quarta-feira, 29 de outubro de 2014


Haddad:
Veja e boatos roubaram
votos da Dilma em SP

A partir de quinta-feira a cidade foi tomada por uma comoção incontrolável !

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad considera que a votação da Presidenta Dilma Rousseff na capital paulista foi prejudicada pela última edição da revista Veja, que trouxe denuncias sobre suposta corrupção na Petrobras. O petista condenou a forma como a publicação foi distribuída em pleno processo eleitoral.

“A última semana foi muito atípica. Nós tranquilamente superaríamos os 40% na cidade de São Paulo. A edição da Revista Veja, a distribuição gratuita nos metrôs, trens e terminais, o rumor, que vamos apurar e punir, de que a Prefeitura tirava as revistas das bancas e, por fim, o boato da morte por envenenamento do doleiro delator”, denunciou Haddad nesta terça-feira (28) em entrevista a Paulo Henrique Amorim na TV Afiada.

E continuou: “Nosso tracking diário apontava algo em torno de 40 e 41%. Comparado com os 46% de 2010, não teria revelado nenhum problema. A cidade foi tomada por uma comoção nos últimos quatro dias antes da eleição”, declarou o prefeito.

Ainda nesta terça, ao SBT Brasil, a Presidenta Dilma defendeu uma regularização econômica dos meios de comunicação no Brasil ao afirmar que o “direito de resposta é democrático e deve ser regularizado.

Abaixo, trechos da entrevista de Haddad ao Conversa Afiada:

Eleição de 2014 e votação da Dilma em São Paulo:


A última semana foi muito atípica. Nós tranquilamente superaríamos os 40% na cidade de São Paulo.


Nosso tracking diário apontava algo em torno de 40 e 41%. Comparado com os 46% de 2010, não teria revelado nenhum problema.


Na última semana, sobretudo a partir de quinta, três ou quatro episódios dramáticos para a cidade.


A edição da Revista Veja, a distribuição gratuita nos metrôs, trens e terminais, o rumor, que vamos apurar e punir, de que a Prefeitura tirava as revistas das bancas e, por fim, o boato da morte por envenenamento do doleiro delator.


Cidade foi tomada por uma comoção nos últimos quatro dias antes da eleição.


Em quatro dias,é natural termos caído de 40% para 36% na capital. Mesmo assim, tivemos o mesmo percentual de Belo Horizonte.


Afetou o humor da cidade.


Imprensa:


Vi hoje várias reportagens e vi um cartaz muito significativo: ‘eu quero que a imprensa fale, mas não quero que ela me cale’


O problema não é o que a imprensa diz, é o que ela não publica.


Construção de caminho pela esquerda em São Paulo:


Temos que reafirmar nossa agenda, de uma cidade para todos


Já há uma compreensão, sobretudo da juventude, que é a reapropriarão dos espaços públicos. Isso tem a ver com as praças WiFi, a iluminação LED, tem a ver com a coleta seletiva.


Tem uma agenda progressista que a juventude se apropria.


A cidade não pode cair de novo de optar pelo retrocesso.


Crise da água no estado:


Ela (a crise) tem elementos desconhecidos da população e dos gestores.


Se desde 2011 há essa ameaça e a imprensa não divulgou?


Um relatório só foi divulgado na segunda-feira depois do primeiro turno, com o (Geraldo) Alckmin já reeleito (para governador)


Eu acho que a condução pela Sabesp e pela agência estadual reguladora Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia) merece criticas.


Causa estranheza ninguém saber o nome do presidente dessa agência reguladora.


Todos os prefeitos da região metropolitana buscam informações.


Já há desabastecimento que a imprensa tem noticiado


Reuniões da Sabesp com a prefeitura foram marcadas e remarcadas


Todos exigem transparência. Queremos saber sobre o planejamento da Sabesp


Queremos manter o assunto na grande política, mas dando uma resposta satisfatória à população


Reeleição de Dilma e renegociação da dívida:


A Dilma fez muito por São Paulo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como obras de drenagem, mobilidade urbana, Minha Casa Minha Vida. Estamos com um cardápio de obras muito importante. Um pacote de R$ 14 bilhões.


Mas isso nada valerá sem a aprovação da renegociacao da dívida. Precisamos aprovar no Senado o PL (Projeto de Lei) de troca do indexador da dívida de São Paulo perante a União.


Agora é a hora de promover a redenção da cidade de São Paulo.


São 176 cidades na mesma situação e alguns Estados


O resultado da eleição no Rio Grande do Sul tem a ver com isso.


A renegociacao da divida não é questão partidária, é federativa.


A União não pode receber dos entes federados um juro superior ao que ela paga para rolar a dívida que ela assumiu de Estados e municípios.


No fundo, estamos financiando a União.


A Presidenta é a favor do projeto de lei que muda, que está na mão de Renan Calheiros (PMDB – Presidente do Senado)


PT nacional:


O PT é cada vez menos paulista.


Somos partidos nacionais, como o PMDB


Temos um aprendizado de sete eleições presidenciais


Tem que elogiar a campanha do PSDB que assumiu o legado do Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente pelo PSDB. Foi um avanço


Divisão do Brasil:


Não existe essa divisão.


A Dilma foi eleita com 56% dos votos em 2010. Agora, beirou os 52%.


Sempre haverá o contraditório.


Obama ganhou no laço, Hollande também.


Natural da democracia é ter uma disputa acirrada em torno de projetos e visões de mundo.



247 - Em vídeo postado na noite desta terça-feira, o ex-presidente Lula agradeceu o apoio do povo e disse que os eleitores deram uma lição ao País. “Eu acho que o povo brasileiro, com todas as divergências, com todos os seus votos diferenciados, deu uma lição de política nos políticos".
Segundo ele, o Brasil melhorou muito com programas sociais como o Bolsa-Família: "A miséria absoluta acabou, as pessoas ganharam cidadania e quem mais ganhou com isso? Ganhou a classe média, ganharam as empresas".
Lula também fez também um manifesto contra o ódio e o preconceito: "Mais generosidade e menos preconceito vai fazer um bem imenso ao País"; "Faço um convite a você que tem preconceito: abra seu coração, abra sua alma e dê uma chance a quem tem menos".
Desde a vitória da presidente Dilma Rousseff neste domingo, ele já não esconde mais seu desejo de voltar ao poder em 2018. A ideia foi publicamente defendida pelo presidente do PT, Rui Falcão, e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Ele teria dito a aliados que pretende atuar de forma mais efetiva no segundo mandato de Dilma Rousseff para evitar maiores desgastes do governo com a base aliada, como tem ocorrido nos últimos anos. Busca também corrigir o distanciamento dos movimentos sociais, o afastamento com empresários e o excesso de centralização nas ações.
Lula afirma que quer ser mais ouvido quando em situações de crise e dificuldades com o Congresso. Em entrevista nesta terça (28) ao SBT, Dilma disse que "o que o Lula quiser ser, eu apoiarei".
Leia aqui reportagem de Natuza Nery sobre o assunto.
Assista o vídeo de Lula:

