segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Entrevista de Lula: “Eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma”


      O homem de 58 milhões de votos

 Lula disse em entrevista que  estar disposto a percorrer o país fazendo campanha para Dilma e avalia que a prorrogação do julgamento do mensalão não atrapalhará o PT em 2014. Ele revela em detalhes a dificuldade de desencarnar do cargo e, pela primeira vez, comenta a investigação envolvendo Rosemary Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo
Entrevista - Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo - A casa discreta no tradicional bairro do Ipiranga em nada lembra os palácios de Brasília, mas seu principal inquilino ali trabalha cerca de 10 horas por dia, com a mesma disposição que, nos oito anos em que governou o Brasil, extenuava auxiliares - hoje reduzidos a uma pequena equipe.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levanta-se em São Bernardo do Campo às 6h, faz duas horas de exercícios físicos, toma café e chega ao instituto que leva seu nome por volta das 9h, raramente saindo antes das 20h. Recebe políticos, empresários, sindicalistas, intelectuais, agentes sociais e personalidades em busca de seu apoio a uma causa ou um projeto. Quase três anos após deixar a Presidência e depois da vitória contra o câncer, Lula declara-se completamente "desencarnado" do cargo e com a saúde restaurada, o que a voz, agora limpa das sequelas do tratamento, confirma. 


