários e professores. Segundo a Reitoria, a compensação financeira se referia a um avanço da USP em rankings internacionais.
A reação dos sindicatos foi imediata. O Sintusp soltou uma nota criticando a medida e lembrando que em outros anos que a universidade cresceu em rankings não houve premiação. Já a Associação dos Docentes da USP (Adusp) afirmou que a medida vinha em um momento de desgaste da imagem do reitor. “Será que a grande diferença se deve à avaliação da Reitoria quanto ao ‘bom comportamento’ de docentes e funcionários que, no corrente ano, não lançaram mão do direito de greve?”, questionou a entidade.
Dados da Vice-Reitoria Executiva de Administração mostram que quando Rodas assumiu a Reitoria, em 2010, a USP gastava 79,3% do seu orçamento com folha de pagamento. Esse índice cresceu todos os anos da sua gestão. Em 2011, subiu para 82,3%; em 2012, o maior avanço, um salto para 95,6%; no ano de 2013, chega aos 99,9%. Em julho de 2014, a USP anunciou que estava gastando 105,02% do seu orçamento com funcionários e professores. A crise, prevista em janeiro de 2013 pela própria universidade, se tornou real.
Durante os quatro anos em que administrou a universidade, Rodas contratou aproximadamente três mil novos funcionários e 400 professores, segundo a USP. Somente em bonificações, a instituição gastou R$ 40 milhões em 2013. O Sintusp entende que a leitura da crise, de uma perspectiva do inchaço do funcionalismo na instituição é “simplista”. “A gestão do Rodas ficou marcada por um gasto exorbitante em obras que a universidade não precisava, que não eram prioritárias, enquanto outras, mais urgentes, como a reforma do prédio da FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo] não foram feitas. Além disso, a universidade se expandiu, temos mais campus hoje, mas o repasse de verba não aumenta e nem a reitoria cobra o governo de São Paulo para que ele seja maior”, argumenta Cavali.
Segundo o sindicato, a USP possui, hoje, quase o mesmo número de funcionários que possuía 25 anos atrás. Em 1989, eram 17.735 pessoas trabalhando na universidade, contra 17.451 neste ano. “Ou seja, você expande fisicamente, mas mantém a mesma estrutura de trabalhadores. O erro não está, portanto, no gasto com a folha de pagamento.”
Em artigo publicado no último dia 18, o professor de História da USP, Sean Purdy, confirma o crescimento físico da universidade paulista. “Segundo os dados do Anuário Estatísticas da USP, entre 1995 e 2012, na graduação, o número de cursos aumentou em 88.6% e em pós graduação em 34,6%. Nesse mesmo período, o número de alunos de graduação aumentou em 77,6% enquanto alunos de pós-graduação cresceram 102,3%. Mas o número de docentes aumentou somente 15,9% e os funcionários em 11,5%”, afirma o historiador.
Segundo Purdy, a USP não pediu aumento das verbas do Estado e prefere “manipular dados para enfraquecer a universidade púbica através de cortes drásticos aos funcionários, docentes e programas de pesquisa e bolsas para alunos”. A mesma medida é cobrada por Cavali. “O reitor não cobra e não cobrará o governador de São Paulo publicamente em um ano eleitoral, mas o que a USP precisa é de mais verbas e não arrocho salarial ou demissões voluntárias”, afirma.
Purdy ainda compara a relação de professores para alunos com outras universidades conceituadas no mundo. A universidade paulista possui, segundo a reitoria, 15,5 estudantes para 1 docente. “Em 2012/2013, na Oxford, houve 4,92 alunos por funcionário e 4,3 alunos por professor. Na Cambridge, 4,4 alunos por funcionário e 3,9 alunos por professor. No Imperial College, 3,4 alunos por funcionário e 3,8 alunos por professor. Finalmente, no University College de Londres havia 3,8 alunos por funcionário e 5,5 alunos por professor. Portanto, todas essas universidades tinham mais funcionários por aluno do que a USP, e bem menos alunos por professor”, escreveu.
O orçamento da USP é abastecido com 5% da arrecadação do estado de São Paulo, anualmente, com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em 2014, esse valor será de R$ 5 bilhões.
INFO2 (3)
(Arte: Felipe Tornieri)
Reitor ou Faraó?
Aquisições de equipamentos feitas por Rodas também são criticadas na comunidade acadêmica. Um navio oceanógrafo foi comprado por R$ 11 milhões, exigindo um gasto fixo mensal de R$ 250 mli. Porém, o barco está encostado no porto de Santos, sem qualquer utilidade. Escritórios da universidade foram montados por Rodas em março de 2013 nas cidades de Boston, Cingapura e Londres, sem qualquer consulta aos órgãos internos da universidade. O custo mensal para manutenção desses espaços é de R$ 400 mil.
A universidade, na gestão de Rodas, comprou imóveis na região central da cidade de São Paulo, dois prédios e um terreno. Gastou-se na empreitada R$ 35 milhões. A disposição do ex-reitor em construir e reformar representaram um salto no orçamento de 3%, em 2009, para 8% em 2013, somente com obras, saindo de R$ 370 milhões para R$ 1 bilhão. Entre as mais decantadas e suntuosas empreitadas estão o Anfiteatro para mil pessoas e a nova sede da reitoria.
Nova reitoria
Marco Antonio Zago assumiu a USP no dia 25 de janeiro de 2014. O novo reitor reconheceu o prejuízo e a crise., porém, para combatê-la, anunciou o congelamento de salários e um plano de demissão voluntária de três mil funcionários. A nova direção também cortou em 30% a verba para pesquisas.
A reserva de caixa da USP, que já foi de R$ 3,5 bilhões no começo da gestão Rodas, agora está em pouco mais de R$ 1 bilhão. O déficit nos últimos dois anos foi de R$ 1,57 bilhões, segundo o novo reitor. Professores foram ouvidos por Fórum para que opinassem sobre a atual crise enfrentada por aquela que já foi considerada, antes da gestão de João Grandino Rodas, como a melhor universidade da América Latina. Confira abaixo as avaliações:
Henrique Carneiro
(História)