segunda-feira, 27 de outubro de 2014


Por Leonardo Attuch
O Brasil amanhece, nesta segunda-feira, não muito diferente do que foi nos últimos dias, semanas e anos de governo Dilma – uma aposta renovada pelo eleitor brasileiro para os próximos quatro anos. O desemprego continua a ser um dos mais baixos da história, a inflação não está fora de controle e transformações estruturais, como o avanço na exploração do pré-sal, continuam em curso.
No entanto, raras vezes, na história da humanidade, um país foi tão vilipendiado e rebaixado por sua própria elite. Como jamais se viu, uma sociedade se permitiu cegar pelo ódio político, pela intolerância e pela mentira. Para citar apenas um caso, o dirigente de uma consultoria financeira lançou um livro intitulado "O Fim do Brasil", profecia que se realizaria em caso de reeleição da presidente Dilma. A julgar por seu catastrofismo, que foi levado a sério por alguns agentes do mercado financeiro, esta segunda-feira seria o "dia em que a terra parou", como diria Raul Seixas.
No entanto, basta abrir os olhos – sim, abrir os olhos, após a cegueira e a histeria das últimas semanas – para enxergar uma realidade bem diferente. O Brasil fechará o ano com a inflação dentro dos limites da meta pelo décimo ano consecutivo, com uma dívida interna estável, embora a situação fiscal seja menos confortável do que no passado, e com uma população que volta a confiar no futuro – este, um dos dados mais importantes das últimas pesquisas. Quando as pessoas acreditam que irão manter seus empregos e seu poder de compra, o motor do consumo e do crédito se mantém ligado e a pleno vapor.
Se há a necessidade de ajustes na economia, eles já são reconhecidos pelas autoridades, em Brasília. Especialmente em alguns setores, como o do etanol, que foi prejudicado pela contenção dos preços dos combustíveis e será beneficiado com a volta da Cide – um importo que tornará o álcool mais competitivo na bomba. A boa notícia é que os ajustes necessários são bem menos severos do que se apregoa – 2015, ao contrário do que muitos imaginam, não será o ano da catástrofe anunciada.
Passadas as eleições, é também a hora de superar antagonismos, divisões e retomar o diálogo. Em vez de enxergar o copo meio vazio, é hora de encarar a metade cheia, repleta de avanços. O Brasil é hoje reconhecido pelas Nações Unidas como exemplo global no combate à fome e às desigualdades sociais. É também um país montado num caminhão de reservas internacionais, capazes de amortecer qualquer crise internacional. E que, com sua nova classe média, possui um dos maiores mercados de consumo do mundo, que irá continuar recebendo investimentos por muitos e muitos anos.
Se isso não bastasse, o pré-sal, de onde se extraem mais de 500 mil barris de petróleo/dia, já não é mais uma promessa. É realidade concreta e palpável. Aliás, se o Brasil foi rebaixado e vilipendiado por sua elite, que daqui extrai suas fortunas, o que dizer, então, da Petrobras? Relatórios das agências internacionais de energia, feitos por quem realmente entende do setor, a apontam como uma das empresas de maior crescimento projetado para os próximos anos. Depois dos investimentos, virá a colheita. E o Brasil, que viveu agudas crises no balanço de pagamentos no passado, em razão de sua dependência energética, tem tudo para se transformar num dos grandes exportadores globais de petróleo – como já é no setor de alimentos.
Dilma venceu as eleições porque, em algum momento, os eleitores – e não apenas os supostamente mal-informados, como diria FHC – se deram conta de que a propaganda negativa não correspondia à realidade. Será mesmo que o Brasil dos novos aeroportos, das usinas do Rio Madeira e da hidrelétrica de Belo Monte é mesmo "um cemitério de obras inacabadas"? Aliás, o que aconteceu com o apagão elétrico previsto no início de 2014? E a Copa do Mundo? Por onde andam os arautos do #naovaitercopa? Se tiverem bom senso, depois de o Brasil ter realizado a melhor de todas as Copas – fato que, infelizmente, ficou ausente da campanha eleitoral – não farão o mesmo discurso terrorista em 2016, ano dos Jogos Olímpicos.
O Brasil que emerge dessas eleições também tem uma possibilidade única de enfrentar a corrupção. Depois de tantos escândalos, todos eles associados ao financiamento privado de campanhas políticas, o País se vê diante da oportunidade histórica de aprovar a reforma política, tornando as disputas eleitorais menos dependentes do poder econômico. E a presidente Dilma, sem uma reeleição pela frente, e reconhecida como honesta por seus próprios adversários, é a pessoa ideal para levar esse desafio adiante. "Estou pronta a responder a essa convocação. Sei do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares. E eu o farei", disse ela ontem, em seu discurso da vitória. Um discurso preciso – e de arrepiar.
Por último, mas não menos importante, há que se dizer com todas as letras. Apesar de toda a histeria e toda a estridência dos nossos neoconservadores, o Brasil não é bolivariano. Aliás, o próprio PT é um partido que, há muitos anos, fez um escolha. Optou pelo caminho democrático – e não revolucionário. O Brasil é um país capitalista, que respeita a propriedade e os contratos, e que, neste caminho, promove a inclusão social. Aliás, a aposta na radicalização interessa apenas a pequenos grupelhos, que se alimentam do discurso do ódio. A estes, basta dizer que Miami é logo ali. À verdadeira elite brasileira, comprometida com o País, o que importa é seguir adiante, com mais igualdade e liberdade.
Como diria Eduardo Campos, não vamos desistir do Brasil. Até porque, depois de tantas mentiras e ataques, o Brasil ficou barato. É hora de comprar Brasil!

fonte: brasil 247

domingo, 26 de outubro de 2014

Vocês têm ideia do que vencemos?

26 de outubro de 2014 | 21:41 Autor: Fernando Brito
dilmabranco
Vejo muita gente de achando que a vitória foi pequena.
Não se enganem, nossa vitória foi gigantesca.
Não vencemos um candidato da direita.
Vencemos um sistema econômico  que sabotou o Brasil por meses a fio.
Vencemos um império de comunicação que nos massacrou por anos a fio.
Dilma venceu sem ter a seu lado os jornais, as televisões, os políticos, os bancos, as grandes empresas e boa parte de uma classe média que ascendeu sem debate político.
E não terá nenhum deles a seu lado a partir de amanhã.
Claro que é preciso desarmar os desarmáveis.
E ser impiedoso com os golpistas.
Dilma e Lula não escolheram o branco para se vestirem agora, na fala da presidenta.
Um sinal de que querem paz.
Pas também de que entendem o latinismo.
Si vis pacem, para bellum.
Quem quer paz, prepara-se para a guerra.

"O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" - Discurso de Dilma


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Lula exclusivo: 'Quem arrumou a casa fomos nós'

Para o ex-presidente, a mídia tradicional agride a democracia e esconde o debate de projetos. O de Dilma, de avançar nas políticas que respeitam os trabalhadores e que estão mudando o Brasil. E o de Aécio, que leva ao retrocesso
por Paulo Donizetti de Souza e Vitor Nuzzi publicado 21/10/2014 12:13, última modificação 21/10/2014 14:47
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O que está acontecendo cheira a tentativa de golpe, e coloca em risco o processo democrático. O que foi prometido para esses senhores na dela..o premiada? Foi só diminuir a pena ou ‘se o PT for derrotado’ poderá ter mais coisas?
Parece que foi ontem, mas aconteceu em 2002. O metalúrgico, sindicalista e fundador do PT Luiz Inácio Lula da Silva tornava-se presidente da República, em sua quarta tentativa. Derrotou o partido que, hoje, 12 anos depois, diz ser o da "mudança."
O PSDB de Aécio Neves já tem até ministro anunciado, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que insiste: é preciso “arrumar a casa”, a economia está uma bagunça. Como assim?, pergunta Lula. "Ele, na verdade, é um desarrumador de casa. Quem arrumou a casa fomos nós."
Para o ex-presidente brasileiro, a expressão do economista é um eufemismo para aumentar o desemprego e reduzir ganhos salariais em nome da eficiência das contas públicas. Ou em sua definição: “Arrumar a casa é tirar aquilo que o povo conquistou neste período de 12 anos”.
Em meio ao vale-tudo desenfreado na reta final da eleição, Lula recebeu a Revista do Brasil para uma reflexão sobre a necessidade de aumentar a consciência política das pessoas. “Se ficar só na agressão pessoal ou partidária, eu acho que a gente não politiza a sociedade.”
Lula pede ao povo para ficar alerta em relação às propostas em jogo: manter uma política que busque reduzir as históricas desigualdades do país, projeto personificado por Dilma; ou devolver o poder a um grupo que governa para apenas uma parcela da população.
Segundo ele, a mídia tradicional trabalha diuturnamente contra o PT, esconde a comparação de projetos e despolitiza os debates. “Gostaria que a campanha, ao terminar, além da somatória de votos, tivesse um crescimento da consciência política da sociedade”, diz.
Pouco mais de um ano atrás, o senhor deu uma entrevista falando que “estava no jogo”. Agora, próximo do segundo turno, não acha que o jogo ficou mais bruto?
Os adversários, embora sejam os mesmos das outras disputas, estão mais raivosos. O que é uma contradição com todo o discurso que eles fazem ou faziam, que o PT era agressivo... Agora, é o PT que está muito tranquilo e eles que estão muito agressivos. Em alguns casos, com campanha de denúncias e difamações que somente a extrema-direita tinha competência de fazer em alguns momentos históricos do Brasil. Agora, de qualquer forma, o jogo sempre vai ser duro quando o PT está numa disputa de uma prefeitura, de um estado ou do Brasil. Porque o PT conseguiu mudar o jeito de governar o Brasil, conseguiu estabelecer uma nova relação entre o Estado e a sociedade, entre o governo e os setores organizados da sociedade. Isso incomoda essas pessoas, porque eles não querem que as pessoas participem. Chegamos ao cúmulo de estarem raivosos porque as pessoas que votaram na Dilma são “desinformadas”, “informados” são só os que votaram neles. Acho que esse ódio que está sendo divulgado, essa campanha feita diuturnamente contra o PT, que não é de hoje – isso é desde que nós nascemos, mas mais marcadamente depois que chegamos ao governo – fez com que a campanha fosse mais radicalizada. Nós temos uma estratégia de campanha, temos uma candidata competente, que tem experiência de vida, e estamos preparados para qualquer embate. Gostaria que a campanha, ao terminar, além do somatório de votos, tivesse um crescimento da consciência política da sociedade. Que as pessoas saiam do processo eleitoral gostando mais de política, se sentindo participativas, dispostas a exigir e a cobrar mais dos eleitos. Eu espero isso. Se ficar só na agressão pessoal ou partidária, a gente não politiza a sociedade.
Essa queda de qualidade na oposição, que não privilegia o debate de projetos, tem a ver com o perfil do Fernando Henrique, do estilo dele de ser oposição?
Neste momento, há um esforço muito grande, enorme, de uma parte da imprensa brasileira de tentar ressuscitar o Fernando Henrique Cardoso. Tem muita gente que tem 30 anos hoje e nem lembra que o Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República. Há uma tentativa de ressuscitá-lo como porta-voz de um partido que não se comporta como partido de oposição, porque não tem um programa alternativo para a sociedade. O que tem, na verdade, é uma imprensa partidarizada. A grande oposição no Brasil hoje não é o PSDB, é a imprensa. Enquanto o candidato espera o ano inteiro para ter 45 dias, para ter o horário na televisão, eles fazem campanha 24 horas por dia durante o ano inteiro, não tem limite. O Fernando Henrique tem hoje pouca ascendência sobre a campanha eleitoral, tem pouco voto. E acho que é por isso que o PSDB, desde que ele deixou a Presidência, não utiliza ele em debate. O Aécio utilizou mais porque para ganhar dentro do PSDB, precisou do apoio do Fernando Henrique, que, como todo mundo sabe, historicamente não é muito simpático ao Serra. A qualidade da oposição caiu. Aliás, a qualidade do debate político caiu muito. E Fernando Henrique tem responsabilidade nisso, porque puxa para baixo o debate, quando poderia elevar. Essa que ele disse agora, que quem votou na Dilma é a parte mais desinformada da sociedade, do Nordeste, é de uma grosseria elitista que jamais poderia sair da boca de um sociólogo. O cara estuda, mas a massa encefálica tá pronta na cabeça dele. Ele não pode mudar. Ele pensa exatamente assim, que o Brasil tem de ter uma camada pobre que não tem direito a nada. Hoje, o cidadão tem mais cidadania, mais salário, política de transferência de renda, crédito consignado, crédito rural, tudo melhorou. Então, o mundo que ele vê é do tempo que ele governava. Por isso, rebaixa tanto o debate político e econômico.
Dilma
A Dilma tem dito: não haverá prejuízo para o trabalhador. O mundo inteiro reconhece o que o Brasil fez. Temos emprego, esse é um valor extraordinário