Por telefone, ele é alcançado também por interlocutores de diferentes países, com convites para viagens e palestras no Brasil e no exterior. No ano que vem, o ritmo vai cair, para ele ajudar, "como puder", na campanha da sucessora Dilma Rousseff pela reeleição. "Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste", disse o ex-presidente.
Nas instalações simples da casa no Ipiranga, o que denuncia o inquilino são as fotografias nas paredes, de momentos especiais da Presidência, selecionadas pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que continua a seu lado, assim como os assessores Clara Ant, Luiz Dulci e Paulo Okamoto. Na sala de trabalho, em vez das cigarrilhas, chicletes sabor canela. Foi lá que, na última quinta-feira, Lula recebeu o Correio para uma entrevista de duas horas em que não parou de falar: da vida no poder e fora dele, da disputa eleitoral do ano que vem, passando por espionagem, Mais Médicos, mensalão e novos partidos.
Lula também falou, pela primeira vez, sobre a Operação Porto Seguro - a investigação da Polícia Federal que revelou esquema de favorecimentos em altos cargos do governo federal e provocou a demissão de Rosemary Noronha, a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo. E disse ter saudades de Brasília: "O nascer e o pôr do sol no Alvorada são inesquecíveis".
Considerado um eleitor de 58 milhões de votos por conta do total de apoios conquistados na última eleição que disputou, em 2006, Lula confessou, sem dissimulação, que deixar o poder foi "como se me tivessem desligado da tomada". E que não é fácil aprender a ser ex-presidente. Para evitar a tentação de dar palpites sobre o novo governo, disse que decidiu visitar 32 países nos 10 primeiros meses de 2011, até que o câncer foi descoberto, no dia de seu aniversário, 27 de outubro.
Vencido o calvário do tratamento, ele voltou à rotina no instituto, vacinou-se contra o "Volta Lula", antecipando o lançamento da candidatura Dilma, e agora se prepara para mais uma campanha eleitoral. Ele acha que a presidente será reeleita, lamenta o desenlace da aliança com Eduardo Campos (PSB), embora reconheça as qualidades do governador de Pernambuco para a disputa, evita especular sobre o destino dos votos de Marina Silva, caso ela saia da corrida, e parece revelar preferência por José Serra como adversário tucano, ao dizer que o PSDB terá mais trabalho para tornar Aécio Neves conhecido. Uma contradição com o que ele mesmo fez, ao lançar uma também desconhecida Dilma como candidata em 2010. Uma coisa é certa. "Desencarnado" e em plena forma, Lula será um "grande eleitor" em 2014. Leia a entrevista ao jornal Correio Braziliense
Deixar de ser presidente trouxe alívio ou pesar?
Lula: Não é fácil falar sobre isso. Eu achava que seria simples deixar a Presidência. O (João) Figueiredo, que saiu pela porta dos fundos, até pediu para ser esquecido. Quando a pessoa não sai bem, quer esquecer mesmo. Mas eu saí no momento mais auspicioso da vida de um governante. Eu brincava com o Franklin (Martins, ex-secretário de Comunicação Social): se eu ficar mais alguns meses, vou ultrapassar os 100% de aprovação. Foi como se me desligassem de uma tomada. Num dia você é rei, no outro dia não é nada. Depois de entregar o cargo, cheguei a São Bernardo e havia um comício, organizado por amigos e pessoas do sindicato. O (José) Sarney me acompanhou. Antes, visitei Zé Alencar, choramos juntos. Eu fiquei danado porque achava que ele devia ter ido à posse e subido a rampa de maca, mas os médicos não deixaram. Participei do comício e quando deu 11 horas da noite subi para o apartamento. Ao me despedir dos que trabalharam na segurança e voltariam a Brasília, o general me disse: "Olha, daqui a três dias, os celulares da Presidência serão desligados e os carros, recolhidos". Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem. Este é o lado hilário. Ser ex-presidente é um aprendizado sobre como se comportar, evitando interferir no novo governo. Quem sai precisa limpar a cabeça, assimilar que não é mais presidente. Mas é difícil sair de um dia a dia alucinante, acordar e perguntar: e agora?
Mas como conseguiu resolver o "desligamento"?
Lula: Entre março de 2011 e a descoberta do meu câncer, em outubro, eu fiz 36 viagens internacionais, visitei dezenas de países africanos e latino-americanos. Eu queria ficar fora do Brasil para vencer a tentação de dar palpites. Decidi voltar para o instituto, que eu já tinha, e comecei a trabalhar aqui. No dia do meu aniversário, fui levar a Marisa para fazer um exame, mas acabaram descobrindo o câncer em mim. E aí foi um ano de tortura. Nunca pensei que fosse tão difícil fazer quimioterapia e radioterapia. A doença, a internação, o fato de não poder falar ajudaram no desligamento. Fui desencarnando e hoje isso está bem resolvido na minha cabeça. Este ano, no evento dos 10 anos de governos do PT, quando eu disse que a Dilma era minha candidata, eu queria tirar de vez da minha cabeça a história de voltar a ser candidato. Antes que os outros insistissem, antes que o PT viesse com gracinhas, antes que os adversários da Dilma viessem para o meu lado, eu resolvi dar um basta e fim de papo.
Mesmo com eventuais "Volta Lula", com manifestações, crises?
Lula: Mesmo. Hoje, há pessoas defendendo o fim da reeleição. Eu sempre fui contra a reeleição, mas hoje posso dizer que ela é um benefício, uma das poucas coisas boas que copiamos dos americanos. Em quatro anos, você não consegue realizar uma única obra estruturante no país.
O senhor não ficou tentado a buscar o terceiro mandato, quando o deputado Devanir Ribeiro apresentou aquela emenda?
Lula: Eu fui contra. Chamei o partido e disse: não quero brincar com a democracia. Se eu conseguir o terceiro, amanhã virá alguém querendo o quarto, o quinto. Sou favorável à alternância no poder, de pessoas e de segmentos sociais. Comigo, pela primeira vez, um operário chegou à Presidência. Com Dilma, a primeira mulher. Quero que o povo continue mudando. Para errar ou acertar, não importa.
Deixar o poder traz mais liberdade?
Lula: Eu nunca tive liberdade, nem antes nem depois. Fiquei oito anos em Brasília sem ir a um restaurante, a um aniversário, a um casamento, porque tinha medo daquele mundo futriqueiro de Brasília. Mesmo hoje, prefiro passar o fim de semana em casa, de bermuda.
Mas afora os problemas do poder, alguma saudade de Brasília?
Lula: Olha, o nascer e o pôr do sol no Alvorada são para mim inesquecíveis. Todos os domingos de manhã, eu e Marisa pescávamos. Há um lago no Torto, outro no Alvorada, e há o Lago Paranoá. Houve um dia em que a Marisa pegou 26 tucunarés, ali no píer onde fica o barco da Presidência. Disso, eu tenho saudade. Não pude conviver, por precaução minha. Mas o céu de Brasília é muito bonito. O clima é extraordinário, o padrão de vida do Plano Piloto é invejável. Não é mais aquela cidade criticada porque não tinha esquinas. O povo soube fazer suas esquinas.
O que o senhor considera como mudanças importantes deixadas por seu governo?
Lula: As coisas que foram feitas, se em algum momento foram negadas, a verdade foi mais forte que a versão. A ONU acaba de reconhecer, com dados irrefutáveis, que o Brasil foi o país que mais combateu e reduziu a pobreza nos últimos 10 anos. Eu queria provar que, quando o Estado assume a responsabilidade de cuidar dos pobres, tem efeitos. Tenho orgulho de ter sido o presidente brasileiro que, sem ter diploma, foi o que mais criou universidades no Brasil, o que mais fez escolas técnicas, o que colocou mais pobres na universidade... Já houve presidentes que tinham diplomas e mais diplomas e fizeram muito pouco pela educação. Nós provamos que era possível fazer porque decidimos que educação não era gasto, era investimento. Tenho orgulho de ter sido o primeiro presidente que fez com que o povo se sentisse na Presidência.
E o que o senhor considera o maior erro de seu governo?
Lula: Certamente, cometi muitos erros. Os adversários devem se lembrar mais deles do que eu. Há quem me pergunte se não me arrependo de ter indicado tais pessoas para o STF. Eu não me arrependo. Se eu tivesse que indicar hoje, com as informações que eu tinha na época, indicaria novamente.
E com as informações atuais?
Lula: Eu teria mais critério. Um presidente recebe listas e mais listas com nomes, indicados por governadores, deputados, senadores, advogados, ministros de tribunais. E é preciso ter quem ajude a pesquisar e avaliar as pessoas indicadas. Eu tinha o Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, o (Dias) Toffoli na Casa Civil... Uma coisa que lamento é não ter aprovado a Reforma tributária, e tentei duas vezes. Hoje, estou convencido de que não poderá ser feita como pacote, mas fatiada, tema por tema. Eu mandava um projeto com apoio de todo mundo, mas as forças ocultas de que falava o Jânio se apresentavam nas comissões do Congresso e paravam tudo. Eu receava também que o segundo mandato fosse repetitivo, com ministros não querendo trabalhar. Foi aí que tivemos a ideia do PAC. Mas acho que poucos conseguirão repetir o que fizemos entre 2007 e 2010. Era o time do Barcelona jogando. Tudo fluiu bem. Posso ter errado, mas não tenho arrependimentos. Tenho frustração de não ter feito mais.
"(Sair da Presidência) foi como se me desligassem de uma tomada. O general disse: "Olha, daqui a três dias os celulares serão desligados e os carros, recolhidos". Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem"
Voltando à indicação dos ministros do STF. Hoje, se o senhor pudesse voltar no tempo... 
Lula: Nem podemos pensar nisso. Eu não sou mais presidente, eles (os ministros) já estão indicados e vão se aposentar lá. 
O senhor continua fazendo palestras? 
Lula: Tenho feito, mas vou reduzir. No ano que vem vou, me dedicar à campanha. Vocês sabem que um ex-presidente não tem aposentadoria. Não tendo aposentadoria de outra origem, terá que ser mantido pelo partido dele ou terá que se virar. Mas você só é convidado para fazer palestras se tiver sido exitoso no governo. O Fernando Henrique inovou e passou a fazer palestras. O PT ofereceu-me um salário e eu agradeci. Eu mesmo ia tratar da minha sobrevivência. 
O que acha das críticas de que existiria conflito de interesses quando as empresas têm contratos com o governo? 
Lula: Acho uma cretinice. Primeiro porque não faço nada além do que eu fazia como presidente. Eu tinha orgulho de chegar a qualquer país e falar da soja, do etanol, da carne, da fruta, da engenharia, dos aviões da Embraer... Eu vendia isso com o maior prazer do mundo. Com orgulho. Eu achava que isso era papel do presidente da República. Quando Bush veio aqui, fomos a um posto que vendia etanol. E havia lá um carro da Ford e outro da GM. Chamei o Bush para tirarmos uma foto e ele disse que não podia fazer merchandising de carro americano. Só que ele estava com um capacete da Petrobras na cabeça. Eu falei: "Então, fica você aqui que eu vou lá". Se eu puder vender as empresas brasileiras na Nigéria, no Catar, na Líbia, no Iraque, na África, eu vou vender. Estas críticas também refletem o complexo de vira-lata. É não compreender o sentido disso. Tenho orgulho de saber que quando cheguei à Presidência não havia uma só fábrica brasileira na Colômbia e hoje existem 44. Havia duas no Peru e hoje são 66. De termos ampliado nossa presença na Argentina ou na África. Se não formos nós, serão os chineses, os ingleses, os franceses. E não são apenas empresas de engenharia. Hoje, temos fábrica de retrovirais em Moçambique, Senai e escolinhas de futebol do Corinthians em mais de 13 países africanos. Agora mesmo me pediram para tentar levar o vôlei para a África, onde o esporte não existe. E vou ajudar com o maior prazer. Só não vou jogar porque tenho bursite. Mas veja a malandragem. Todas as empresas, inclusive as de jornais e de televisão, têm lobistas em Brasília. Mas são chamados de diretor corporativo ou institucional. Agora, se alguém faz pelo país, é lobista. Faz parte da pequenez brasileira. Veja o caso da Copa do Mundo. Todo país quer sediar uma Copa do Mundo. O Brasil não pode. Ah, porque temos problemas de saúde e moradia! Todos os países têm problemas, e por que não pode ter Copa do Mundo e Olimpíada? E o quanto uma nação ganha com isso, do ponto de vista cultural, do ponto de vista do desenvolvimento? Qual é a denúncia contra as obras? 
Nos protestos, a crítica era ao custo das obras. 
Lula: Ora, se em 1950 o Brasil pôde fazer um estádio para a Copa do Mundo, em 2013 não podemos fazer outros? Pergunto qual é a denúncia? Eu deixei dois decretos, um sobre a Copa outro sobre a Olimpíada, que estão no site da CGU. Perguntem ao Jorge Hage onde tem corrupção na Copa. O TCU designou um ministro, o Valmir Campelo, encarregado de fiscalizar especificamente os gastos com a Copa. Perguntem a ele onde há corrupção. A Copa está marcada e tem que ser feita com a maior grandeza. Se alguém praticar corrupção, que seja posto na cadeia. Já conversei com os patrocinadores sobre a necessidade de uma narrativa diferente para a Copa do Mundo. Vi na tevê pessoas chorando no Japão, que vai sediar uma Olimpíada. E vi um jornalista dizer que "tudo bem, o Japão está retomando o crescimento, diferentemente do Brasil, que ainda é pobre". Então Olimpíada é só para países do G-8? E ainda que fosse, o Brasil está no G-6. Não me conformo com o complexo de vira-lata e com o denuncismo infundado. Precisamos de uma lei que puna também o autor de denúncia falsa. 
Falando nas manifestações, o que mudou com elas no Brasil? 
Lula: Eu acho que fizeram muito bem ao Brasil. Com exceção dos mascarados. Todas as reivindicações que apresentaram, um dia nós também pedimos. Veja o discurso de (Fernando) Haddad na campanha de São Paulo: "Da porta da casa para dentro, a vida melhorou, mas da porta para fora ainda precisa melhorar". Hoje, muito mais gente anda de carro, mas o transporte público não melhorou. Eu andava de ônibus lotados como latas de sardinha em 1959, e continua a mesma coisa. O Haddad agora me disse: "Precisando de tanto dinheiro, conseguimos reduzir em 50 minutos o tempo de viagem só com latas de tinta". As faixas exclusivas para ônibus tiveram uma aprovação de 93% das pessoas. O povo nos disse o seguinte: "Já conquistamos algumas coisas e queremos mais". As pessoas querem mais, mais salário, mais transporte, melhorias na rua, e isso é extraordinário. Nem dá mais para ficar dividindo tarefa: isso é com o prefeito, isso com o governador, aquilo com o presidente.   
Haddad não errou quando demorou a recuar na tarifa? 
Lula: Se ele tivesse dado o aumento em janeiro, não tinha acontecido o que aconteceu. Ele e o prefeito do Rio foram convencidos de que, adiando o aumento, ajudariam no controle da inflação. Meu primeiro movimento foi mostrar ao Haddad que aquilo não era contra ele, que ainda estava muito novo no cargo: "Haddad, levante a cabeça, tira proveito disso, que bom que o povo está se manifestando". Acho que ele demorou uns dois ou três dias mas foi correto. E o transporte é caro mesmo... Enfim, as manifestações nos ensinaram que o desejo do povo de mudar as coisas é infinito. Quem consegue comprar carne de segunda passa a querer carne de primeira. Tínhamos 48 milhões de pessoas que andavam de avião em 2007. Em 2012, eram 103 milhões. Hoje, tem gente que entra no avião e não sabe nem guardar a mala. Alguns acham isso ruim. Eu acho ótimo. Tem mais gente indo a restaurantes, museus, institutos de beleza, e isso é um bom sinal. A única coisa que eu critico é a negação da política. Ela sempre resulta em algo pior, como o fascismo, o nazismo. Tenho dito ao PT para enfrentar o debate. Vamos perguntar aos tucanos por que eles derrotaram a CPMF, tirando R$ 40 bilhões da saúde por ano em meu governo, achando que iam me prejudicar. Na época, eu disse: quem vai pagar é o povo. 
E o Programa Mais Médicos, é uma solução? 
Lula: É uma coisa fantástica, mas vai fazer com que o povo fique mais exigente com a saúde. O sujeito vai subir o primeiro degrau. Vai ter um médico que vai lhe pedir exames, e a saúde vai ser problema outra vez. Discutir saúde sem discutir dinheiro, não acredito. E não adianta dizer, como fazem os hipócritas, que o problema é só de gestão. Chamem os 10 melhores gestores do planeta e perguntem como oferecer tomografia, ressonância, tratamento de câncer sem dinheiro. O hipócrita diz: "Eu pago caro por um plano de saúde, porque o SUS não me atende". Mas quando ele vai fazer a declaração de renda, desconta tudo do imposto a pagar. Então quem paga a alta complexidade para ele é o povo. E aí vem a Fiesp fazer campanha para acabar com a CPMF. Não foi para reduzir custos mas para tirar do gover   no o instrumento de combate à sonegação. 
O Mais Médicos é uma marca de governo para Dilma? 
Lula: Os médicos brasileiros que protestaram sabem que cometeram um erro gravíssimo. O (Alexandre) Padilha tem dito, corretamente: "Não queremos tirar o emprego de médico brasileiro. Queremos trazer médicos para atender nos locais onde faltam médicos brasileiros". Em vez de protestar, eles deveriam ter feito um comitê de recepção aos colegas estrangeiros. E Deus queira que um dia o Brasil forme tantos médicos que possa mandar médicos para um país africano. É admirável que um país pequeno como Cuba, que sofre um embargo comercial há 60 anos, tenha médicos para nos ceder. Hoje, há máquinas que descobrem o câncer com menos de um milímetro. Mas quantos têm acesso a isso? Saúde boa e barata não existe, alguém tem que pagar a conta. Num país em construção, como o nosso, sempre haverá protestos. Temos de consolidar a democracia, sabendo que ela não pode ser exercitada fora da política. Tem gente que diz "eu não sou político" e começa a dar palpite na política. Esse é o pior político. Como eu fui ignorante, dou meu exemplo. Em 1978, no auge das greves do ABC, eu achava o máximo dizer: "Não gosto de política nem de quem gosta de política". A imprensa paulista me tratava como herói. Eu era o metalúrgico. Dois meses depois, eu estava fazendo campanha para Fernando Henrique, que disputava o Senado por uma sublegenda do MDB. Dois anos depois, criei um partido político. Ninguém deve ser como o analfabeto político do Bertolt Brecht. Não se muda o país sem política. 
Na semana passada, foram criados dois partidos, houve um grande troca-troca de deputados. Como o senhor vê isso? 