“Rodas é o grande responsável, embora não o único. A gestão dele foi absolutamente temerária e eu ficava bastante surpreso, durante a sua gestão, ao ver o número de obras na USP. As informações que eu tinha davam conta da abertura de escritórios da USP em Cingapura, Londres e outros lugares. Olha, ou a USP estava nadando em dinheiro ou a administração era equivocada. Depois de Rodas, sem dúvida, o principal responsável é quem o colocou lá. Não fomos nós da comunidade universitária que empossamos o Rodas, foi o José Serra, que tinha afinidade política e ideológica com ele.”
Jorge Luiz Souto Maior
(Direito)

“Acho que a crise atual faz parte de um projeto de sucateamento da universidade pública, na perspectiva da privatização da universidades, que foi iniciado pelo Rodas, com os gastos excessivos e os desvios de gastos que geraram essa crise. O reitor atual usa e usará essa crise como argumento para dar prosseguimento no projeto de privatização da USP.”
Dennis Oliveira
(Jornalismo)

“Em grande parte, a culpa pela crise é do Rodas, mas é uma crise da estrutura da universidade, da concepção que o governo de São Paulo tem da gestão da educação. O Rodas e o Zago, assim como um setor da sociedade, força esse discurso de buscar fontes de financiamento na iniciativa privada e cobrar mensalidades nos cursos, isso é uma privatização disfarçada.
Internamente, o mecanismo de gestão não é democrático. O fato do reitor ainda ser indicado e não eleito, um conselho universitário que não reflete a composição da universidade são exemplos de uma gestão pouco democrática que é sustentada há 20 anos pelo PSDB.”
Laurindo Leal Filho
(Jornalismo)

“O Rodas é 100% responsável por essa crise. A atual reitoria, inclusive, embora queira posar de oposição, estava na gestão anterior. Foi um descalabro administrativo que nos levou ao ponto em que estamos. A USP é imune Pa participação da comunidade. É uma reitoria monárquica, que mantém um esquema de feudalização da Universidade. A forma como se gere os recursos não é transparente e obedece demandas que atendem o governo do Estado e o partido que o comanda. Foi uma gestão faraônica, com obras que não era prioritárias para a universidade. Porém, o responsável último é a chefia política que escolhe a reitoria. Então, essa responsabilidade da crise é estendida ao José Serra.”
Pablo Ortellado
(Gestão de políticas públicas)

“Rodas é o principal responsável pela crise. Ele aumentou consistentemente os gastos num momento de abundância, embora alertado pela Associação dos Docentes e pela representação dos professores e dos estudantes que os gastos estavam descontrolados e atravessados por manobras contáveis. Além do mais, o candidato dele para sucedê-lo como reitor prometia ainda mais ampliação de gastos na disputa eleitoral. Há, assim, fundada suspeita de que esse desequilíbrio orçamentário foi provocado por ele para criar a oportunidade de impor à universidade a agenda de profundas reformas liberalizantes.”