Assim como em 2010, logo depois do primeiro turno houve manifestações nas redes sociais contra os nordestinos. A conscientização não avançou, vivemos uma certa separação, principalmente, entre Sudeste e Nordeste?
Acho que o nível de consciência política às vezes acirra esse debate. Mas se você olhar historicamente, grande parte dos políticos nordestinos sempre achou que São Paulo age com eles como os Estados Unidos age com outros países. Que São Paulo é uma espécie de Estado imperialista. E, ao mesmo tempo, São Paulo leva sempre vantagem, porque é o mais rico. O que nós começamos a fazer? Começamos a estabelecer uma política de desenvolvimento que levasse em conta a diminuição das desigualdades regionais. Permitir que o país fosse mais igual, tivesse mais escolas, diminuísse a mortalidade infantil, o analfabetismo, que tivesse mais empresas e mais emprego no Nordeste. E esse foi o grande mote que fez com que o Nordeste crescesse mais do que São Paulo. E você percebe que a importância da economia paulista em relação ao PIB tem diminuído. Não é só porque tem perdido empresa, é porque o Nordeste tem ganhado empresa e gerado desenvolvimento mais rápido. O que é normal. E as pessoas começam a ter direitos, a exigir mais, e aí fomenta essa divergência que eu acho absurda. Não é só no Brasil. No mundo inteiro, sempre foi assim. Quando a camada mais pobre ou uma região começa a ascender socialmente, aqueles que já ascenderam começam a ficar com raiva. É mais gente no restaurante, no avião, no aeroporto, viajando de trem, no shopping. E gente que eles não conheciam, que antigamente não conseguia entrar no shopping. Isso vai criando um certo rancor… Esse pensamento, graças a Deus, está na cabeça de uma minoria. E não tem preconceito com nordestino rico, contra o negro rico. O preconceito está ligado à possibilidade econômica das pessoas. Eu fico triste quando um homem como Fernando Henrique Cardoso abre a boca para falar uma bobagem dessa.
Como o debate de projetos escondido no noticiário, o destaque de todos os jornais são as “denúncias” do diretor da Petrobras investigado, do doleiro. De que forma esse clima afeta a campanha da presidenta Dilma?
Estou muito preocupado. Eu tenho a impressão de que neste país tem sempre uma tentativa de golpe. Tem sempre um Carlos Lacerda querendo derrubar alguém. Você tem um processo em que as pessoas estão fazendo delação premiada, esse processo está nas mãos de um ministro da Suprema Corte, porque não pode vazar, porque depois da delação é possível investigar se é verdade. Estranhamente, como a Suprema Corte reivindicou o processo para lá, o juiz convoca as pessoas para depor e colocar na internet o depoimento, quase como se fosse uma ação política, quase como se fosse "vamos fazer um depoimento agora para dar material de campanha para os adversários do PT". Se daqui a três ou quatro meses for provado que não é verdade aquilo que ele falou, o prejuízo está feito. É gravíssimo o que está acontecendo, às vezes me cheira a tentativa de golpe mesmo, de colocar em risco o processo democrático. O que foi prometido para esses senhores na delação premiada? Será que foi só diminuir a pena ou será que foi prometido “se o PT for derrotado, poderá ter mais coisas?” A gente não sabe. É um processo insidioso, porque não tem nenhum momento na história do Brasil em que o governo investigou mais qualquer denúncia contra qualquer pessoa como neste governo, que tenha a quantidade de instrumentos, desde a transparência das coisas que o governo faz, até a fiscalização do Ministério Público, do Tribunal de Contas, da Controladoria Geral da República. Ou seja, é o governo que criou a Lei de Acesso à Informação. Eu me preocupo, porque acho que isso é uma tentativa de fazer interferência no processo eleitoral a 15 dias das eleições.
Ontem (quinta, 9 de outubro) houve um debate na GloboNews entre o ministro Guido Mantega e o Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central no governo FHC). Enquanto o ministro Mantega enfatizava os ganhos sociais decorrentes das escolhas econômicas que o governo fez, o Armínio insistia na necessidade de arrumar a casa. Como essas diferenças de pensamento podem ser traduzidas?Lula frase
Quando o Armínio Fraga fala em arrumar a casa, não tem coragem de dizer que defende desemprego, diminuir ganhos salariais, acabar a transferência de renda. Se pudesse, diria isso. Por isso fala “arrumar a casa”. Ele estava no BC e ajudou a desarrumar a economia deste país
Quando o Armínio Fraga fala em arrumar a casa, é porque ele não tem coragem de dizer que é preciso ter um pouco de desemprego, na lógica dele, é preciso diminuir os ganhos salariais e o salário mínimo, acabar com essa política de transferência de renda, e é preciso dificultar o crédito. Se ele pudesse falar fora do processo eleitoral o que ele ia fazer, era exatamente isso. Por isso que ele fala “arrumar a casa”. Ele não é nenhuma arrumadeira, porque quando estava no Banco Central ajudou a desarrumar a economia deste país. A inflação estava 12,5% quando eu cheguei na Presidência da República, o Brasil devia US$ 30 bilhões para o FMI. Viviam, ele e o Malan (o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan), nos Estados Unidos buscando dinheiro para fechar a conta no final do mês, nós tínhamos um desemprego de quase 13%, o salário dos trabalhadores não aumentava, o salário mínimo não aumentava... Então, ele, na verdade, é um desarrumador de casa. Quem arrumou a casa fomos nós, que provamos que é possível aumentar o salário mínimo, o salário das categorias organizadas, que é possível fazer política de transferência de renda e, ao mesmo tempo, é possível controlar a inflação. É importante que o povo saiba claramente que o que está em jogo é um projeto de volta ao que nós já conhecemos há muito tempo neste país, a um passado em que os trabalhadores faziam greve e não ganhavam nada.
Eu cansei de fazer greve, às vezes nem inflação a gente recebia. Então, eu acho que o Guido e a presidenta Dilma têm dito, em todas as oportunidades que eu vejo eles falarem, que esta é uma crise do capitalismo, feita pelo sistema financeiro, no coração do sistema financeiro e que os trabalhadores não têm de pagar. Logo que saiu a crise, em 2008, o Gordon Brown (ex-primeiro-ministro do Reino Unido) fez uma visita ao Brasil e foi uma coisa que a imprensa deu muito destaque quando eu disse: olha, é importante que vocês saibam que não são os negros da África, os índios da América Latina os responsáveis por essa crise. Os responsáveis são os loiros de olhos azuis. E a Dilma tem dito categoricamente: não haverá prejuízo para o trabalhador brasileiro com essa crise. Apesar do negativismo da imprensa brasileira, há um reconhecimento no mundo inteiro do milagre que o Brasil fez. Embora o PIB não esteja crescendo tal como todos nós gostaríamos, a verdade é nós estamos com desemprego menor do que muitos países que conhecemos e são desenvolvidos. E esse é um valor extraordinário, emprego; e as pessoas ainda tendo aumento real de salário. Isso é muito importante. Todo mundo vê o Armínio falar de vez em quando “o salário mínimo está muito alto, cresceu em demasia”. O que ele quer? Não pode aumentar o salário mínimo? Fazer ajuste fiscal e fazer o trabalhador pagar o preço? No nosso governo não vai acontecer isso.