Lula: O fato de você legalizar um partido é o menos importante. Levar 10, 15 deputados, também. Eu quero saber é se na próxima eleição esses partidos passarão pelas urnas. 
Marina Silva talvez não consiga registrar o partido dela. 
Lula: Quando nós fomos construir o PT, as exigências legais eram até maiores. Na primeira eleição, eu achava que seria eleito governador de São Paulo. Eu era uma figura estranha, um metalúrgico, levava muita gente aos comícios. Fiquei em quarto lugar. O Estadão fez uma pesquisa dizendo que eu tinha 10%. Eu logo xinguei a imprensa burguesa (risos). E eu tive exatamente 10% (risos). Então, essas pessoas que estão criando partidos vão ter de trabalhar muito. E precisamos evitar as legendas de aluguel. Não serei contra, depois de tudo que fiz pela criação do PT. Eu não sei se a Marina vai cumprir as exigências legais. Ela é uma personalidade política do país, tem todo direito de criar um partido. Agora, tem de ter coragem de dizer que é partido, não tem que inventar outro nome, dizer que não é partido, é uma rede. É partido e vai ter deputado, como todo partido. 
Sem a Marina, a disputa presidencial muda, não? 
Lula: Ela ainda tem tempo. Ela tem de assistir ao dia final do julgamento com a ficha de um outro partido do lado. Eu acho que a Marina tem o direito de ser candidata. Marina é um quadro político importante para o país. Caso ela não consiga o partido e não seja candidata, será importante saber para onde irão os votos dela. Ninguém pode perder o pé da realidade do país, achar-se melhor que o Congresso, que lá só tem corrupto, como vejo alguns dizerem. 
O senhor mesmo já falou, quando disse que no Congresso havia 300 picaretas... 
Lula: O Congresso é a cara da sociedade brasileira. Ulysses Guimarães dizia: "Toda vez que a sociedade começa a falar em muita mudança no Congresso, o Congresso piora". 
Quase 300, na realidade 280 deputados, foram responsáveis de alguma forma pela absolvição de Natan Donadon... 
Lula: Veja que eu não errei. O que acontece no Congresso acontece num clube de futebol, acontece no condomínio que a gente mora, na sauna... Você tem gente de qualidade, você tem gente de menos qualidade, gente comprometida com os setores mais à esquerda, gente comprometida com os setores mais à direita. Se as pessoas fossem de direita ou de esquerda era melhor do que serem simplesmente fisiológicas. O que eu acho que mata na política é o fisiologismo. E você não vai acabar com isso. É uma cultura política que está estabelecida no mundo, não é só no Brasil. E não é uma questão nacional, senão a Itália não tinha o Berlusconi. 
Mas o senhor defende a reforma política não é buscando superar esses problemas? 
Lula Eu defendo a reforma política, mas acho que ela só virá quando tivermos Constituinte própria para fazê-la. O Congresso não vai aprovar. Pode fazer uma mudança aqui, outra ali, mas não uma reforma profunda. Defendo o financiamento público porque eu acho que é a forma mais barata e mais honesta de fazer campanha. Por que os empresários não defendem o financiamento público? Não seria melhor para eles não ter que dar dinheiro para candidato? Mas eles preferem que os políticos dependam deles. Eu li a biografia do Juscelino, os dois volumes do (Getúlio) Vargas, do Lira Neto (escritor cearense), estou lendo a biografia de Napoleão Bonaparte e a do Padre Cícero. A política é sempre a mesma. Penso que com partidos mais sérios e valorizados, com mais seriedade nas campanhas, a política vai se qualificando e motivando mais. Eu sempre digo aos jovens: mesmo que você não acredite em mais ninguém, e ache que todos são corruptos, não desista. O político honesto que você procura pode estar dentro de você. 
O momento mais delicado da Dilma ocorreu durante as manifestações. E naquele momento, o PMDB, o principal aliado do PT, tentou emparedar a presidente no Congresso... 
Lula: O ideal de um partido político é eleger um presidente da República, eleger a maioria dos governadores, eleger a maioria dos senadores, a maioria dos deputados federais. Isso é o ideal. Não parece maravilhoso? Pois bem, em 1987, o PMDB teve isso. O PMDB elegeu 306 constituintes e 23 governadores. O (José) Sarney teve moleza? Não teve. O principal adversário do Sarney era Ulysses Guimarães. Por isso, eu prezo a democracia. Eu fico imaginando se o PT tivesse 400 deputados, 79 senadores. Seria fácil? Temos de aprender a lidar com a realidade. Angela Merkel acabou de ganhar as eleições na Alemanha, mas, para governar, terá que fazer aliança. 
E a divisão interna dentro do PT, entre lulistas e dilmistas? 
Lula: Se houver alguém que se diz lulista e não dilmista, eu o dispenso de ser lulista. A Dilma é a presidente e representa o PT. Eu não estou pedindo que as pessoas gostem dela. Eu quero que as pessoas a respeitem na função institucional e saibam que o PT está lá para apoiá-la. O povo de Brasília votou no (José Roberto) Arruda porque acreditou que o Arruda ia fazer as mudanças prometidas. Não deu certo. Você vai dizer que o eleitor do Roriz era pior do que o eleitor do Agnelo? Não era. O eleitor vota esperando que as coisas melhorem. Se tivermos agora como candidatos Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina, o Brasil está qualificado. Todos candidatos de centro-esquerda para a esquerda. 
O senhor tentou evitar o rompimento de Eduardo Campos com o governo. Agora que aconteceu, como ficará este relacionamento? Ele pode sair do campo de sua influência? 
Lula: Eu não tenho influência. Mas eu gostaria que não tivesse acontecido o que aconteceu. 
Quem errou? 
Lula: Não sei, acho que todo mundo errou. E eu posso estar errado também. Pode ser que o governo e o Eduardo estejam certos no rompimento, e eu errado. Mas eu não dou de barato que o Eduardo é candidato. Ele tem potencial? Ele tem estrutura, sabedoria política? Tem. Ele pode ser candidato, como o Aécio, a Marina. Eu só acho que foi um prejuízo para a gente ter o PSB, e sobretudo o Eduardo, do outro lado. Isso aconteceu apenas quando o Garotinho foi candidato contra mim, em 2002. Se ele vai ser candidato, nós temos de ter uma regra de comportamento. Se a eleição não terminar no primeiro turno, poderemos ter aliança no segundo turno. Mas eu não dou de barato que as coisas estão definidas na eleição. Nem para o Eduardo Campos ser candidato nem para o Aécio ser candidato. Sabe-se lá o que o Serra vai tramar contra o Aécio? Nem para a Marina. Temos de esperar, até março do próximo ano. São mais seis meses pela frente, até as pessoas anunciarem de fato as candidaturas. Sei apenas que, entre todos, a Dilma é a que tem mais credenciais e é mais qualificada para governar o Brasil. Eu vou percorrer o Brasil como se eu fosse candidato. 
Qual será a diferença, na disputa com o PSDB, em ter o Aécio como candidato e não o Serra? 
Lula: Eu acho que vai trazer mais dificuldades para o PSDB. O Aécio vai ter que se tornar conhecido. O Serra já é conhecido, tem o recall de outras disputas. Não é fácil criar um candidato novo num país do tamanho do Brasil. Então, eu não sei como o PSDB vai conseguir se livrar do Serra ou se o Serra vai conseguir provar que tem mais qualidades para ser candidato. Mas o PT não pode escolher adversário. Tem que enfrentar quem aparecer, e acho que pode ganhar dos dois. 
  Sua participação na campanha da Dilma agora será diferente da que teve em 2010? 
Lula: Tem de ser diferente. Em 2010, a Dilma não era conhecida. Fizemos uma campanha para que ela se tornasse conhecida, e para mostrar ao eleitor o grau de confiança que eu tinha nela. Obviamente que, depois de quatro anos de governo, a Dilma passou a ser muito conhecida e conseguiu construir a sua própria personalidade. Então, já tem muita gente que vai votar na Dilma independentemente de o Lula pedir. Naquilo que eu tiver influência, nas pessoas que eu tiver influência, eu vou pedir para votar na Dilma. O que eu vou fazer na campanha depende dela. Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela. Eu tenho vontade de falar, a garganta está boa. Eu estou com mais disposição, mais jovem. Apesar da idade, eu estou fisicamente mais preparado. Estou com muita saudade de falar. Faz tempo que eu não pego um microfone para falar. Conversar um pouco com o povo brasileiro. Se for importante ficar quieto, eu vou ficar quieto. A única que coisa que eu não vou fazer é cantar, porque eu sou desafinado, mas, no resto, ela pode contar comigo. 
A prorrogação do julgamento do mensalão, levando as prisões de petistas no próximo ano, em plena campanha, pode atrapalhar os candidatos do PT e a própria Dilma? 
Lula: Eu não acredito, não. As pessoas têm o hábito de menosprezar a inteligência do povo. A história não é contada no dia seguinte, a história é contada 50 anos depois. E eu acho que a história vai mostrar de que mais do que um julgamento, o que nós tivemos foi um linchamento, por uma parte da imprensa brasileira, no julgamento. Eu tenho me recusado a falar disso porque sou ex-presidente, indiquei os ministros. Vou falar quando o julgamento terminar. Uma coisa eu não posso deixar de criticar. Se pegar o último julgamento agora (dos embargos infringentes), o que a imprensa fez com o Celso de Mello foi uma coisa desrespeitosa à instituição da Suprema Corte, que é o último voto. Ou seja, depois dela, ninguém mais pode falar. Eu fiquei irritado certa vez, quando eu era presidente, o (Sepúlveda) Pertence tomou uma decisão e alguém escreveu que José Dirceu tinha ganhado no tapetão, sem nenhum respeito a uma figura como o Pertence. Veja a arrogância e a petulância de algumas pessoas. Elas amanhã poderão ser julgadas e vão querer o direito de defesa. A sociedade brasileira já aprendeu a separar o joio do trigo, inclusive pelo que tentaram fazer comigo em 2006, na campanha. Ninguém poderia ter sido mais violento comigo do que foi o (Geraldo) Alckmin. Todo mundo sabe o que aconteceu na véspera da eleição, quando o delegado da Polícia Federal mentiu que tinham roubado a fita (na realidade, um CD), sendo que ele mesmo fez a entrega para quatro jornalistas. (Lula se refere ao "Escândalo dos aloprados" e ao vazamento das fotos do dinheiro usado para comprar falsos dossiês contra José Serra e Geraldo Alckmin). Todo mundo sabe o que houve na eleição do Haddad. O julgamento (do mensalão) no meio da eleição, qual o objetivo? Tudo isso o povo percebe. 
Então o senhor acha que não terá efeito? 
Lula: O povo sabe separar as coisas. Agora, o que não se pode é negar o direito das pessoas de exigirem provas. Eu sinceramente tenho muita vontade de falar, mas eu preciso me calar. Alguns companheiros estão condenados. Se amanhã a Justiça falar que absolveu, estarão condenados do mesmo jeito. Ninguém se dá conta do que aconteceu com a família das pessoas, com os filhos das pessoas. Esta substituição da informação pela versão que interessa não pode ser adequada à construção de um país democrático. 
Voltando à questão eleitoral, o senhor disse em  determinado momento que não podia trincar a relação com o PMDB, mas ela tem problemas. 
O senhor está ajudando a montar essas alianças nos estados? 
Lula: Não. Não sou eu. O PT vai ter as coordenações regionais, a coordenação de campanha e a direção nacional. Aliás, o PT sozinho não pode cuidar disso. Tem de ter cuidado, junto com o PMDB. Não é a primeira vez que a gente faz uma campanha com dois palanques. Houve estados a que não fui durante determinada campanha porque tinha problemas entre os aliados. Em 2010, em Pernambuco, por exemplo, construímos uma coisa sui generis, que foi colocar dois candidatos no mesmo palanque. Eu ia lá e falava com os dois do meu lado. Se fosse possível repetir isso sem tiroteio, seria ótimo. Temos que dar tempo ao tempo, esperar as divergências diminuírem para a gente poder construir a unidade. Em março, o quadro estará mais claro. 
No Rio de Janeiro inclusive? 
Lula: Sim. Nós temos de saber quem são os nossos adversários e construir a partir daí as nossas alianças regionais. Mas como é que você vai convencer um companheiro que quer ser candidato a governador a não ser candidato? 
Isso vale para o senador Lindbergh Farias? 
Lula: Não é só o Lindbergh. Vamos entrar na cabeça do Lindbergh. Ele tem o mandato de oito anos e tem um intervalo agora no meio. Se concorrer, ele não perde nada, ele só ganha. Como funciona a cabeça dele: se não for candidato agora, em 2018 terá de disputar com o Eduardo Paes ou com o Sérgio Cabral, sei lá. Ele acha então que o momento dele é agora. Como você vai tentar convencê-lo? O cara tem oito anos de mandato, não tem nada a perder... Na pior das hipóteses, se ele perder, estará fazendo campanha para ele mesmo ao Senado em 2018. Isso vale para todos. Vai convencer no Pará que o cidadão não deve ser candidato. Ele pode ter 1% nas pesquisas e fala (Lula bate no peito): "Eu vou ganhar". Em janeiro do ano passado, eu estava em casa todo inchado, quase sem poder falar, e implorei ao Humberto Costa para não ser candidato a prefeito no Recife. "Humberto, pelo amor de Deus, o povo te elegeu senador. É um mandato de oito anos, você vai virar uma figura nacional. O PT precisa de você. Você quer voltar para Recife para fazer o quê, Humberto?" Ele então disse: "Se é assim que o senhor pensa, não serei candidato". E quem foi o candidato? 
Humberto... 
Lula: Foi candidato na pior situação (Humberto perdeu no primeiro turno para Geraldo Júlio, do PSB). Quando a pessoa quer, é difícil evitar. Vocês acham que eu aprovei o Wellington (Dias) ter sido candidato a prefeito de Teresina? Um cara que saiu com quase 80% de aprovação, que o povo elegeu para senador, que desgraça ele tinha de ser candidato a prefeito de Teresina? Mas ele foi. Aí, quando toma a porrada que tomou, ele fala: "(Lula faz careta e imita voz chorona) É, você tinha razão". A única coisa certa é que a Dilma é uma candidata com amplas condições de ganhar. Ela vai ter mais o que mostrar. A economia vai estar numa situação melhor. 
O tema econômico da hora são as concessões. Na eleição, a oposição não vai explorá-las como uma forma de privatização feita pelo PT, que combateu as privatizações tucanas? 
Lula: Não é privatização. Deixa eu dizer uma coisa: é urgente mudar a Lei 8.666/93,que regula as licitações neste país, se quisermos que as coisas aconteçam. Hoje, para fazer uma obra, são tantos os obstáculos, como eu já disse. Tribunal de Contas, Ibama, CGU, Iphan. Uma verdadeira máquina de fiscalização que emperra a máquina da execução. Então, é melhor passar pelo crivo uma só vez e entregar o serviço para a iniciativa privada explorar, com mais facilidade e rapidez. A segunda coisa é que o Estado também não tem recursos. As concessões são um convite à iniciativa privada, que pode suprir a deficiência do Estado para investir. A Dilma estava na Casa Civil, nós reuníamos os ministros e órgãos envolvidos nos projetos. Eu falava todos os palavrões que tinha de falar, mas as coisas não andavam. Um problema aqui, outro ali. Temos que encontrar uma solução. A Dilma anunciou as concessões em junho do ano passado e os leilões só estão saindo agora. Se estivéssemos em 1955, começando a construir Brasília, nem a picada para o avião do Juscelino pousar tinha saído. 
Como o senhor avalia a decisão da CGU de pedir a destituição do serviço público da ex-chefe do gabinete da Presidência de São Paulo, Rosemary Noronha, por 11 irregularidades, incluindo propina, tráfico de influência e falsificação? 
Lula: Ela já estava demitida. O que a CGU fez foi confirmar o que todo mundo já sabia o que ia acontecer. 
Mas tudo ocorreu dentro de um escritório da Presidência... 
Lula: Deixa eu falar uma coisa. A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E pelo que eu vi do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil. O servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado. O que valeu para o escritório vale para qualquer lugar no Brasil no setor público. Vale para banco, vale para a Receita. Vejo isso com muita tranquilidade. (Lula se vira para o assessor de imprensa e pergunta). Não foi exonerado esses dias um companheiro que trabalhava com a Ideli (Salvatti)? (Lula se refere ao assessor da Subchefia de Assuntos Federativos, Idaílson Macedo, após a notícia de que faria parte do esquema de lavagem de dinheiro descoberto pela Polícia Federal na Operação Miqueias). 
O que o senhor achou da reação do governo brasileiro em relação à espionagem norte-americana? 
Lula:  Dilma agiu certo. O que não podia era aceitar a ideia que o (Barack) Obama tentou passar, de que não aconteceu nada. Com aquele jeitão imperial do Obama falar. 
Quase três anos depois de deixar a Presidência, como o senhor gostaria de ser lembrado? 
Lula: O que me importa é a forma como serei lembrado pelas pessoas. Algo que me marcou foi meu último encontro com os catadores de material reciclado e moradores de rua de São Paulo. Uma menina, afro-descendente, pegou o microfone e perguntou: "Presidente, você sabe o que mudou na minha vida nestes oito anos?" Eu não sabia. E ela disse: "Não foi o dinheiro que eu ganhei nem as cooperativas que organizei. Foi o direito de andar de cabeça erguida que o senhor me restituiu. Hoje, não tenho vergonha de andar com o carrinho catando papelão na rua. Me sinto tão importante quanto os que passam de carro ao meu lado". Nada é mais gratificante que isso. Foi o que me inspirou a pedir ao Fernando Morais para tentar fazer uma biografia do meu governo, conversando com quem ele quisesse: banqueiro, dono de jornal, metalúrgico, bancário, catador de papel. Ouvir o que as pessoas pensam é mais importante, pois todo mundo tem tendência a falar bem de si mesmo.  
  "Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste" 
"Há quem me pergunte se não me arrependo de ter indicado tais pessoas para a Suprema Corte. Eu não me arrependo de nada. Se eu tivesse que indicar hoje, com as informações que eu tinha na época, indicaria novamente. (Mas, com as informações atuais) eu teria mais critério" 
"Todo país quer sediar uma Copa do Mundo. O Brasil não pode. Ah, porque temos problemas de saúde e moradia! Todos os países têm problemas, e por que não pode ter Copa do Mundo e Olimpíadas? A Copa está marcada e tem que ser feita com a maior grandeza. Se alguém praticar corrupção, que seja posto na cadeia"