Boris Fausto é um dos maiores salários da USP: 45 mil reais; FHC recebe 22 mil


Boris Fausto é um dos maiores salários da USP: 45 mil reais; FHC recebe 22 mil
Após a crise, universidade foi obrigada a divulgar os salários dos professores; para sindicalistas, obras desnecessárias levaram a universidade ao atual colapso financeiro
Por Redação

A Universidade de São Paulo (USP) foi obrigada, a partir de uma ação do Tribunal de Justiça, a divulgar os salários de professores e alunos. A ação do Tribunal, argumentou que “ocultar os ganhos de seus profissionais viola os princípios de transparência e publicidade previstos na Constituição”.
O jornal Folha de São Paulo organizou uma ferramenta de busca que permite localizar o professor desejado e verificar quanto recebe. Entre eles, há nomes bem conhecidos, como Boris Fausto, historiador e cientista político, que recebe da universidade R$ 45 mil reais. Na lista, também configura o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com salário de R4 22 mil. Outro nome popular, pelo menos da área econômica, é o Antonio Delfim Neto, com vencimentos de R$ 28. 260 mil.
Desde que se tornou público que as contas da Universidade de São Paulo iam fechar no vermelho o ano de 2014, vários motivos foram levantados: a gestão do reitor João Grandino Rodas (2010-2014), que foi escolhido pelo então governador de São Paulo José Serra (PSDB), é acusada de ter investido em obras faraônicas consideradas “desnecessárias” que levaram a universidade paulista ao colapso financeiro em que se encontra.
O novo reitor, Marco Antonio Zago, que tomou posse este ano, já reconheceu a crise e, para combate-la, como temiam os funcionários da USP, anunciou congelamento de salários e um plano de demissão voluntária de três mil funcionários. A verba para pesquisa também foi cortada em 30%.
Aqui você pode conferir um cronograma histórico da pior crise enfrentada pela Universidade de São Paulo.
Foto: Pragmatismo Político

Decisão sobre recursos do governo federal para crise hídrica de SP sai na próxima semana

Ministra afirma que apoio pode não compreender todas as obras solicitadas, mas a presidenta Dilma está empenhada em ajudar a solucionar crise que atinge o estado
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 17/11/2014 19:47
Comments
wilson dias/abr
miriam belchior
Miriam Belchior: "Estamos discutindo apenas onde é mais adequado o governo federal entrar"
Brasília – Depois de uma reunião a portas fechadas que durou toda a tarde, no Ministério do Planejamento, representantes do Executivo federal e do governo de São Paulo chegaram a pontos comuns sobre as obras a serem tocadas para ajudar a enfrentar a crise de abastecimento no estado. Segundo a ministra Miriam Belchior, do Planejamento, os projetos apresentados não apresentam impacto do ponto de vista ambiental, e na próxima semana já será possível o governo federal definir quais serão viáveis, bem como a forma de repasse de recursos.
A reunião teve a participação, além de Miriam Belchior, da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional de São Paulo, Júlio Semeghini, e de técnicos dos governos federal e paulista.
A ministra Miriam Belchior disse que, a princípio, a decisão será parcial, pois não poderá englobar todas as oito obras hídricas propostas na última semana pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à presidenta Dilma Rousseff, mas ajudarão a combater o problema. Miriam enfatizou que “a presidenta está empenhada e com boa vontade em ajudar o governo de São Paulo”. “Estamos discutindo apenas onde é mais adequado o governo federal entrar, mas isso será definido até a próxima semana”, destacou.

Impacto ambiental

Na reunião, foram apresentados detalhamentos dos oito projetos propostos pelo governo paulista, que serão analisados pelos técnicos dos dois ministérios nos próximos dias. Na quinta-feira (20), uma nova reunião acertará os ajustes a serem considerados necessários. Esta segunda reunião terá a participação, também, de técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesp), que vão falar sobre o impacto ambiental de cada obra.
Já se sabe, entretanto, que os projetos não apresentam riscos do ponto de vista ambiental, mas existe a questão do desmatamento da Mata Atlântica a ser resolvido, conforme explicou a ministra Izabella Teixeira. “A legislação ambiental permite a supressão de vegetação para obras de utilidade pública com posterior recuperação da área, mas precisamos acertar isso”, disse.
Na prática, a reunião teve um clima positivo, como contou o secretário do governo paulista. Júlio Semeghini afirmou que está otimista com a parceria nas duas esferas e que segundo a equipe do governo federal, os projetos atendem ao que pedem os ministérios.

Lista de obras

As obras que estão sendo objeto de apoio por parte do governo federal pelo estado de São Paulo para ser executadas são a interligação dos reservatórios Atibainha e Jaguari, a construção de dois reservatórios em Campinas, a adução dos reservatórios e a construção de Estação de Produção de Água de Reúso (Epar) no sul de São Paulo e em Barueri.
Além destas, também fazem parte da lista a interligação do rio Jaguari com o Atibaia, interligação do Rio Grande com o rio Guarapiranga; e a abertura de poços artesianos no Aquífero Guarani. O valor total das oito obras é de R$ 3,5 bilhões e os recursos podem sair de financiamentos ou de recursos do Orçamento Geral da União.
O grande problema em relação à resolução da crise imediata é o caráter de longo prazo destas construções, cujo período de conclusão vai de 12 a 30 meses. Parte do montante, no entanto, já está sendo viabilizada pelo governo federal, por meio da construção do sistema São Lourenço, projeto que foi apresentado pelo Palácio dos Bandeirantes antes das eleições.