Ele também fala sobre diminuir os bancos públicos...
Mas é importante a gente lembrar que eles queriam privatizar todos os bancos públicos. O que incomoda para eles os bancos públicos? Quando estourou a crise em 2008, numa conversa que tive por telefone com o presidente Obama, comecei a mostrar que seria importante que os Estados Unidos tivessem um sistema financeiro mais ou menos igual ao nosso, que temos três bancos públicos fortes, e temos bancos privados fortes. Eu citava o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES como os três instrumentos que me permitiram acionar para tirar o Brasil da crise.
Logo que veio a crise, nós liberamos R$ 100 milhões do compulsório na expectativa de que o sistema financeiro utilizasse o dinheiro para financiar o mercado. O que aconteceu? Pegaram e compraram títulos do governo. Ou seja, fomos obrigados a fortalecer os bancos públicos. Foram o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES que não deixaram este país entrar na bancarrota. São esses bancos que fazem o crédito para a agricultura, que financiam Minha Casa, Minha Vida, a agricultura familiar. Esses bancos têm uma importância extraordinária para este país. E eles querem acabar.
Na nossa visão de Estado, os bancos públicos têm um papel extraordinário de equilíbrio no mercado financeiro. Eles se incomodam porque o BNDES está emprestando muito dinheiro que eles gostariam de emprestar. Emprestem! Agora, se tiver gente precisando de dinheiro e os bancos não querem emprestar, o governo vai ajudar, porque queremos que se empreste para o desenvolvimento do país.
Então, eu acho que o povo tem de ficar alerta. O “arrumar a casa” deles é tirar aquilo que o povo conquistou neste período de 12 anos. É diminuir o papel dos bancos públicos, ou vender. Eles já queriam fazer isso 12 anos atrás. Eles querem vender o patrimônio do país e, por isso, eu acho que eles não vão ganhar as eleições, porque o Brasil aprendeu que os bancos públicos têm um papel extraordinário no desenvolvimento da nossa economia.
Esse debate muito concentrado em inflação, superávit, PIB não acaba marginalizando a discussão sobre a política industrial?
Na verdade, se discute política industrial, o governo tem propostas de inovação. Nós demos um salto de qualidade na indústria automobilística. De vez em quando, vejo as pessoas dizerem que não tem investimento. Faz quatro anos consecutivos que o Brasil é o terceiro ou quatro país a receber investimento direto. Este ano, vamos chegar a US$ 67 bilhões. No tempo deles, acho que o máximo que conseguiram foi US$ 19 bilhões, e eles faziam festa.
Quando eu estava na Presidência, muitas vezes eu discutia com o Palocci (Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda), com o Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central), com o Guido (Mantega, então do Planejamento, hoje Fazenda), uma coisa que não é muito aceita pelos economistas. Você tem de discutir superávit e meta de inflação, sim, mas vamos discutir meta de inflação, e vamos discutir meta de crescimento. Tentar estabelecer compromisso de controlar a inflação e de fazer a economia crescer.
Não é uma discussão fácil, porque eles (economistas) acham que não combinam as duas discussões. É um debate que nós precisamos fazer. Se eu não tiver uma meta, eu não vou atrás. Quando eu estava na Villares (metalúrgica em que Lula trabalhou no ABC Paulista) a gente recebia um lote de peças e uma cartela que dizia em quantos minutos era pra fazer cada peça. Então, eu acho que, na economia, nós também precisamos inovar. Vamos estabelecer meta de crescimento, de investimento, ciência e tecnologia, dar desafios para a gente mesmo cumprir.
Entraria emprego na meta do Copom, que considera basicamente a situação inflacionária?
Veja, o governo estabelece meta. O Banco Central só tem como instrumento os juros. Ou seja, o governo tem outro instrumento, que é cortar ou estimular o crédito. Quando chegamos na Presidência da República, no Brasil inteiro tinha apenas R$ 380 bilhões em oferta de crédito. Hoje, só o Banco do Brasil deve ter R$ 675 bilhões ou mais. Então, você tinha uma opção. Reduzir a taxa Selic e cortar o crédito. Eu dizia: cortar o crédito é cortar na veia. A taxa Selic pode demorar seis meses para surtir efeito. Agora, quando você corta o crédito é no dia seguinte. O cara não vai na loja comprar.
Então, eu era favorável... Aumentava a taxa Selic e diminuía a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). A gente foi manuseando isso. E deu certo. A TJLP é bem menor que a taxa Selic. A gente não pode usar a palavra “subsidiado” porque a Organização Mundial do Comércio vai encher o saco, mas você pega a Caixa Econômica, o Minha Casa, Minha Vida, se a pessoa tivesse de comprar uma casa de R$ 60 mil pelo sistema financeiro normal ela pagaria R$ 900 por mês. Ela paga R$ 50 porque é subsidiado. E se não for subsidiado, como o pobre vai ter casa? O Estado tem de assumir.
É como o programa Luz para Todos. No tempo do Fernando Henrique Cardoso, tinha o Luz no Campo, em que o cara tinha de pagar tudo. Ora, mas o cara que está no meio do mato não pode pagar nada. Vamos levar pra ele. Isso custou quase R$ 20 bilhões aos cofres públicos, mas esses cidadãos têm o direito de serem tratados como o cara que mora na avenida Paulista, em Copacabana, ou na Marechal Deodoro... E nenhuma empresa privada vai levar energia se não tiver retorno. Então, o Estado tem de levar.
O debate econômico é estreito?
Acho que o debate econômico tem de ser mais plural. Hoje, nós não temos mais debate econômico porque você não tem economista, é só analista de mercado, analista de mercado, analista de mercado. O debate passa por isso. Tentamos fazer isso, e a Dilma tenta fazer, mapear quais os setores em que o Brasil é competitivo. Sabe o que acontece?
Vou te dar um exemplo. Na agricultura, o Brasil é altamente competitivo. Nós temos tecnologia, terra, água, sol. Esse é um setor em que o Brasil pode avançar. O setor de papel e celulose, podemos ter uma indústria extraordinária neste país. Na indústria química, o Brasil pode se tornar competitivo. Precisamos abrir novos mercados para que a gente possa competir com os chineses, os americanos, os alemães, naquilo que a gente pode competir.
E essa discussão de desenvolvimento tem de estar ligada ao debate econômico. Debate econômico não é só inflação, dívida pública... É discutir geração de emprego, poder do salário, ganhos sociais do povo brasileiro, industrialização, investimento em infraestrutura. A gente não pode deixar de lembrar que nós, em 12 anos, recuperamos a indústria naval brasileira. Em 1970, nós eramos a segunda indústria naval do mundo. Em 2000, a gente tinha acabado. E nós recuperamos, já está com 86 mil trabalhadores e vai continuar crescendo. Quando o Brasil tenta fazer, teima, consegue.