sábado, 28 de setembro de 2013

ECONOMIZE ÁGUA JAIBARAS JÁ ESTÁ COM 66%


Segundo o Portal Hidrológico do Ceará ele está hoje com 66,57% de sua capacidade normal.

REVISTA ISTOÉ: TREM PAGADOR

Trem pagador

E-mails, agenda e depoimento de secretária ao Ministério Público revelam como operava Jorge Fagali Neto, o homem da propina no escândalo do Metrô de São Paulo

Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas

Uma disputa travada na Justiça do Trabalho revelou como opera um dos principais agentes do propinoduto montado por empresas da área de transporte sobre trilhos em São Paulo para drenar dinheiro público dos cofres da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô paulista. Trata-se do consultor Jorge Fagali Neto, indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de receber e intermediar o pagamento de propinas da multinacional francesa Alstom a autoridades do PSDB paulista. ISTOÉ teve acesso ao depoimento e a uma série de e-mails comprometedores entregues ao Ministério Público, em junho de 2010, por sua ex-secretária Edna da Silva Flores. A documentação deixa clara a proximidade de Fagali Neto com agentes públicos e o seu interesse em contratos do Metrô paulista e da CPTM. Nas mensagens, o consultor revela, por exemplo, preocupações com a obtenção de empréstimos e financiamentos junto ao Banco Mundial (Bird), BNDES e JBIC que viabilizem investimentos nas linhas 2 e 4 do Metrô paulista.
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OPERADOR
Indiciado pela Polícia Federal, acusado de intermediar pagamento
de propina, Fagali Neto matinha frequentes contatos com
agentes públicos sobre obras do Metrô e da CPTM
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O material entregue por Edna ao Ministério Público demonstra pela primeira vez a ligação direta de Fagali Neto com os irmãos Teixeira, Arthur e Sérgio, apontados como lobistas do esquema Siemens e responsáveis por pagar propina a políticos por intermédio de offshores no Uruguai, conforme revelou reportagem de ISTOÉ em julho. Em um trecho de seu depoimento ao MP, Edna diz que os três mantinham “relacionamentos empresariais” e “atuavam antes da assinatura de contratos” com o governo de São Paulo. Copiados por Fagali em uma série de e-mails envolvendo contratos com as estatais paulistas de transporte sobre trilhos, os irmãos Teixeira também têm seus nomes citados na agenda pessoal de Fagali Neto. Em uma das páginas da agenda, está registrado um encontro com Sérgio Teixeira, hoje falecido, às 11 horas na alameda Santos, no Jardim Paulista, região nobre de São Paulo. Em outra, constam o telefone, o e-mail e o nome da secretária de Arthur Teixeira.
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ELO ENTRE OS ESQUEMAS
Segundo depoimento de ex-secretária de Fagali Neto ao MP, ele atuava em
parceria com Arthur Teixeira (em destaque), apontado como lobista do esquema Siemens
A ex-funcionária narra também os cuidados do antigo chefe com eventuais investigações. No período de 2006 a 2009, em que trabalhou para Jorge Fagali Neto organizando o seu escritório, ele a mandava se ausentar do seu gabinete quando precisava se reunir com clientes. Também a pedido de Fagali Neto, ela comprou quatro celulares para que os aparelhos fossem usados por ele apenas para tratar de negócios. O consultor acreditava que assim dificultaria interceptações policiais. A espécie de “faz tudo” da empresa era proibida até de mencionar ao telefone os nomes de representantes de companhias às quais Fagali prestava consultoria. Ela ainda recebeu orientação para se referir a personagens do círculo de negócios do consultor por apelidos. José Geraldo Villas Boas – também indiciado pela PF por ter participado do esquema de corrupção – era chamado de “Geólogo”. O temor do consultor em não deixar rastros era tão grande que ele fazia questão de pagar tudo em espécie. “Ele sempre mantinha algumas quantias em local desconhecido em sua casa”, disse. A ex-secretária afirma no depoimento que ele costumava emitir, por meio da empresa BJG Consultoria e Planejamento Ltda., notas de R$ 260 mil e R$ 180 mil, mesmo tendo apenas ela como funcionária. Pelo jeito, dinheiro não faltava para o operador do esquema do propinoduto tucano. Em 2009, o ex-secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo (1994) e ex-diretor dos Correios (1997) na gestão Fernando Henrique Cardoso teve uma conta atribuída a ele com mais de R$ 10 milhões bloqueada por procuradores suíços. Procurado, o advogado de Fagali Neto, Belisário dos Santos Jr., diz que os e-mails foram obtidos pela ex-funcionária por meio de fraude junto ao provedor. Ele, no entanto, não quis se pronunciar sobre o teor das mensagens.
Apesar das tentativas de Fagali de manter a discrição, segundo sua ex-secretária, o elo do homem da propina no escândalo do Metrô com agentes públicos ligados ao PSDB é irrefutável. Em 2006, Fagali trocou mensagens e recebeu planilhas por e-mail de Pedro Benvenuto, então coordenador de gestão e planejamento da Secretaria de Transportes Metropolitanos, órgão responsável pelas estatais. Entre o material compartilhado, como revelou o jornal “Folha de S.Paulo” na última semana, estavam as discussões sobre o Programa Integrado de Transportes Urbanos do governo até 2012, que ainda não estava definido. Até a quarta-feira 25, Pedro Benvenuto ocupava o cargo de secretário-executivo do Conselho Gestor do Programa de PPPs (Parcerias Público-Privadas) do governo de São Paulo, quando pediu demissão na esteira das denúncias.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

247 - O IBGE acaba de divulgar uma grande notícia para a presidente Dilma Rousseff: o nível de desemprego caiu de 5,6%, em julho, para 5,3%, em agosto, num resultado melhor do que era esperado por analistas de mercado. Ontem, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, já apontava uma melhora da confiança empresarial (leia aqui).
Abaixo as notícias da Agência Brasil:
Desemprego em agosto cai para 5,3%, segundo Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE
Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A taxa de desemprego caiu para 5,3% em agosto deste ano, depois de ficar em 5,6% em julho. Em relação a agosto de 2012, no entanto, a taxa manteve-se estável. O dado foi divulgado hoje (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
Segundo o IBGE, a população desocupada caiu 6% em relação a julho, alcançando 1,3 milhão de pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. Já a população ocupada manteve-se estável em 23,2 milhões de pessoas, o que mostra que não houve aumento na geração de postos de trabalho entre os dois meses. Em relação a agosto de 2012, no entanto, foram criados 273 mil empregos.
O número de trabalhadores com carteira assinada ficou em 11,7 milhões, o mesmo de julho, e 3,1% maior do que agosto do ano passado.
Rendimento real do trabalhador cresce 1,7% entre julho e agosto, diz IBGE
Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O rendimento médio real habitual do trabalhador cresceu 1,7% em agosto deste ano na comparação com julho, chegando a R$ 1.883. O valor também é superior, em 1,3%, ao observado em agosto do ano passado. O dado é da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada hoje (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O maior crescimento nos rendimentos, em relação a julho, foi observado na área de construção (3,7%), seguido por serviços prestados a empresa, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira (2,7%) e educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social (2,3%). Foram observadas quedas nos setores de serviços domésticos (-1,4%) e comércio (-0,2%).
Entre as categorias de trabalho, o maior aumento foi percebido nas pessoas que trabalham por conta própria (2%), seguido por empregados sem carteira no setor privado (1,5%), empregados com carteira no setor privado (1,3%) e funcionários públicos e militares (0,7%).
A massa de rendimento real habitual dos ocupados chegou a R$ 44,2 bilhões, uma alta de 2,3% em relação a julho e de 2,7% na comparação com agosto do ano passado.
Abaixo, a notícia da Reuters sobre a queda no desemprego:
RIO DE JANEIRO, 26 Set (Reuters) - A taxa de desemprego brasileira caiu para 5,3 por cento em agosto, ante 5,6 por cento em julho, melhor resultado desde dezembro (4,6%), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Pesquisa da Reuters mostrou que, pela mediana das previsões de 24 analistas consultados, a taxa permaneceria em 5,6 por cento. As estimativas variaram entre 5,5 e 5,8 por cento.
(Por Rodrigo Viga Gaier; Texto de Camila Moreira; Edição de Alexandre Caverni)
fonte: brasil247

FERNANDO BRITO É 10!

econo

The Economist: abatendo o Cristo que está saindo de sua órbita?

26 de setembro de 2013 | 14:36
Publico, abaixo, post de meu companheiro Miguel do Rosário, em seu blog O Cafezinho, sobre a próxima capa da revista The Economist, que – depois de um ano de catastrofismo tupiniquim – resolveu aderir ao coro dos urubus. Não sei se atrasada, não sei se mandada pelos “primos” americanos, ou mesmo por estar de “bico” pelas petroleiras inglesas terem ficado fora de Libra, a revista escolheu má hora para entrar no coral urubulino: justo quando os sinais da atividade econômica começam a dar sinais mais fortes de ascensão.
Rosário, você vai ler, desmonta a história com dados e comparações. E eu, assim que puder, volto ao tema para falar o que acho: eles não ficam muito satisfeitos quando percebem que algum cristo tem a ousadia de estar saindo de sua órbita e tomando seus rumos.

Resposta ao ataque da Economist ao Brasil

Miguel do Rosário
Parece até brincadeira, mas a menos que seja uma barriga gigante do UOL, a próxima capa da Economist representará um ataque frontal ao Brasil. A mídia tupi, que sempre escondeu os inúmeros elogios que o governo recebeu da mídia estrangeira, nos últimos dez anos, agora poderá fazer o contrário. Jornal Nacional, Fantástico, capas, a diatribe da revista britânica com certeza vai ganhar destaque em todos os meios.
Então eu voltei lá na Economist, para ver o que tinha mudado. E deparei com o artigo principal da última edição, O Ocidente Enfraquecido, um ridículo, desorientado e desonesto libelo em favor de mais intervenções militares norte-americanas no Oriente Médio, a começar pela Síria.
A Economist, que sempre foi conservadora, deu uma guinada à direita ainda mais forte nos últimos tempos. E deu fim à lua de mel com países em desenvolvimento.
Não é tão difícil entender, contudo. Segundo dados do Banco Mundial, o fluxo crescente de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil  desvia verbas que, até então, iam apenas para as grandes potências ocidentais, a começar por EUA e Reino Unido.
Confiram o gráfico abaixo. Observem que o Reino Unido, pátria-mãe da Economist, sofreu violenta queda de seus investimentos produtivos, e agora recebe menos dinheiro que o Brasil. Ou seja, a Economist pode resmungar à vontade. Na hora de botar a mão no bolso e investir, o mundo prefere o Brasil.
Aliás, esse é um fator para o qual devemos olhar sempre, porque a crise financeira do mundo desenvolvido está forçando seus governos a adotarem medidas algo drásticas para interromperem o fluxo de recursos para países emergentes, como o Brasil.  Com o poder que eles detêm sobre a informação, há sempre o risco de incitarem desordens aqui com objetivo de fazer os investidores desistirem do Brasil e voltarem a aplicar nas praças tradicionais, como Londres e Nova York.
Segundo a consultoria ATKearney, que há anos produz um índice de investimento estrangeiro direto (em inglês, FDI, Foreign Direct Investment), o Brasil subiu várias posições nos últimos anos, e hoje está em terceiro lugar no ranking global, atrás apenas de EUA e China. A Inglaterra, por sua vez, tem perdido pontos, e está hoje em oitavo lugar, após décadas entre os três primeiros.