terça-feira, 14 de outubro de 2014


Fabrício de Oliveira: “Choque de gestão” em Minas é uma farsa; relação entre dívida e receita pode chegar a 200%

publicado em 14 de outubro de 2014 às 10:46
aecio-neves-
13/10/2014 07:04
O canto de cisne do “choque de gestão” do governo Aécio Neves
por Fabrício Augusto de Oliveira*
no Brasil Debate
A verdade é que, a não ser na propaganda, em momento algum o governo de Minas conseguiu minimamente equilibrar as suas contas, tendo incorrido, em alguns anos (2003, 2008, 2010, 2013) em déficits nominais monumentais, superiores a 20% de sua receita corrente líquida
O “déficit zero”, pilar central e símbolo de um ajuste fiscal estrutural e de eficiência da gestão pública do programa do Governo Aécio Neves, no estado de Minas Gerais (2003-2010), parece ter entoado, finalmente, o seu canto de cisne em 2013.
Naquele ano, o governo de Minas conseguiu a proeza de incorrer em déficit em todos os conceitos existentes: orçamentário, primário e nominal. Se forem confirmadas as projeções contidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de 2014, de um déficit nominal de R$ 11 bilhões, neste ano poderá ser lançada a pá de cal no que dele ainda resta, pelo menos no que diz respeito à situação das finanças do estado.
Em 2013, o déficit orçamentário do governo atingiu R$ 948 milhões, o que não ocorria desde 2004, o déficit nominal R$ 8,9 bilhões, e o déficit primário R$ 86 milhões, depois de 12 anos de registro de superávits primários consecutivos (desde 1999, ou seja, desde a administração Itamar Franco).
Por isso, a dívida consolidada líquida (DCL) deu um salto no ano de mais de R$ 9 bilhões, passando de R$ 70,4 bilhões, em 2012, para R$ 79,7 bilhões, em 2013, correspondendo a 185% de sua receita corrente líquida (ECL). Dependendo do desempenho das finanças do estado em 2014, não será nenhuma surpresa se essa relação da dívida com a receita se aproximar temerariamente de 200%, que é o limite estabelecido pela Resolução n° 40 do Senado Federal, de 2001.
Por se ter vendido durante um bom tempo a imagem de uma gestão eficiente e de que se teria conseguido, em pouco tempo, sanear as finanças do estado, tal situação pode parecer decepcionante para os que acreditaram na política de marketing do governo.
Mas, a verdade é que, a não ser na propaganda, em momento algum o governo de Minas conseguiu minimamente equilibrar as suas contas, tendo incorrido, em alguns anos (2003, 2008, 2010, 2013) em déficits nominais monumentais, superiores a 20% de sua receita corrente líquida. Apenas por ter utilizado e divulgado para o público um conceito enganoso de desempenho das suas finanças – o de resultado orçamentário -, o qual infla indevidamente as receitas, de um lado, e subestima (reduz) as despesas, de outro, o governo conseguiu iludir a população sobre este feito.
Se isso de fato tivesse ocorrido, a dívida consolidada líquida do estado não teria saltado de R$ 32,9 bilhões em 2002, último ano do Governo Itamar Franco, para R$ 79,7 bilhões em 2013, um crescimento nominal de 142%.
Porque, se há alguma coisa na teoria das finanças públicas de que não se pode discordar é a que associa o aumento da dívida com as necessidades de financiamento, independentemente de onde elas surjam.
Por isso, se a dívida aumentou foi porque o estado não contou com receitas suficientes para financiar suas atividades ou para honrar seus compromissos, tendo incorrido, portanto, em déficits que foram, no caso de Minas, obliterados pelo conceito enganoso de resultado orçamentário.
Isso não quer dizer que a situação das finanças do estado após 2003 não tenha conhecido alguma melhoria. Mas o fato é que tal melhoria se explica menos pelo “Choque de Gestão” e mais pelo quadro macroeconômico bem mais favorável que se registrou a partir deste ano e se prolongou pelo menos até 2010.
Do “Choque de Gestão” guarda-se, na lembrança, o remédio amargo do congelamento dos salários do funcionalismo público, em 2003, que provocou uma queda de 5% em termos reais de seu poder aquisitivo no ano, da extinção de alguns de seus benefícios previdenciários, e do contingenciamento indiscriminado de 20% das despesas públicas, subtraindo recursos das políticas sociais.
Entre as medidas cosméticas, a fusão de algumas secretarias, que depois foram, pouco a pouco, retomando seu lugar na estrutura administrativa do estado, para atender as demandas de aliados políticos, e que, pelo menos em 2013, já eram superiores ao número existente em 2003.
Além do congelamento do salário do funcionalismo naquele ano, o maior ganho obtido para essa melhoria veio, na verdade, da expansão expressiva das receitas catapultadas pelo crescimento econômico que se prolongou pelo menos até o final da década.
Este, contudo, começou a perder força a partir da crise do crédito subprime nos Estados Unidos e da dívida soberana europeia, quando se tornou mais claro que o “Choque de Gestão” não passou de uma farsa, pelo menos do ponto de vista da situação das contas do estado.
Pode ser que os resultados finais de 2014 não venham tão ruins como tudo indica.
Afinal, o governo conseguiu que fosse aprovada na Assembleia Legislativa, numa manobra eticamente condenável, a extinção do Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (o FUNPEMG), criado em 2002, e a transferência, para o seu caixa, de seu saldo de R$ 3,2 bilhões.
Mas, considerando o quadro macroeconômico adverso para este ano e para 2015, não se pode esperar ajuda de receitas mais robustas do crescimento, num contexto em que as fontes de receitas extraorçamentárias parecem ter ou estar se esgotando.
Por isso, sem contar com o alardeado, mas fictício, ajustamento fiscal estrutural do “Choque de Gestão”, e se não se beneficiar com o avanço do projeto de renegociação das dívidas dos estados, o que também não parece possível no horizonte de curto prazo, a próxima administração do estado, que terá início em 2015, pode se defrontar com uma situação financeira ainda mais crítica do que a existente em 2002.
*Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e autor, entre outros, do livro “Dívida pública do Estado de Minas Gerais: a renegociação necessária”, de 2012

sábado, 11 de outubro de 2014

PARA ARMÍNIO, MINAS NÃO MERECIA INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS

Por: Equipe Dilma Rousseff - - Atualizado em 11/10/2014 - 02h08
Armínio Fraga, o banqueiro que o ex-governador de Minas Gerais e candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, gostaria de ter como seu homem forte da economia se vencesse as eleições, declarou que os investidores estrangeiros não deveriam levar dinheiro para Minas. Foi no dia 1º de outubro de 1999. Armínio foi a Nova York, se reuniu com investidores e desaconselhou investimentos em Minas.

Ele estava irritado porque o governador de Minas, Itamar Franco, havia conseguido barrar um acordo que entregava o controle da Cemig, a empresa de energia elétrica de Minas, a sócios americanos. Na época, o governo tucano vendeu à empresa Southern Electric 32% das ações da Cemig, uma das mais importantes empresas do setor no Brasil, pelo preço mínimo de R$ 1,1 milhão. Eleito governador, Itamar considerou a venda lesiva aos interesses de Minas e barrou na Justiça o acordo que dava o controle da Cemig aos sócios privados.

Irritado com a defesa que Itamar fez dos interesses do Estado, Armínio foi a Nova York pedir que os estrangeiros não investissem mais em Minas. Sua atitude foi amplamente criticada no Brasil.

"O senhor Armínio Fraga ainda não se deu conta de que não pode pretender representar no Brasil os interesses financeiros que tantos lucros lhe renderam ao longo de sua vida de banqueiro no exterior", disse Itamar Franco em nota à imprensa. Ele se referia ao fato de Armínio ter sido um dos homens fortes do especulador George Soros, em Nova York.

A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) classificou as declaracoes de Armínio de "absurdas, infelizes e despropositadas". O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiou "com veemência" a posição de Armínio.

A questao que fica agora é como o eleitor pode acreditar que alguém que desejou o pior para Minas Gerais e defendeu interesses de empresas americanas pode falar em desenvolvimento para o Estado e para o Brasil?

Armínio Fraga defende redução dos bancos públicos

Por Miguel do Rosário, postado em outubro 9th, 2014 | 96 comentários



Arminio Fraga defende redução dos bancos públicos
Tem apenas 1 minuto.
Escute o áudio de Armínio Fraga, já “nomeado” por Aécio Neves como seu eventual ministro da Fazenda, defendendo redução do papel dos bancos públicos. Ao final, uma frase com reverberações sinistras: “não sei bem o que vai sobrar ao final da linha, talvez não muito”.
É importante destacar que Fraga mente ao falar da “história” do crescimento.
Todos os países desenvolvidos cresceram com enormes investimentos públicos. E hoje, os países que mais crescem, são os que tem bancos públicos fortes, como China.
E os bancos privados são justamente os principais responsáveis pelas periódicas crises financeiras que vem drenando recursos do Estado para mãos de algumas instituições bancárias.
A acusação de que os bancos públicos são capturados por interesses “públicos e privados” é inconsequente, porque finge ignorar que o mesmo acontece, numa escala infinitamente superior, com os bancos privados.
Os bancos públicos são a salvaguarda da nossa soberania econômica e, portanto, também política.
Os bancos públicos são o único instrumento do povo para reduzir o spread bancário e os juros reais, coisas com as quais Fraga não se preocupa.
O Brasil já conhece Armínio Fraga. Ele foi presidente do Banco Central, e sua primeira medida foi elevar os juros para 45%.
Armínio Fraga foi um dos braços direitos de George Soros, apelidado de o “destruidor de países”.
É, meus amigos e amigas, os abutres estão vindo para cá.
PS:
Assistam a esse vídeo, onde Armínio fala que o salário mínimo subiu demais.


O argumento de Armínio, de que é preciso guardar relação entre a produtividade e o salário, é uma falácia, porque o aumento do salário estimula, justamente, o aumento da produtividade do trabalhador. Não é culpa do mesmo se o empresário não investe em tecnologias que elevem a produtividade da firma.
Ao contrário, salários historicamente baixos sempre fizeram os empresários preferirem contratar “escravos” a investir em criatividade e inovação.
 44 9587

Coimbra: Aécio precisa
de 80% da Bláblá

Na hora da verdade, 80% dos marineiros votam num tucano ?
De Marcos Coimbra, sempre sereno e agudo, na Carta Capital (em que Mino entrevistou Lula e Lula foi pra cima do FHC, o lorde de Higienópolis):

“Quanto mais eleitores de Marina Silva optarem pelo voto branco ou nulo ou pela abstenção, maior a dificuldade de Aécio Neves no segundo turno.”


“A eleição vai terminar como se imaginava … numa disputa entre PT e PSDB…”


“… para o eleitor mudar de voto … é necessário mais que uma onda”


“… haverá uma nova eleição para os 22 milhões de eleitores de Marina e os 3,7 milhões que preferiram os outros oito candidatos.”