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A avaliação que a consultoria faz do Brasil é ultra-positiva: 40% de razões para otimismo, contra apenas 10% para pessimismo. Os investidores têm sido atraídos por nossa demografia espetacular (muitos jovens em idade produtiva) e pelo aumento da renda dos trabalhadores. Em 2012, o investimento estrangeiro direto no Brasil, segundo a empresa, foi de US$ 65,2 bilhões, só um pouquinho abaixo do recorde registrado no ano anterior, de US$ 66,7 bilhões.Nesses primeiros dois anos do governo Dilma, os investimentos estrangeiros diretos (ou seja, em produção; não em especulação) foram os maiores da história.
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A Inglaterra também não pode chorar de barriga cheia. Recebeu US$ 62,7 bilhões de investimentos estrangeiros diretos em 2012. Mas entende-se a choradeira: em 2008, recebeu quase US$ 90 bilhões. A avaliação que a ATKearney faz do Reino Unido, em matéria de atração aos investidores, é menos positiva, porém, que a do Brasil: apenas 24% de razões positivas, contra 13% negativas.
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Investimento Estrangeiro Direto – Gráfico Comparativo – Reino Unido e Brasil
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Fonte: Banco Mundial.
Alguém poderia também lembrar à Economist que o desemprego no Brasil já está bem abaixo da taxa britânica. E a renda dos trabalhadores brasileiros tem crescido regularmente, ao contrário do que acontece na Inglaterra, onde tem caído. O Brasil ainda precisa avançar muito para alcançar o nível de desenvolvimento da Inglaterra. Mas não podemos perder de vista dois fatores:
  1. As estatísticas mostram que estamos no caminho certo.
  2. A história mostra que a Inglaterra sempre jogou contra o Brasil.

Desemprego no Reino Unido:
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Desemprego no Brasil:
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E já que a revista desenhou o Cristo Redentor caindo feito um míssil sobre o Rio de Janeiro, o Cafezinho retribui com um contra-ataque semiótico: uma bela foto da cidade maravilhosa. Última informação: segundo o IBGE, o desemprego na região metropolitana do Rio, em agosto, ficou em 4,5%, o menor da história da nossa cidade!
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Por: Fernando Brito
Por Jeb Blount
RIO DE JANEIRO, 26 Set (Reuters) - Uma campanha exploratória na costa de Sergipe mostra que uma área controlada pela Petrobras e um parceiro indiano possivelmente possui mais de um bilhão de barris de petróleo, disseram à Reuters fontes do governo e da indústria, reforçando esperanças de que a região se tornará em breve a maior nova fronteira petrolífera do país.
A Petrobras e a IBV Brasil, uma joint venture igualmente dividida entre as indianas Bharat Petroleum (BPCL) e a Videocon Industries, avaliaram que o bloco marítimo de exploração SEAL-11 contém grandes quantidades de gás natural e petróleo leve de alta qualidade, segundo cinco fontes do governo e da indústria com conhecimento direto sobre os resultados da perfuração.
O bloco SEAL-11 e suas áreas adjacentes, a 100 quilômetros da costa do Estado de Sergipe, podem conter mais de 3 bilhões de barris de petróleo "in situ", segundo duas das fontes. Se confirmada, a descoberta seria uma das maiores do ano no mundo. A Petrobras detém 60 por cento do SEAL-11, enquanto a IBV possui 40 por cento.
A Petrobras tem apostado, desde que comprou os direitos de perfurar a área há uma década, que as águas de Sergipe possuem grandes quantidades de petróleo e gás. Como operadora do bloco, a Petrobras registrou descobertas na área junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos últimos anos, conforme é exigido por lei, mas ainda tem que anunciar suas estimativas sobre o tamanho potencial da reserva. A última perfuração deixa claro o quão grande a descoberta pode ser, disseram as fontes.
A área, onde a Petrobras está agora perfurando poços de avaliação, também oferece a oportunidade de aumentar a produção brasileira, com reservas de perfuração mais fácil e barata do que no pré-sal, gigantesca reserva em águas profundas, no litoral do Sudeste brasileiro. A primeira produção em SEAL-11 e suas áreas adjacentes é esperada para 2018, disse a Petrobras em nota.
"Sergipe, sem dúvidas, tem um grande potencial e excelentes perspectivas", disse à Reuters uma fonte do governo brasileiro com conhecimento direto sobre as descobertas da Petrobras e da IBV e de seus planos de desenvolvimento. "Eu diria que Sergipe é a melhor área do Brasil em termos de perspectiva depois do pré-sal."
Pré-sal é o nome dado a uma série de reservas de petróleo preso muito abaixo do leito marinho, sob uma camada de sal, nas Bacias de Campos e Santos.
As estimativas e perspectivas sobre Sergipe às quais a Reuters teve acesso se baseiam em pelo menos dez indícios de petróleo e gás em sete poços, conforme comunicados enviados à ANP desde 16 de junho de 2011.
Em respostas enviadas por email, a Petrobras declinou dizer quanto petróleo estima haver em SEAL-11 e seus blocos adjacentes, mas disse que 16 poços perfurados desde 2008 na região de águas profundas de Sergipe encontraram vários acúmulos de petróleo, "que compõem uma nova província de petróleo na região".
O número exato somente será conhecido quando os planos de avaliação forem concluídos em algum momento de 2015, disse uma fonte da BPCL na Índia sob condição de anonimato. Alguns especialistas da indústria acreditam que os testes podem demorar mais, pelo fato da Petrobras estar atualmente sobrecarregada com outros investimentos gigantescos e estar enfrentando dificuldades para levantar fundos.
A fonte da BPCL disse que o SEAL-11 provavelmente possui entre 1 e 2 bilhões de barris de "petróleo in situ", um termo que inclui reservas impossíveis de recuperar e aquelas que podem ser economicamente produzidas. O volume pode aumentar quando as reservas nos blocos subjacentes forem incluídas.
Se a área revelar possuir 3 bilhões de barris "in situ" ou mais, ela seria capaz de produzir 1 bilhão de barris, com base nas taxas de recuperação do Brasil, de 25 a 30 por cento do petróleo existente, disse um especialista do setor petrolífero com conhecimento direto sobre o programa de perfuração.
A Petrobras e seus parceiros continuam a perfurar a área e solicitaram que a ANP aprove 8 planos de avaliação de descoberta para a região marítima, último passo antes do campo ser declarado comercialmente viável.
GIGANTE OU SUPER GIGANTE?
Além SEAL-11, a Petrobras fez pelo menos mais oito descobertas no bloco vizinho SEAL-10, que é 100 por cento de propriedade da estatal brasileira, e mais duas descobertas no bloco SEAL-4, com 75 por cento detidos pela Petrobras e 25 por cento pela indiana Oil & Natural Gas Corp (ONGC), segundo dados da ANP.
As descobertas não indicam, necessariamente, que há petróleo ou gás em quantidades comerciais. Todo óleo e gás encontrados durante perfurações, por mais insignificantes, devem ser comunicados à ANP.
A relutância da Petrobras para estimar as reservas no campo de Sergipe não é incomum na indústria do petróleo, onde muitas empresas só confirmam as estimativas de reservas após extensas perfurações.
Tal atitude, no entanto, contrasta com a avidez das autoridades brasileiras em enaltecer a área super gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Em maio a ANP disse que Libra possui de 8 a 12 bilhões de barris de óleo recuperável, com base na perfuração de um único poço. O governo planeja leiloar os direitos de produção em Libra, maior descoberta petrolífera do Brasil, em 21 de outubro.
Caso a descoberta de Sergipe seja confirmada, o petróleo e o gás encontrados em SEAL-11 podem se tornar a primeira descoberta brasileira "super gigante" (na casa dos bilhões de barris) fora da região do pré-sal, onde Libra está localizada.
Recentes perfurações também sugerem que um campo gigante de gás natural pode se estender para muito além de SEAL-11, com gás suficiente para suprir todas as necessidades atuais do Brasil "durante décadas", disse uma das fontes.
Mesmo que o volume recuperável em Sergipe fique na categoria "gigante", ou seja, na faixa das centenas de milhões de barris, a área ainda seria a primeira grande descoberta marítima no Nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do país.
"A descoberta é muito grande, e caso seja desenvolvida poderia transformar a economia do nosso Estado e da nossa região", disse à Reuters o subsecretário de Desenvolvimento Energético do governo de Sergipe, José de Oliveira Júnior.
Oliveira Júnior disse que não poderia dar uma estimativa do tamanho das reservas em SEAL-11, mas que elas são tão grandes que a Petrobras teria dito ao governo que provavelmente não será capaz de considerar o desenvolvimento da área por cerca de seis anos.
Autoridades em Sergipe estão ansiosas para desenvolver a área rapidamente. Petróleo há muito tempo tem sido produzido no Estado, principalmente em terra, mas os volumes são pequenos. A produção mensal em Sergipe é menor do que os maiores campos brasileiros produzem em uma questão de horas.
Os frutos da descoberta, no entanto, podem levar anos para chegar até os acionistas e residentes de Sergipe, apesar de sua proximidade da costa, da qualidade do óleo e de os reservatórios de menor complexidade sugerirem que seria mais barata para desenvolver do que os campos gigantes do pré-sal, disseram as fontes.
Situada em áreas com rochas mais porosas e permeáveis, o óleo leve poderia ser relativamente mais fácil de ser extraído em relação ao petróleo do pré-sal, mais pesado e preso em rochas mais compactas, disse uma fonte da indústria no Brasil.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro, Prashant Mehra em Mumbai e Nidhi Verma em Nova Délhi)
fonte: brasil 247
247 – No momento em que os principais indicadores da economia brasileira convergem para uma retomada do crescimento –  alta de 20% nas projeções da CNI para o PIB, inflação estimada em 4,8% ao final do ano e, especialmente, índice de 5,3% de desemprego, o que tecnicamente mantém o Brasil no regime de pleno emprego -, a revista inglesa The Economist faz nova  aposta na derrocada do modelo de desenvolvimento do País. Em outras palavras, quando a economia brasileira dá todas as mostras de superação da crise global, a publicação resgata sua irônica ladainha do retrocesso. O Brasil indo, a Economist voltando.
Usando, mais uma vez, a imagem do Cristo Redendor para representar o País, a mesma publicação que colocou o famoso monumento decolando como um foguete do morro do Corcovado, em 2011, agora completa sua obra, jogando de volta, num looping desastrado, o mesmo Cristo a poucos metros de espatifar-se em seu magnífico pedestal na natureza.
Pode-se achar graça da computação gráfica dos mordazes ingleses, mas, na verdade, além de estar errada do ponto de vista da tradução dos fatos econômicos obejtivos, aponta para um caso de esquizofrenia e dupla identidade. A The Economist que agride o Brasil é a mesma The Economist que adula o Brasil.
Para seus leitores desta semana, na edição para a Ásia e América Latina, a revista diz que corre-se o risco, aqui, de “estragar tudo”.
Para os anunciantes e convidados do Brazil Summit 2013 (link abaixo), porém, o que a mesma The Economist oferece é a avaliação de que “A ascensão do Brasil tem sido uma das maiores historias de sucesso econômico da última década, com níveis recordes de investimento estrangeiro, milhões de pessoas retiradas da pobreza e uma classe média em expansão que criou um novo mercado global”.
A reportagem desta semana da The Economist ainda não foi divulgada. Trata-se de uma matéria especial de 14 páginas sobre o País, com um diagnóstico que vai apontar para o desastre iminente.
Para o seminário que organiza com apoio de patrocinadores privados, a mesma The Economist que já apresenta o convite com um cenário bem  mais otimista cobra 1,7 mil dólares pela presença. Irá ocorrer n o dia 24 de outubro, no hotel Grand Hyatt, em São Paulo entre 8h00 e 18h00. Já estão confirmadas as presenças de Joaquim Barbosa, presidente do STF, de Nizan Guanaes, do grupo ABC, do ex-presidente do BC Gustavo Franco, todos críticos do atual governo, e  até mesmo do estrelado chef Alex Atalla, do restaurante D.O.M. Pelo governo, a única presença confirmada até agora entre os speakers é o presidente da Embrapa, Marco Antônio Lopes.
Pelo jeito,  The Economist vai fazer um “summit” tão desequilibrado no debate dos fatos, projeções e ideias quanto aponta a capa da reportagem que está para sair. Será que, finalmente, então, as duas identidades da mesma publicação  irão se juntar?
fonte: BRASIL 247

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ex-governadora do PSDB é acusada de improbidade em desvio de R$ 44 milhões do Detran gaúcho



A ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB) voltou a ser ré em ação de improbidade administrativa que tramita na 1ª instância da Justiça Federal. A ex-governadora é acusada de envolvimento no desvio de R$ 44 milhões no Detran gaúcho entre 2003 e 2007, em esquema de corrupção investigado pela Operação Rodin, da Polícia Federal (PF). 
Outras oito pessoas também estão envolvidas no desvio e respondem à ação. A segunda turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu nesta terça-feira os embargos de declaração movidos pelo Ministério Público Federal no Recurso Especial 1216168/RS, contra decisão anterior favorável a Yeda Crusius, que alegava que, como agente político, não poderia ser acusada de improbidade administrativa. 
Além disso, argumentava que os juízes de primeiro grau não têm competência originária para processar e julgar governadores por atos de improbidade, prerrogativa que seria apenas do STJ. O subprocurador-geral da República Aurélio Rios, responsável pelo parecer do MPF acolhido pela segunda turma do STJ, argumentou que, em julgamento anterior, a Corte Especial do STJ decidiu que "os agentes políticos - com exceção do Presidente da República -, não estão imunes à responsabilização por atos de improbidade administrativa, estando submetidos à Lei nº 8.429/92". 
Aurélio Rios ainda lembrou que Yeda Crusius não ocupa mais o cargo de governadora e tal fato tem implicação direta na ação, uma vez que o STJ não detém competência originária para processar e julgar ação de improbidade intentada contra ex-ocupante do cargo que atraía o foro especial. Por esse motivo, o subprocurador solicitou o retorno dos autos principais à primeira instância para regular julgamento da ação de improbidade administrativa.
FONTE: OS AMIGOS DO PRESIDENTE LULA



24/09/2013 - NACIONAL
Veja a íntegra da entrevista de Lula
Por: Karen Marchetti, Júlio Gardesani e Walter Venturini*  (pauta@abcdmaior.com.br)

VÍDEOS 
 


Ex-presidente dá entrevista exclusiva ao jornal ABCD MAIOR, TVT, Tribuna Metlúrgica, Rádio e Rede Brasil Atual
 
“Se tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho cócegas na garganta para falar. E vocês ajudaram a quebrar um tabu, porque fazia tempo que eu não falava durante tanto tempo. E nunca imaginei que justamente pra vocês eu fosse dar a entrevista mais difícil. Estou voltando, com muita vontade, com muita disposição – para felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o seguinte: eu estou no jogo.” Assim Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a entrevista concedida nesta terça-feira (24) a um grupo de jornalistas da Rede Brasil Atual, site, rádio e revista, da TVT e do jornal ABCD Maior. O encontro ocorreu no Instituto Lula, durou 90 minutos e foi, segundo o ex-presidente, a primeira longa entrevista concedida pelo ex-presidente da República no exercício desta “função”. Lula abriu a conversa dizendo não haver “pergunta proibida”, mas pediu que o perdoassem se no excesso de cuidados de ex-presidente ao falar pareceria “chapa branca”. "Ainda estou aprendendo a ser ex-presidente", disse. Lula falou sobre as manifestações de junho, reforma política, eleições em 2014, mensalão e Copa do Mundo. Veja abaixo a íntegra da entrevista.
 
Pergunta - Qual o impacto das manifestações de junho na vida do País e o que elas mudam na vida dos governantes?
 
Lula - Eu acredito que o impacto de tudo que aconteceu em junho de 2013 deve servir como uma grande lição para a sociedade brasileira e, sobretudo, para os governantes brasileiros. Habitualmente, nós costumávamos afirmar que o povo precisa reivindicar sempre, porque é importante estar sempre no calcanhar dos governantes cobrando as coisas para que eles não esqueçam os compromissos que fizeram durante a campanha. Certamente, muita gente de partidos políticos, sindicatos e movimentos organizados da sociedade civil foi pega de surpresa, porque foi um movimento que se deu à margem daquilo que nós conhecíamos como tradicional forma de organização.
 
Eu me lembro que não aconteceu nada no Brasil nos últimos 40 anos que a gente não estivesse à frente. Seja o movimento sindical, sejam os partidos de esquerda, seja a UNE, sejam os sem terra... Ou seja, de repente acontece uma manifestação que esses setores organizados não estavam à frente. Ela aconteceu quase que em uma voz única dizendo nós queremos mais. O que eu acho importante? Aquilo não foi um movimento contra o governo, não foi um movimento em que as pessoas queriam derrubar o governo, mas foi um movimento em que as pessoas diziam “nós queremos mais”, “nós queremos mais educação”, “nós queremos mais saúde”, “nós queremos mais transporte”, “nós queremos mais qualidade de vida”. Aí eu relembro de um discurso do Fernando Haddad durante a campanha que ele falava “você está lembrado que na sua casa, da porta para dentro, melhorou muita coisa, mas da porta para fora piorou e ficou como está”. E era verdade, porque o cara tinha comprado uma máquina de lavar roupa, uma geladeira, um televisor, mas a cidade não foi cuidada adequadamente. Ou seja, você não fez as tarefas para cuidar do transporte adequadamente, não fez o saneamento básico adequado, não tornou a periferia mais cuidadosamente boa para se morar.
 
Então, o que eu tenho dito? Que esse movimento fez com que a nossa presidenta, e eu acho que ela teve a sabedoria de dar uma resposta muito imediata, colocando a reforma política como uma coisa fundamental para que a gente possa mudar a situação do Brasil, depois da questão da saúde com o Mais Médicos, depois da aprovação de 75% dos royalties para a educação... Ou seja, foram medidas tomadas pela nossa presidenta que mostraram que o governo está num processo de evolução para tentar encontrar soluções para os problemas. Eu acho que agora ninguém pode mais dizer que o problema do transporte é só do prefeito. É do prefeito, do governador, do governo federal. Os problemas da saúde e da segurança não são mais do prefeito, passam a ser dos três juntos. Eu penso que isso tem uma nova conformidade no comportamento dos entes federados para saber que o povo hoje está acompanhando mais as coisas, está mais esperto. O cidadão conseguiu comprar o quilo de contrafilé e, na semana seguinte, ele quer comer o filé. Ele tem um carro e quer que o carro ande na rua, que não fique parado. Ele conseguiu uma casinha e quer que a rua seja melhorada, que o bairro seja melhorado. Ele quer que tenha acesso à cultura no bairro, que tenha lazer no bairro. Ele quer ter acesso à educação de qualidade.
 
Nas minhas conversas com os companheiros do PT, com os companheiros do governo, com os companheiros do movimentos sindical, eu digo sempre o seguinte: o que a gente precisa neste instante é saber que mudou a sociedade brasileira. Ela está mais exigente, ela tem mais informações do que ela tinha antes. Você imagina, nós saímos de um país que tinha, em 2007, 48 milhões de pessoas que viajavam de avião. Hoje nós temos 113 milhões de pessoas. Essa gente quer se queixar do aeroporto agora, quer se queixar do preço da passagem, quer se queixar da qualidade do serviço no avião. Antigamente você não tinha isso. Você tinha as pessoas que não tinham carro e precisavam comprar carro porque era uma paixão das pessoas. Ou seja, eu quero ter um carro, porque aí eu pego o meu carro e vou trabalhar e fico duas horas dentro do carro e vejo um cara no ônibus, do meu lado, ficando três horas.
 
Eu acho que foi uma coisa de Deus fazer com que a sociedade se manifestasse e dissesse olha, nós estamos vivos, nós reconhecemos que muita coisa foi feita e nós queremos que seja feito mais. Isso é bom porque alertou os governantes. Ao invés de ficarmos lamentando, nós temos que agradecer e começar a trabalhar para que nós façamos acontecer as melhorias que a sociedade brasileira deseja e que todos nós sabíamos que o povo queria porque está na pesquisa de opinião pública. Qualquer pesquisa que você fizer em uma campanha em qualquer cidade vai dar saúde em primeiro lugar, educação, segurança, vai dar menos emprego hoje. Mas os problemas estão colocados nas pesquisas, e o povo então resolveu colocar nas ruas com muita força. Então foi uma lição de vida que eu acho que o Brasil não pode nunca mais esquecer e o Brasil precisa saber o seguinte: nós [o governo] precisamos trabalhar mais, nós precisamos fazer mais, e precisamos trabalhar mais rápido, porque o tempo passa muito rapidamente. O mandato de um político é de quatro anos em uma prefeitura, portanto o prefeito tem que entrar e começar a fazer as coisas, porque é para isso que o povo votou nele.
 
Eu fico feliz de saber que o povo finalmente começa a dizer eu já tive emprego, já melhorou meu salário, já melhorou isso, já melhorou aquilo e agora eu quero mais. É importante a gente não esquecer as coisas que foram feitas no Brasil, porque nós saímos de 3,2 milhões de alunos na universidade para quase 7,5 milhões em dez anos. É quase uma revolução na educação. Nós sabemos o que aconteceu no ensino fundamental deste país. Depois que nós entramos, nós triplicamos o orçamento da educação. Mas tudo isso é pouco. Se a gente pegar como exemplo o seguinte: o Peru, em 1550, já teve a primeira universidade. O Brasil só foi ter a sua primeira universidade em 1920. Ou seja, quase 400 anos depois o Brasil foi ter uma universidade. Isso demonstra claramente que o Brasil, embora seja a maior economia do continente [sul-americano], embora seja a maior economia do continente, embora seja o país que tenha a maior tecnologia, também foi submetido a um maior atraso. Quando a gente vê que o Chile, a Argentina, o Uruguai tem educação melhor que a nossa, demonstra o fato de nós termos ficado 400 anos atrás do Peru para fazermos nossa primeira universidade federal. Acho que nós temos que tirar esse atraso agora.
 
Isso demonstra o fato de nós termos ficado 400 anos atrás do Peru para fazer nossa primeira universidade federal. Por isso que quando descobrimos o pré-sal colocamos que o pré-sal é o passaporte para o futuro. Temos que usar o pré-sal não para jogar dinheiro no ralo, como habitualmente se faz, mas para investimento em educação, em tecnologia, em saúde, para a gente tirar a sociedade do atraso a que foi submetida durante tantos e tantos anos.
 
Que bom que o povo resolveu dizer “estou aqui”. A única coisa grave do movimento é a tentativa de manipulação para a tentativa de negar a política. Tenho dito publicamente que toda vez, em qualquer lugar histórico, em qualquer lugar do mundo que se negou a política, o que veio depois é pior. Portanto, se você quer mudar, mude através da política. Participe, entre num partido, crie um partido, faça o que você quiser. Aqui no Brasil o que teve foi o regime militar de 1964. No Chile foi Pinochet, na Argentina foi ditadura. Não queremos isso. Queremos democracia exercida em sua plenitude. E a sociedade quer isso. A sociedade quer debater política, então vamos debater sem medo de debater qualquer assunto. Sou daqueles que acham que não tem tema proibido.
 
Em relação às manifestações de junho, imaginava-se que elas dariam força para aprovação da reforma política no Congresso e também que em 2011 a base aliada maior da Dilma daria mais condições para isso. Por que não avança?
 
Não é fácil. As pessoas que foram para a rua não vão votar no Congresso Nacional. É importante lembrar que fizemos a campanha das Diretas, que possivelmente foi um dos maiores movimentos cívicos desse país, meses em que fomos à rua com todos os partidos políticos, com movimento sindical, centenas e centenas de manifestações pelo Brasil inteiro, toda a sociedade querendo, e quando chegou no Congresso não tínhamos número para aprovar e não aprovamos.
 
Tenho dito que só teremos uma reforma política plena o dia em que tivermos uma constituinte própria para fazer uma reforma política. Achar que os atuais deputados vão fazer uma reforma política mudando o status quo é muito difícil, você pode melhorar um pouco. Acredito que e possível discutirmos uma mudança na votação, votar em lista, financiamento de campanha.. Há um equívoco de fazer a sociedade compreender que o financiamento público vai tirar o dinheiro da União. A forma mais eficaz, honesta e barata de se fazer uma campanha política é você saber que cada voto vale 1 centavo, R$ 1 real, R$ 10 reais e que cada partido vai ter tanto, e que cada partido vai fazer aquilo e quem for pegar dinheiro privado tem que ser tornar crime inafiançável para que as pessoas não fiquem subordinadas aos empresários.
 
É engraçado que as pessoas não se tocam “Por que os empresários não estão defendendo o financiamento público?”. É muito interessante que algumas pessoas, que se acham as mais honestas do planeta, acha que o financiamento público é corrupção e vai gastar dinheiro público e não se toca por que o empresariado brasileiro não está na rua fazendo campanha para que seja pública e parar de dar dinheiro?! Oras, é porque a eles interessam cada um construir a sua bancada. Os bancos têm bancada no Congresso Nacional, tem influência, porque cada um tem a lista de quem financia. Quem tiver duvida disso, saia candidato para ver o que acontece para ver como você se elege no Brasil.
Quando colocamos financiamento publico é porque a gente acredita que pode melhorar. Quando propõe voto em lista, voto misto. O PT apresentou proposta de plebiscito, ela vai para plenário, não sei se vai ser votada.
 
Acredito que a gente vai conseguir fazer uma reforma política muito capenga. Temos que levar em conta que há interesses partidários. Tem partidos que avaliam que está bom assim.O cara tem mandato e quer preservar o seu mandato.
 
Na minha opinião, a reforma política é a melhor possibilidade para se mudar a lógica da política no Brasil. E ter em conta que não é só para combater a corrupção, mas para facilitar as coalizões que são conseguidas, porque quando você ganha uma eleição com um partido aliado a outro tem que ter coalizão na hora para montar o governo.
 
Aqui no Brasil se acha um absurdo que um partido ganha eleição e dê cargo a outro, mas no mundo inteiro é assim. A Angela Merkel acabou de ser eleita primeira ministra da Alemanha, com a maior votação dos últimos anos, vai ter que fazer uma coalizão com algum partido, vai ter que dar ministério para algum partido senão não forma maioria.
 
A reforma política pode ajudar nesse processo, mas acho que será muito frágil feita sobretudo no ano de eleições. Nada, estou avisando com antecedência, nada, mudará para as próximas eleições. As pessoas podem querer fazer as coisas para 2018, 2020, mas para essa eu acho que não vai haver mudança.
 
O Mais Médicos é um programa apoiado por 70% da população. No entanto, há uma resistência de determinados setores da sociedade. Há oportunismo nisso?
 
Deixa eu dizer uma coisa que não é nova, ou seja... As entidades que representam os médicos no Brasil nunca reconheceram que no Brasil faltava médico. Nunca reconheceram. Mais recentemente nós temos uma gama de denúncias de prefeitos espalhados pelo interior do país que querem contratar algumas especialidades que não existem. Vou dar um exemplo: anestesista está em falta no país, pediatra está em falta, ginecologista... Estou citando apenas algumas, mas há uma série de profissionais que estão em falta no Brasil. Durante muito tempo a gente brigou para tentar fazer com que os alunos que estudam Medicina, por exemplo, em Cuba, pudessem voltar ao Brasil e prestar. Aí nós conseguimos um avanço que era fazer que, se uma universidade adotar ele e ele passar na universidade, ele poderia. Isso demonstra uma visão pequena do corporativismo. Padilha tem razão com ele fala: não está se buscando médico fora para substituir o médico brasileiro; se está buscando médico fora para trabalhar onde não tem médico. E o Padilha sabe que o Mais Médicos não vai resolver o problema da saúde. O Mais Médicos vai dar oportunidade ao cidadão que não tem acesso a nenhum médico, a ter acesso ao primeiro médico e tratamento. E quando esse cidadão tiver acesso ao médico, ele vai querer mais saúde, porque ele vai ter informações: vão pedir pra mulher fazer mamografia, se é um homem vai ter que fazer exame de câncer não sei das quantas... Então, toda a vez vai precisar formar mais gente. É um trabalho bom. Por que é bom? Porque, quando em 2007 derrubaram a CPMF, que foi um ato de insanidade dos tucanos em relação a meu governo, fizeram isso achando que iam me prejudicar em 2007, a CPMF era 0,38% que se descontava em cada cheque que você passava... E não fizeram isso por conta da quantia, fizeram isso porque a CPMF permitia que a gente pudesse acompanhar e evitar a sonegação nesse país. Era por isso que eram contra a CPMF. Eles tiraram uma bagatela de R$ 40 bilhões por ano a partir de 2007. Soma isso em quatro ou sete anos? A quantidade de dinheiro que tiraram da saúde, achando que iam prejudicar o Lula. Qual era a ideia? “Vamos prejudicar o Lula. Vamos quebrar a cara dele. Ele não vai se eleger”. E caíram do cavalo, porque terminei meu mandato com 87% de bom e ótimo, 3% de ruim e péssimo e 10% de regular. Pois bem, quem eles prejudicaram? O povo. E alguns estão prejudicados porque viraram governador, e agora estão sabendo a quantidade de dinheiro que falta pra eles, ou viraram prefeitos. Então, foi um gesto de insanidade. Nós temos que colocar na sociedade brasileira a seguinte ideia: você não vai conseguir fazer com que as camadas mais pobres da população tenha acesso a uma boa qualidade de saúde e à média ou alta complexidade sem dinheiro. Se nós quisermos dar ao povo pobre o direito de ter acesso às mesmas máquinas que eu tenho, por conta de um plano médico.
 
Se nós quisermos dar ao povo pobre o direito de ter acesso às mesmas máquinas que eu tenho, por conta de um plano médico, e que os ricos deste país têm por conta de um plano médico, tem que ter consciência de que tem que ter dinheiro. Tem gente que diz “eu tenho saúde boa porque pago do meu bolso”. Não é verdade. Aquilo que ele tira do bolso ele paga o Imposto de Renda e quem paga o tratamento dele é o Estado brasileiro. Essa é a verdade nua e crua. Todas as máquinas que eu passo quando faço exame são pagas pelo Estado, que me restitui na declaração do Imposto de Renda.
Então, temos que ter consciência de que temos que melhorar isso. A Dilma tem consciência disso, o Padilha tem consciência e é preciso que a gente discuta com a sociedade. Porque achar que a gente pode elevar a um padrão de ter acesso de alta complexidade as pessoas mais pobres sem dinheiro é vender ilusão. E achamos que o rico tem que pagar pela saúde do povo mais pobre. Era por isso que tínhamos apresentado um programa chamado Mais Saúde em que a gente iria utilizar todo o dinheiro da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) para cuidar da saúde. Agora vai ter um dinheiro do pré-sal e espero que num futuro bem próximo a gente possa fazer com que as pessoas tenham acesso à alta complexidade.
 
O Brasil precisa acabar com a mania de dizer que o SUS (Sistema Único de Saúde) não funciona. O problema é que universaliza a saúde, coloca muita gente, a qualidade diminui. Se atendesse só 30% melhoraria a qualidade, se atendesse só 20% ela seria melhor, se atendesse só 10% ela seria extraordinária. Mas na hora em que tem que ter um programa para todo mundo precisa de mais recurso. É isso que temos de ter em conta.
 
Dilma e Padilha marcaram um gol com o Mais Médicos. Abriram um debate muito importante com a sociedade para as pessoas começarem a enxergar. Mesmo numa cidade como São Bernardo, Santo André, na periferia... Lembro que a Erundina era prefeita aqui em São Paulo e não conseguia levar médico na periferia. O dado concreto é que o Mais Médicos foi um feito extraordinário. Isso, ao invés de nos dar sossego, vai nos cobrar mais saúde, mais qualidade de saúde. É para isso que a gente vive. Para isso que a gente quer governar. Para poder ser cobrado todos os dias e fazer cada vez mais.
 
O senhor pode comentar o cenário nacional para as eleições de 2014? Temos novidades na base aliada, com a possível saída do PSB. É possível fazermos um governo com uma base aliada mais enxuta?
 
O problema de fazer uma avaliação de 2014 era que eu precisaria de uma bola de cristal na minha frente. O que eu falar aqui pode ser desmentido em um semana com o posicionamento de um partido político. Primeiro: eu trabalho com a ideia de que a presidente Dilma deve fazer um esforço para manter sua base de sustentação.
 
Uma coisa o eleitor precisa compreender, quando fala que no Congresso tem isso, que tem aquilo: essa gente foi eleita pelo povo. Que essa gente vota no Congresso e que pra Dilma ter alguma coisa aprovada ela precisa de 41 senadores e 257 deputados na Câmara. Se não, não ganha. Apenas boa vontade não ganha.
 
Não se esqueçam que eu fui presidente da república e que meu partido tinha 13 senadores em 81 e 80 deputados, de 513. Não tem milagre.
 
Se eu quiser aprovar as coisas você tem que fazer coalizão. Por isso, acho que a Dilma deve manter a base. Veja nos Estados Unidos, onde só tem dois partidos. Vejam o que o Obama passa. Os republicanos passam oito anos sem aprovar nada. Quer facilidade, elege a maioria!
No fundo, no fundo, o principal é exercitarmos a democracia.
 
Compor com as forças políticas que existe e que concorda com seu programa e fazer um programa o mais transparente possível.
 
Acho que a maioria vai ficar com ela, que os tucanos vão ter candidato, talvez façam uma coalizão com o DEM, ou com outros partidos de direita, mas eles não podem fazer uma coligação com a imprensa, que é o grande aliado deles. Mas, de qualquer forma, vamos ter que esperar o dia 5 do próximo mês para saber sobre o registro do partido de Marina Silva (Rede) o do Paulinho (Solidariedade). Se a Marina conseguir, ela certamente será candidata. O Eduardo Campos (PSB) quer ser, mas já me disse que só decide em março ou abril do ano que vem. O PSDB ainda não sabe se vai de Aécio ou se o José Serra vai tentar criar um caso.
 
Para um candidato disputar uma eleição em condição de vitória ele precisa de uma das duas coisas: ou ter toda a eleite ao seu lado, com apoio irrestrito da grande imprensa e com muito dinheiro, como foi o Collor em 1989. O outro é você ter um partido político forte, que tenha parte em todo o território nacional. Além, claro, de um bom candidato, que sem candidato forte não adianta nada. Assim, este partido forte, precisa ter a capacidade de fazer uma aliança com outros partidos, de preferência de esquerda e centro-esquerda. E depois pensamos as composições. É um jogo de costura. Tem partido que diz que apoia a Dilma no governo federal, mas em outros estados apoio o candidato do outro lado. Então, quem ele vai defender na campanha?
 
Cansei de perder eleições com 30% dos votos. Então chegamos em 2012 e tivemos que fazer uma ampla composição. Por isso eu acredito que nunca tivemos tão próximos de vencer as eleições em São Paulo. Por isso é preciso dividir o lado de lá. É preciso alcançar alianças além do PT, do PDT, do PCdoB, para, então, construirmos um discurso apropriado. Estamos no caminho certo.
 
Por isso só teremos uma posição clara em 2014. Como fica no Ceará? Vamos sair do governo ou ter candidatura própria? E no Rio? Se o Lindenberg (Lindenberg Farias, Senador pelo PT-RJ) é candidato, como fica o Sérgio Cabral (governador do Rio de janewiro pelo PMDB)? É como se fosse uma cesta de problemas que você tem que peneirar pra separar o que você acha que pode construir. Estou otimista pra 2014, pois eu acho que tudo indica que o pior da crise econômica mundial já passou, que o Brasil tem um potencial de crescimento sustentável. O Brasil tem muita cois para fazer em infraestrutura, tem dinheiro, tem projetos, estamos em licitação e em 2014 já teremos construção. Teremos o processo, no ano que vem, de consagração do pré-sal, tirando milhares de barris, e também temos o xisto em muitos lugares do Brasil.
 
Temos que explorar a riqueza de biodiversidade da maior floresta que temos. Então, eu acho que a Dilma está em um momento importante. Sabendo, sempre, que eleição é eleição e que a gente tem que disputar cada voto e depois esperar o resultado das urnas.
Temos uma presidenta e eu falo dela com muito orgulho. Vejo as pessoas colocarem defeitos na Dilma, essa história que ela não gosta de conversar. Cada um tem um estilo! O que eu tenho consciência é que poucas vezes no mundo tivemos um presidente tão descente como a Dilma. De caráter, competente e séria. Isso é condição fundmental para o Brasil seguir em sua trajetória de crescimento.
 
A saída do PSB preocupa?
 
Vi com certa tristeza o afastamento de Campos do governo. Nós tivemos uma polêmica em Pernambuco na eleição para prefeito e depois outro probleminha na prefeitura de Fortaleza e isso criou uma fissura entre o PT e o PSB. No entanto ainda trabalho com a perspectiva de continuar o que estamos fazendo junto na campanha nacional. Mas não seria a primeira vez que lançamos candidato com o PSB. Já tive em 2002, com o Garotinho, em 89 e 98 fui apoiado no segundo turno pelo PSB.
 
Acho que a manutenção da aliança com PSB é muito importante do ponto de vista simbólico termos o PSB. Naturalmente que temos divergências regionais, mas acredito que podemos fazer uma campanha civilizada para estarmos juntos no segundo turno.
 
Qual será o seu papel nas eleições?
 
O meu papel será o papel que a Dilma e o PT desejarem. Farei a campanha como se fosse a minha, isso é o que eu sei fazer e espero estar em condições até lá. Me considero razoavelmente bom de palanque. Me sinto bem. Por isso agradeço a Deus todos os dias pela relação de confiança que a população construiu comigo. A vitória da Dilma é a minha vitória. O sucesso da presidenta e o sucesso do povo brasileiro. Da ascensão dos mais pobres. É que tem gente que fica incomodado com o sucesso dos mais pobres, que hoje tem acesso à universidades, restaurantes, shoppings, praças e exposições nas bienais. E agora vem esse negócio de pobre andando de avião. Isso tudo é um gesto ruim, pois acredito que, quanto mais o pobre ascender, melhor será para todos, já que a classe média sobe junto e todo mundo ganha. Quando não tivermos mais miseráveis teremos menos violência, menos assaltos. Afinal, não é isso que nós queremos?
 