“Se todos os eleitores de Marina votarem nominalmente, (isto é, dividirem-se entre ele e Dilma), o mineiro precisa receber cerca de 70% dos marinistas. Se alguns preferirem não votar em ninguém… a taxa de aproveitamento do tucano terá de ser mais elevada. Na hora da verdade, será possível levar 80% dos eleitores de Marina a votar num candidato do PSDB ?”

Aécio e o PSDB votaram, sim, contra aumento real do salário mínimo

publicado em 10 de outubro de 2014 às 18:45
aécio neves
aécio minimo
Aécio votou contra o aumento real do salário mínimo
por Maximiliano Nagl Garcez*
Ao rebater afirmação da presidenta Dilma Rousseff de que ele tinha votado contra a política de valorização do Salário Mínimo, Aécio Neves respondeu, via redes sociais, que isso mostrava “o desespero de quem está perto de deixar o poder“.
A resposta, além de arrogante não é verdadeira. Aécio, o candidato anti-trabalhadores, votou sim contra o projeto que garantiu mais 72% de aumento real para o salário mínimo nos últimos doze anos, beneficiando 48,2 milhões de pessoas e incrementando a economia em mais de R$ 28 bilhões.
Para comprovar (imagem abaixo da foto), basta clicar aqui. Depois, clicar  clicar em tramitação. Abra a ata do dia 23/02/2011(ATA-PLEN – SUBSECRETARIA DE ATA – PLENÁRIO). Lá você vai ver que 12 senadores votaram contra os trabalhadores. Entre eles, Aécio e a bancada do seu partido (PSDB), Ana Amélia (PP) e Demóstenes Torres (DEM).
A maioria dos brasileiros sabe que Aécio e os parlamentares, governadores e prefeitos do PSDB estão do lado contrário ao da classe trabalhadora. A novidade é ele dizer que vai trabalhar para melhorar a vida do trabalhador, coisa que nunca fez nem como deputado nem como Senador, muito menos como governador de Minas Gerais.
Em seu primeiro mandato, com 26 anos, quando se elegeu deputado Constituinte pela força do poder do avô, Tancredo Neves, Aécio atuou como um leão para proteger os direitos dos empresários, banqueiros e patrões em geral. Como Constituinte ele votou contra a jornada de trabalho de 40 horas semanais e contra o adicional de hora extra de 100%.
Quando presidiu a Câmara dos Deputados, o candidato tucano à sucessão presidencial trabalhou duro para aprovar projeto de FHC que alterava o artigo 618 da CLT e deixava vulneráveis direitos dos trabalhadores, entre os quais férias e 13º salário. Eleito em 2002, Lula mandou arquivar o projeto em abril de 2003, antes da bancada do Senado aprovar.
Como governador de Minas, as obras mais vistosas de Aécio são os dois aeroportos que ele mandou construir em terrenos onde sua família tem fazenda ou nas proximidades das terras dos Neves. As chaves do Aeroporto de Claudio, por exemplo, ficavam com um tio-avô do candidato.
Já quanto aos trabalhadores, ele trata no estilo “linha dura”. A educação foi uma das áreas que mais sofreram no governo dele. Falta infraestrutura, salas de aula precárias, mais de 50% escolas de ensino médio não têm laboratório de ciências nem salas de leitura, 80% sequer tem almoxarifado. Aécio e os governadores que ele colocou em seu lugar deixaram de cumprir, por vários anos, o investimento mínimo de 25% da receita em educação, como determina a Constituição. E para piorar, ele não pagou piso salarial dos professores.
Agora, como candidato a presidente da república, enquanto por um lado faz promessas que não vai cumprir, por outro, deixa claro sua posição patronal patrão quando se recusa a assinar compromisso contra o trabalho escravo, por exemplo.
O governo do presidente Fernando Henrique foi uma tragédia para a classe trabalhadora. Todos os governantes do PSDB nos Estados têm a mesma prática. Eles cerceiam os direitos trabalhistas, propõem flexibilização e supressão dos direitos trabalhistas para, dizem de forma descarada, garantir o desenvolvimento econômico, o aumento da competitividade e a geração de empregos.
Aécio e seus principais assessores, como o já nomeado ministro da Fazenda Armínio Fraga, caso o tucano vença as eleições, dizem que não têm receio de tomar medidas impopulares, ou seja, demissão e arrocho salarial. Já  disseram diversas vezes que o salário mínimo está alto demais. Para eles, isso é prejudicial a economia. Mas, o que vimos nos governos Lula e Dilma é exatamente o contrário.
A política de valorização do salário mínimo melhorou a vida das pessoas, incrementou o consumo das famílias e, com isso, aqueceu a economia, gerou mais empregos. E foi principalmente a força do mercado consumidor interno que permitiu ao Brasil sair da grave crise internacional de 2008 de modo muito mais rápido e menos doloroso do que os países que adotavam à época o receituário neoliberal, que, aliás, fecharam milhares de postos de trabalho.
A candidatura de Aécio Neves é uma séria ameaça aos trabalhadores, aos sindicatos e até mesmo à competitividade da economia brasileiraNão se pode tratar o trabalhador como uma mera peça sujeita a preço de mercado, transitória e descartável. A luta em defesa da política permanente de valorização do salário mínimo (que infelizmente teve o voto contrário de Aécio Neves no Senado Federal) é um lembrete à sociedade sobre os princípios fundamentais de solidariedade e valorização humana, que ela própria fez constar do documento jurídico-político que é a Constituição Federal, e a necessidade de proteger o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras e de toda a sociedade.
Maximiliano Nagl Garcez,  advogado de trabalhadores e entidades sindicais. Diretor para Assuntos Legislativos da Associação Latino-Americana de Advogados Laboralistas (ALAL) e Mestre em Direito das Relações Sociais pela UFPR.
Por Paulo Moreira Leite
Na quarta-feira passada, Aloizio Mercadante tirou férias do cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil para mergulhar de corpo e alma no segundo turno da campanha presidencial. Um dos mais requisitados interlocutores da presidente-candidata Dilma Rousseff, na prática Mercadante ganhou um pouco mais de trabalho. Além de manter-se ao lado de Dilma sempre que for chamado -- o que ocorre com uma frequência difícil de imaginar -- e assumir a agenda sempre esbaforida das campanhas eleitorais, terá de reservar as poucas horas de folga para atuar como porta-voz da campanha -- cargo que não existe formalmente, mas que ele passou a exercitar nos últimos dias.
Nesta entrevista exclusiva ao 247, Mercadante passou a limpo as principais diferenças entre PT e PSDB. Fez questão de responder a Armínio Fraga, principal assessor econômico de Aécio Neves, em várias oportunidades. Lembrando que Armínio chegou dizer que não gosta de fazer comparações entre os governos Lula e FHC, Aloizio diz que "comparar é a forma mais pedagógica e democrática para que o cidadão possa formar convicções sobre o trabalho de cada um, aquilo que se fez e o que se pretende fazer."
Entrando nas denúncias sobre a Petrobrás lembrou que toda acusação deve ser investigada mas que é preciso manter cautela diante de denúncias que aparecem nos últimos dias de uma eleição, sem que todas as partes possam ser ouvidas e nem todos os fatos tenham sido apurados. "Nessas horas é fácil ventilar fatos que não foram conferidos por ninguém."
O ministro também falou sobre o primeiro turno em São Paulo, onde Dilma e o PT recolheram um resultado decepcionante. Apontou para o bloqueio de uma parte da imprensa do Estado às realizações do PT. Também disse que "a maioria dos eleitores não tomou conhecimento do esforço de Lula e Dilma a favor de São Paulo. Só no PAC 2 foram 251 bilhões em investimentos em mobilidade urbana. Mais de 454 000 estudantes são bolsistas do Pro Uni e outros 440 000 usam o crédito no FIES. Esperamos que essa situação possa se modificar durante o segundo turno."


O que está em jogo no segundo turno?

Nos últimos 20 anos, os eleitores tiveram a oportunidade de escolher entre dois projetos, simbolizados pelas candidaturas lideradas pelo PT e o PSDB. Nas duas primeiras vezes, a maioria dos eleitores decidiu optar pela candidatura do PSDB, no embalo dos efeitos positivos do Plano Real e num momento de forte ofensiva do projeto neoliberal. Com base no chamado Consenso de Washington, assistimos à promessa de estabilidade econômica, com estado mínimo e modernização de nossa economia. Diziam que entraríamos numa rota de crescimento que permitiria ao Brasil enfrentar nossos graves problemas sociais, como o desemprego e a desigualdade. Em oito anos de governo FHC, essa promessa não se cumpriu. Embora tenham conseguido estabilizar a moeda, ficamos longe de uma verdadeira estabilidade econômica. Ao final desse período, o que restou foi uma economia frágil, vulnerável nas suas contas externas, muito endividada e que quebrou três vezes e teve que ser socorrida pelo FMI. A ortodoxia econômica do período foi marcada pelos juros altos, elevadas taxas de desemprego, redução dos salários, uma dívida pública que tinha dobrado de tamanho, e a liquidação de boa parte do patrimônio público. É exatamente esse projeto que Aécio pretende resgatar.
QUAL O PROJETO DE AÉCIO?
Ele recupera as propostas e a equipe econômica de FHC e quer que o povo acredite que com a mesma receita, os mesmos ingredientes e os mesmos cozinheiros teremos agora outro prato. Isso é impossível, porque a retomada de um neoliberalismo tardio associado a um ajuste econômico ortodoxo significará novamente recessão e retrocesso social.
O QUE SE PODE DIZER SOBRE O PROJETO DO PT? NESTE PERÍODO?
Durante os anos em que fomos oposição ao governo do PSDB, denunciamos um projeto que, na prática, mostrou-se incompatível com o combate efetivo à desigualdade, à pobreza e à exclusão. Sempre apontamos outro caminho, que os brasileiros acabaram escolhendo nas últimas três eleições, primeiro com Lula, depois com Dilma. Elegemos o social como eixo estratégico do desenvolvimento econômico, ancorado na construção de um amplo mercado interno de consumo de massa, políticas de transferência de renda, ampliação massiva do emprego, aumento real dos salários, em especial do mínimo. Isso permitiu um histórico processo de redução da pobreza, distribuição de renda e ampliação de direitos, no qual o Estado se tornou parceiro de trabalhadores e empresários. Os resultados estão aí, para o escrutínio do eleitor. Nesses 12 anos, conseguimos alinhar crescimento econômico e inclusão social, o que tornou o Brasil uma referência mundial no combate à desigualdade, à miséria e à fome. Nossos governos permitiram um salto histórico. Nossa economia, que em 2002 era a 13ª do mundo, já é a 7a. Nunca mais tivemos que nos submeter aos pacotes de ajustamento do FMI.

O QUE VOCÊS ESPERAM AGORA?
Felizmente, a escolha entre esses dois projetos cabe ao eleitor. Queremos confrontar os resultados dos governos Lula e Dilma com os do governo FHC. Foi durante nosso governo que o Brasil enfrentou a maior crise do capitalismo desde 1929. Mesmo assim, nossos resultados estão aí, sem que fosse preciso submeter os trabalhadores a mais sacrifício. Armínio Fraga, já nomeado ministro da Fazenda, se Aécio for eleito, disse recentemente ao jornal Valor Econômico que “acho errado, não gosto de fazer isso”, a respeito das comparações entre governos. Mas comparar é a forma mais pedagógica e democrática para que o cidadão possa formar convicções sobre a atuação de cada um, aquilo que fez e o que pretende fazer.
QUAL COMPARAÇÃO É CABÍVEL?
Os tucanos contribuíram para a estabilização monetária, o que foi muito importante para o desenvolvimento do país, mas não foram capazes de estabilizar plenamente a economia. Ao contrário do que se gosta de dizer, os índices de inflação do governo Fernando Henrique foram mais altos do que no governo Lula e no governo Dilma.
O PSDB diz que todo governo é obrigado a entregar um país melhor do que recebeu.
Armínio Fraga disse que “Não é mais do que obrigação de um governo deixar as coisas melhores do que encontrou”. O que ele não foi capaz de cumprir. Quando assumiu a presidência do BC, em março de 1999, a inflação estava em 2,2%; quando saiu, em dezembro de 2002, era de 12,5%. Hoje, a inflação está em 6,75%, um pouco acima do teto, e todos os anos do governo Dilma ela foi mantida dentro dos limites da meta. Tivemos dois choques de preços: um de alimentos, e outro de preços de energia, ambos fruto de adversidades climáticas. O efeito desses choques é passageiro e, até o final do ano, a inflação tende a ficar novamente dentro da meta.
E O CRESCIMENTO?
A comparação entre as taxas de crescimento do PIB não é boa para o PSDB. Em 1998 o Brasil cresceu zero%. Em 1999, 0,3%. Depois da posse de Lula, o Brasil nunca somou um desempenho tão baixo, por dois anos seguidos, o que gera sacrifícios maiores para população. Essa diferença revela forma como cada um dos governos enfrentou as crises internacionais. Os tucanos enfrentaram crises que tiveram origem na periferia do capitalismo, enquanto a de 2008 ocorreu nos países centrais. Durante as crises enfrentadas pelo governo FHC, a conta sempre foi paga pelo povo. As medidas ortodoxas de elevação dos juros, que chegaram a 45% ao ano, de desvalorização cambial acelerada, que atingiu 3,96R$/US$, e o endividamento público, em mais de 60% do PIB, resultaram em crescimento muito baixo, desemprego em 11,7%, no final de 2002, aumento da informalidade, que atingiu 53% da mão de obra, redução nos salários, aumento da pobreza e piora na distribuição de renda.
O Armínio Fraga chegou a dizer, no debate com Guido Mantega, que a crise mundial já acabou...
Os efeitos da crise de 2008, infelizmente, são sentidos até hoje. As economias desenvolvidas, que respondem por grande parte do comercio mundial, ainda estão em situação crítica. A produção industrial alemã, por exemplo, registrou queda de 4% no mês de agosto. Mesmo a China cujo PIB crescia em média 10% ao ano, deverá crescer 7,4% este ano
Por que a Europa enfrenta uma crise tão prolongada"
O retorno das políticas de austeridade e de arrocho fiscal gerou resultados terríveis nos países mais frágeis da União Europeia, os mesmos resultados que assistimos na América Latina por décadas.
COMO FOI A HERANÇA QUE O LULA RECEBEU?
Quando nós começamos a governar, as reservas internacionais eram de US$ 37,8 bilhões, US$ 20 bilhões emprestados pelo FMI, produto de um déficit comercial acumulado em oito anos de FHC, da ordem de US$8,5 bilhões. Foi um grande desafio para o presidente Lula superar essa vulnerabilidade externa. Sob o governo FHC, o investimento estrangeiro no Brasil foi de apenas US$ 163 bilhões. Lula e Dilma voltaram a atrair o investidor externo. Em 44 meses de governo Dilma, o investimento direto estrangeiro direto ultrapassou US$ 237,9 bilhões. Hoje, acumulamos mais de US$ 375 bilhões de reservas internacionais e o saldo comercial, desde 2003, soma US$ 311 bilhões. Nós fizemos tudo isso preservando a estabilidade, o crescimento, o emprego e a renda da população.
EM SÍNTESE...
A resposta ortodoxa do PSDB produziu um crescimento do PIB, de 1995 a 2002, de apenas 20%. Desde então, já crescemos 46%. Enquanto no governo FHC o PIB per capita cresceu 2,2%, com Lula e Dilma avançou 29,6%. A economia brasileira deu um salto, desde 2002. A produção anual de veículos passou de 1,6 milhão de unidades para 3,7 milhões, em 2013. O número de passageiros de avião, que era de 36 milhões, em 2002, superava os 111 milhões, por ano, em 2013. A safra agrícola, que era de 123 milhões de toneladas de grãos em 2002/2003, deverá superar os 195 milhões de toneladas este ano.
A OPÇÃO ESTRUTURANTE PELO SOCIAL DEU CERTO?
Não foi por acaso que, segundo a ONU, o Brasil saiu do mapa da Fome. A taxa de desemprego era de 11,7%, em 2002. Caiu para os atuais 5,0%, a menor taxa da série histórica. O aumento real do salário mínimo, de 71,5%, durante os governos Lula e Dilma, e os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família que beneficia mais de 14 milhões de famílias, também possibilitaram reduzir a pobreza, de 24,7%, em 2002, para 8,8%, em 2013, e a extrema pobreza, de 8,0% para 4,0%, no mesmo período. Com isso, conseguimos reduzir a desigualdade de renda medida pelo coeficiente de Gini, de 0,561, em 2002, para 0,495, em 2013.
OS PROGRAMAS SOCIAIS ESTÃO NO CENTRO DO DEBATE...
No campo social, o PSDB nunca implantou projetos estruturantes. Suas propostas foram sempre tímidas e de baixíssimo alcance. O PSDB sempre optou pela receita de esperar o bolo crescer para depois dividir -- se fosse possível, como querem as receitas ortodoxas. O governo FHC teve a oportunidade de fazer um programa aos moldes do Bolsa Família, mas não quis fazer. Por duas vezes, o Programa de Renda Mínima do Senador Eduardo Suplicy foi aprovado pelo Congresso e depois vetado no Palácio. A primeira, em 1996, quando se alegou conflito com as políticas em vigor. A segunda, quando FHC vetou uma emenda ao Programa Nacional de Educação (PNE) que previa ‘Ampliar o Programa de Garantia de Renda Mínima associado a ações socioeducativas." Nosso modelo de desenvolvimento coloca as questões sociais no centro das decisões de política econômica. Os pobres conquistaram um espaço que nunca estiveram no orçamento público.
COMO SE TRADUZ ISSO?
Os resultados se refletem nos números do setor. Por causa dessa estratégia o Bolsa Família atinge cerca de 56 milhões de pessoas, e já retirou 36 milhões de brasileiros da pobreza, 22 milhões de nos últimos dois anos. Nós geramos mais de 20 milhões de empregos. Adotamos uma política de preservação dos postos de trabalho e dos salários, mesmo diante da crise internacional que acabou com os empregos no mundo. A UNICEF mostra que reduzimos brutalmente a mortalidade infantil e aponta o Brasil como o país que mais reduziu esse indicador em todo mundo. Há, hoje, 3,2 milhões de crianças em ensino de tempo integral e com o PRONATEC que já atingiu 8,1 milhões de matrículas no ensino técnico e profissionalizante.
O QUE É POSSÍVEL COMPREENDER DEPOIS DE 2003?
Provamos, na prática, que é possível estabilizar, crescer, distribuir renda e promover a igualdade social. Os programas de inclusão social no governo FHC não passaram de um emaranhado de ações desconectadas que mais pareciam projetos-piloto, isolados e fragmentados. Alguns deles foram criados no apagar das luzes do governo FHC, como o bolsa escola, lançado em 2001, e o auxílio gás, lançado em 2002. O Cadastro Único foi criado apenas em 2002, sem o monitoramento das contrapartidas dos beneficiários. Juntamente com o bolsa alimentação e o cartão alimentação, esses programas atingiam, no máximo, 5,1 milhões de famílias. Em Minas Gerais, o governo Aécio reproduziu o mesmo padrão de política social de FHC. Dizem que somos um governo marcado pelo improviso, mas eles jamais conseguiram estruturar uma política social de longo prazo, com grandes escala e abrangência. Agora, nada mais podem fazer do que prometer manter e aprimorar nossas políticas sociais, esperando que ninguém se lembre do que fizeram.
UM EXEMPLO...
Vamos falar da valorização do salário mínimo. Lembro-me, em 2000, quando Aécio era líder do PSDB na Câmara, do debate sobre o assunto. O candidato do PSDB era muito enfático em defender proposta do FHC de dar aumento irrisório ao salário e afirmou que “É muito cômodo para qualquer parlamentar, deputado ou senador, propor um salário mínimo irreal (...)” e que a nossa proposta - um aumento um pouco maior, mas dentro das possibilidades orçamentárias da época - “significaria o retorno do mais perverso dos impostos, que é o imposto inflacionário”. Anos depois, Aécio Neves, seu vice Aloysio Nunes e todo PSDB votaram contra o PL nº 382, de 2011, que tornou automático o processo de reajuste do salário mínimo por meio de Decreto Presidencial, com base nas regras estabelecidas na Lei 11.164/2005. O PL foi aprovado e o PSDB, o DEM e o PPS, que novamente estão juntos, propuseram uma ADIN ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei nº 12.382/2011 do salário mínimo. O STF decidiu por 8 x 2, pela constitucionalidade da Lei.