Por isso tenho certeza que ela fará um segundo mandato infinitamente melhor que o primeiro. Falo com convicção, pois eu tinha medo do segundo mandato.
 
Como o PSDB trata o ABCD e a Região Metropolitana de São Paulo? Há reclamações de prefeitos sobre o abandono de governador. A disputa no Estado de São Paulo está aberta?
 
Os tucanos estão no processo de fadiga de material. Eles não têm mais o que propor. O que não significa dizer que o governador está fraco. Alckmin é uma figura com força política no estado e precisamos de muita habilidade para derrotá-lo. Ele não tem mais proposta para o ABCD, ou para a Região Metropolitana. É muito ruim quando pegamos as avaliações do MEC (Ministério da Educação), sobre o ensino fundamental, e vemos que São Paulo está entre os piores estados. Então, parece uma coisa sem controle. Acredito que se o Padilha for realmente o indicado, teremos um ótimo candidato em São Paulo.
 
O julgamento da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, teve mais uma etapa concluída na última semana. Qual a expectativa do senhor, agora, sobre o julgamento do mérito dos embargos infringentes.
 
Lhes darei uma resposta tradicional sobre o tema. Eu, desde o começo do processo do mensalão, tenho dito que qualquer manifestação minha sobre o caso só seria feita após terminar o processo, pois fui quem indicou alguns ministros que estão lá. Não quero ficar colocando em dúvida questões da Suprema Corte. O que acontece é que, às vezes, fico um pouco chateado, pois se depender do comportamento de um ou de outro na imprensa já teríamos condenações à morte. Não precisa nem de julgamento.
 
Tenho muita vontade de falar do que penso e imagino que aconteceu. Vejo que alguns ministros tem preocupação em estudar o caso e outros não tem. Quando o julgamento terminar, seja qual for o resultado, eu vou falar o que penso.
 
E a regulamentação da mídia. Havia, no final de sua gestão, uma proposta elaborada pelo então ministro Franklin Martins. No entanto, o debate não avançou muito nos últimos 12 anos. O que dificulta a implementação de algum marco regulatório da imprensa?
 
Temos que levar em conta o seguinte: tomamos posse em janeiro de 2003 e depois, já em 2005, tivemos a movimentação do mensalão, uma questão muito delicada e que nossa obrigação era provar que tínhamos condição de continuar governando.
 
Em 2007, no meu segundo mandato, fizemos a conferência de comunicação. Implantamos a mídia técnica, para distribuir a verba de publicidade em mais veículos. Antes, tínhamos apenas 300 que recebiam verba, da Secom e também de empresas públicas, mas chagamos a oito mil no do mandato.
A Conferência foi um sucesso extraordinário. Mas a proposta que surgiu do encontro, mesmo podendo não ser a melhor de todas, não andou. Não andou e eu acho que não foi legal ela não ter andado.
Tenho conversado e o Paulo Bernardo (Ministro das Comunicações) disse que faria um debate na Câmara, mas não fez. Não temos mais que ficar chorando o que já foi. Temos agora a regulamentação da internet no Congresso. Então é importante mantermos a neutralidade nesse tema e eu posso garantir que o debate da mídia vai voltar. Não sei se em 2014, ano de eleição.
 
Esse é um debate difícil. Basta vermos no Congresso quantos não tem concessão de rádio e TV. Tem governador, senador, nacionalmente, os meios de comunicação nos estados, que é dono da Globo, do SBT, da Bandeirantes são, geralmente, políticos.
 
Enfim, este é um debate que acontece em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o Obama teve problemas com a Fox (rede americana de televisão). O mesmo aconteceu na Argentina, com o Clarín (jornal argentino). No México tivemos uma guerra. E aqui no Brasil também vamos ter este processo. Como aqui não tem briga, é tudo feito na base do acordo, podemos ter uma regulamentação que seja confortável para todos. Por isso que eu não reclamo da imprensa. A imprensa sempre me tratou bem. Eu sou agradecido, pois quando eles falavam mentiras sobre mim, o povo percebia. Não sei quem inventou o formador de opinião. Hoje, o povo tem dezenas de outros meios para se informar. Em qualquer lugar. Em uma obra no interior da Bahia ou no Pernambuco o cara tá lá, tuitando no celular.
Por isso acredito que a imprensa só pode ganhar credibilidade se forem verdadeiros. Não precisa mentir. Contem o fato e não a versão.
 
Às vezes a gente vê a TV e está vendo o que está acontecendo. Vem o replay, vemos de novo e o cara está lá em cima falando exatamente o contrário do que estamos vendo. O Brasil evoluiu e por isso a imprensa tem que evoluir também. Eu ligo a TV de manhã e é tanta morte, assalto, atropelamento. Não é possível que não tenha nascido uma criança nesse dia! Parece que ninguém arrumou um emprego. Às vezes a gente fica até com medo de sair de casa. Eu acho que muita coisa evoluiu no Brasil, mas os meios de comunicação não quiseram evoluir. Eles saíram de um momento, de pensamento único, em defesa do governo anterior ao nosso, e passaram a ter pensamento único contrário no nosso governo. Pensamento de que tudo é errado, e até hoje continua assim. É uma loucura porque nunca ganharam tanto dinheiro como ganham agora. Ou seja, na hora em que o pobre começa a ter acesso ao shopping, supermercado. Eles ficam incomodados. Tá todo mundo vendendo. Faço debate com empresários toda semana e nunca se vendeu tanto neste país. As pessoas agora tem acesso a muita coisa. Compram sapato, viajam de avião, compram roupa e televisão. E não sei por que reclamam. Eu sinceramente fico pensando que é uma questão de pele. Parece que tem um negocio que transcende a razão. Parece que é assim: ele é legal, ele faz tudo, eu tô rico, mas ele não é do meu time. Ele é do outro lado. Uma vez estava na casa de um amigo, que me apresentou uma negona. Ele falava que essa negona, a Dona Benedita era fantástica, que estava com ele a mais de 40 anos e que cuidou dos seus filhos. Falou que era até da família. Aí fomos almoçar e quando fui embora me despedir da Dona Benedita e ela pediu para eu perguntar para o meu amigo se ela estava no seu testamento (risos). Eu sei o que eu fiz neste país e se voltasse hoje eu repetiria tudo. Na minha cabeça era que eu tinha quatro anos de mandato e não podia errar. Se não der certo, nunca mais um peão vai governar este país, então não podia errar. Eu sei o que eu fiz, o quanto as empresas cresceram, a quantidade de empresas que se expandiram no mundo, empresa que multiplicaram o faturamento. E os empresários reconhecem isso. Eles falam isso comigo. E isso vai desde a empresários grandes a catadores de papel.
 
A classe trabalhadora teve um papel intensa no seu governo e até agora. Qual é o desafio da classe trabalhadora daqui pra frente?
 
Eu devo tudo o que eu sou ao alto grau de consciência política que os trabalhadores brasileiros adquiram. Eu sei qual era o grau de consciência quando eu entrei no Sindicato (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) como presidente em 1975 ou como delegado de base em 1969, e sei o que é hoje. A classe trabalhadora mudou. Essa é a verdade. Eu ia na Volkswagen nos anos 1980 tinha 44 mil trabalhadores e hoje tem 18 mil. É um terço do que a gente tinha naquela época. A empresa mudou. Está mais sofisticada. Mudou de perfil a classe trabalhador. Hoje tem crescimento grande na questão de serviço, telecomunicações e outros setores que não é mais só industrial, mas de qualquer forma, seja trabalhadores do setor primário ou terciário, continua a classe trabalhadora sendo a coisa mais importante em um país. O desafio colocado para classe trabalhadora é pensar se o papel dela agora é o mesmo de antes ou é inovar? Um exemplo, hoje o movimento sindical, conquistou um espaço que nos não tínhamos nos anos 80. A gente era mais emoção, mobilização e guerra. Hoje é muito mais consciência política. Hoje o Rafael Marques (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) não precisa ir muitas vezes à porta da empresa para parar. A comissão de fábrica faz a paralisação. Isso é uma evolução, mas entretanto, aumentou o desafio. Não é uma questão de salário, transporte, melhorias da qualidade de refeição. São outras coisas agora. Precisamos representar os trabalhadores fora do portão das fabricas. Quando ele sai da fábrica, ele continua sendo trabalhador. O movimento sindical tem de fazer o processo de reciclagem em quais as bandeiras para o século 21. Não pode ser a mesma bandeira do passado. Hoje o trabalhador quer ter um computador em casa, ter acesso a banda larga, querem ter acesso a coisas que não estão na pauta de reivindicação. Vamos ter de evoluir. Só dentro da fabrica não resolve mais. Temos que discutir novas profissões, funções e jornadas de trabalho. E acho que esse desafio é mais grave e difícil que o da minha época. O papel de um dirigente sindical de hoje é muito mais complicado do que o meu papel da década de 80. Antes ia para porta de fabrica, na época era ditadura, ficava meia hora xingando o governo, mais meia hora xingando o patrão e chamava o trabalhador para a briga. Hoje você tem menor taxa de desemprego no país, 10 anos de aumento real no salário, participação de lucros. Se não são essas as prioridades, quais são agora? O sindicato tem de sair do chão da fábrica e fazer o outro papel? Estamos em um momento de descobertas de novas funções do movimento sindical brasileiro. É uma evolução que o movimento sindical tem de encontrar. Já fiz algumas discussões com os movimentos sindicais e não é uma tarefa fácil. Tem de discutir com as centrais sindicais uma mudança na representação. Para melhorar o atendimento aos trabalhadores.
 
O senhor já falou da sua preocupação com a Copa do Mundo. A preocupação com as informações que não são explicadas corretamente, como por exemplo, a questão do financiamento....
 
Eu já conversei com muita gente sobre este assunto. Falei com ministros, com Dilma, com a emissora que vai transmitir, com patrocinadores. E por que estou preocupado com isso? É importante lembrar que o Brasil não é um país qualquer. O Brasil é a sexta economia mundial e nos conquistamos uma Copa do Mundo. Agora precisamos ver se a Copa será um evento onde o Brasil fortaleça sua imagem para o mundo ou a gente vai fazer uma Copa mostrando os problemas internos? Se tiver corrupção no estádio (nas obras dos estádios) que falam quem fez e processa os responsáveis. O que não pode é trabalhar com o denuncismo. O País tem governo federal, estadual e municipal e todos estão envolvidos com a Copa do Mundo. O MP (Ministério Público) acompanha a Copa do Mundo e as Olimpíadas e tem um decreto para divulgar todos os investimentos nesses dois eventos e até agora não tem nada. Não podemos permitir que alguma má informação seja passada pela sociedade sem que tenha a resposta correta. Tem gente que acha que não deveria ter a Copa do Mundo? Ótimo, porque tem gente que acha que tem de ter o evento. E isso aconteceu no mundo inteiro. O que eu acho é que temos de fazer da Copa Mundo um motivo de orgulho para o País. Eu vi agora, na conquista do Japão com as Olimpíadas e que a conquista era para melhorar a imagem do país. No Brasil é o contrário. É o puro complexo do vira-lata. Ou será que a Copa do Mundo e as Olimpíadas são só para os países do G8? É uma coisa que deveríamos estar maravilhados . Ninguém vai esconder os problemas que nós temos. Onde não os têm? Ninguém vai esconder os problemas, os pobres. Isso não mesmo. A maior emoção que eu senti, olha que sou um homem de muitas emoções, foi a conquista em Copenhagen das Olimpíadas em 2016. Estou com a Marisa há 39 anos e nunca vi ela chorar, nem quando ganhei ou perdi as eleições, mas naquele dia, depois da apresentação do Brasil, a Dona Marisa estava chorando. Foi um momento único. Acho que estamos jogando fora uma oportunidade de fazer uma coisa boa se tornar uma coisa boa. As pessoas querem fazer de uma coisa boa coisa ruim. A minha preocupação é que os governos, as empreenderias têm de mostrar o que está acontecendo e assumir a responsabilidade. As obras vão ficar quando a Copa do Mundo for embora.
 
Se tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho cócegas na garganta para falar. E vocês ajudaram a quebrar um tabu, porque fazia tempo que eu não falava durante tanto tempo. E nunca imaginei que justamente pra vocês eu fosse dar a entrevista mais difícil. Estou voltando, com muita vontade, com muita disposição – para felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o seguinte: eu estou no jogo.
* Com Rádio e Rede Brasil Atual, TVT e Tribuna Metalúrgica