PARECE QUE QUESTIONAR SALÁRIO MÍNIMO É UMA IDEIA FIXA DE SEUS ADVERSÁRIOS...
Armínio Fraga tem feito várias declarações contra a valorização do salário mínimo, seja criticando o que chama de crescimento exagerado, seja para sugerir um teto de crescimento. Armínio afirma que “o salário mínimo cresceu muito ao longo dos anos”. Disse ainda ao Estadão, ao tratar desse assunto, que “o custo de tomar medidas impopulares é muito menor do que o de não tomar. As pessoas têm que cair na real”. Parece julgar que os brasileiros estão vivendo de sonho.
E na educação?
O PSDB, em 2004, na Câmara, votou contra o Programa Universidade para Todos - PROUNI. Em seguida, o DEM, seu aliado, propôs outra ADIN. Mais uma vez, o STF, por 7 votos a 1, decidiu pela constitucionalidade da Lei. Essa ADIN foi julgada junto com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, ajuizada em 2009 pelo DEM, contra o sistema de cotas raciais da UnB, que previa reserva de 20% das vagas para ingresso de estudantes negros e pardos. Eles jamais fizeram qualquer ação afirmativa para reconhecer e resgatar direitos históricos da comunidade afro descendente. Em 2012, o PSDB votou contra a política de cotas raciais. O projeto de cotas ficou represado na CCJ do Senado por três anos, pelo ex-Senador Demóstenes Torres (DEM/GO). O vice de Aécio, Senador Aloysio Nunes, não somente votou contra as cotas como afirmou que “não há razão para se impor, no meu entender, um critério racial para definir quem é excluído e quem não é excluído”.

TEM MAIS?
Tem. Em 2013, o PSDB, liderado pelo vice de Aécio, votou contra o Programa Mais Médicos. Aloysio Nunes afirmou que “esse projeto, infelizmente, não merece acolhida. Não vou concordar com isso” Claro que hoje, eles querem se apropriar de nossas políticas sociais, mas não entenderam ainda que o nosso modelo de desenvolvimento é absolutamente diferente do deles. Essa falta de entendimento e a visível falta de prioridade e sensibilidade com as questões sociais, ficam evidentes quando se lê o Capítulo Econômico do Programa de Governo, em que o candidato, ao longo de 63 páginas, não menciona os termos ‘inclusão social’ e ‘distribuição de renda’, nem sequer uma única vez nesse capítulo. Em contrapartida, a palavra ‘superávit’ é mencionada sete vezes."Isso ilustra bem para quem querem governar o país. Emprego e salário não ocupa prioridade nem no plano da retórica. É por isso que os pobres nunca entraram, de fato, no Orçamento da União durante os oito anos do governo FHC. Além disso, nos demais capítulos do programa de governo do PSDB, sempre que os programas sociais são mencionados, prevalece uma abordagem genérica. Não há metas claramente definidas, especialmente no caso do Bolsa Família, do Mais Médicos, do Pronatec e do Minha Casa Minha Vida. Isso acontece porque o Aécio quer retomar as práticas do Governo FHC, quando as políticas sociais tinham caráter meramente acessório. Sua dificuldade é que a maioria da população já pode comprovar, por experiência própria, que é possível governar de outro jeito. Então, é central compreender, nestas eleições, que a opção política de Aécio e seus aliados constitui uma ameaça à continuidade das políticas de distribuição de renda e inclusão social.
UM TEMA PERMANENTE DO DEBATE ENVOLVE O PAPEL DOS BANCOS PUBLICOS.
É um ponto essencial. Através do crédito direcionado e subsidiado, os bancos públicos tiveram papel fundamental em garantir recursos para os investimentos na indústria e agricultura, mas também para o acesso da população à aquisição de imóveis, automóveis, eletrodomésticos. Em plena crise, o crédito doméstico subiu de 45,4% do PIB, em dezembro de 2010, para 56,8% do PIB, de acordo com o último dado de agosto. Um aumento de R$ 1,2 trilhão do crédito, que contribuiu para mitigar os efeitos da crise garantindo a produção, o emprego e renda da população. Sem nossos bancos públicos, o Brasil não teria saído da crise como saiu nem teria sido capaz de manter o emprego e salário nos níveis de hoje.
Por que os tucanos se mostram preocupados quando falam de bancos públicos?
No capítulo sobre “Desenvolvimento Econômico”, o candidato Aécio afirma que um “tema preocupante diz respeito ao excessivo crescimento dos empréstimos concedidos por bancos públicos”. Na realidade, não haveria motivo para essa preocupação, se houvesse interesse em atender quem tem necessidade de crédito. O volume de crédito oferecido pelo bancos públicos não cresceu por um ato de vontade do governo, mas porque os bancos privados recuaram, retrocederam, e deixaram seus clientes, reais e potenciais, sem alternativa. A posição dos tucanos é clara: eles defendem o desmonte e a privatização dos bancos públicos. Num áudio recente, Armínio Fraga, o virtual ministro da fazenda de Aécio, afirma que os bancos públicos não são favoráveis ao desenvolvimento, que costumam gerar prejuízos e alocam mal o capital. Essa visão está fora da realidade. Os balanços dos bancos públicos mostram que tiveram lucros recordes e muito baixa inadimplência, por mais que o PSDB não consiga enxergar isso. O próprio Armínio deixou claro que, se estiver no comando da economia, chegaremos a um ponto em que os bancos públicos não terão muitas funções e arremata: “não sei o que vai sobrar no final da linha, talvez não muito”.
QUAL A RAZÃO DESSA POSTURA?
Os tucanos já tentaram privatizar a Caixa e o Banco do Brasil quando se encontravam no governo. Em 2000, e isso foi noticiado pelo Valor, Armínio Fraga e Pedro Parente foram à Nova Iorque para uma reunião no banco Merryll Linch. Eles levaram para essa reunião um estudo que previa a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Ironicamente, o banco parceiro do Armínio, a Merryll Lynch, acabou na lista de bancos de investimentos quebrados na crise de 2008. No “Memorando de Política Econômica”, de março de 1999 apresentado ao FMI pelo governo FHC, afirma-se que já fora solicitado exames dos bancos públicos federais (BB, Caixa, BNDES, BNB e BASA) para possível venda de componentes estratégicos ou mesmo a sua transformação em agência de desenvolvimento ou bancos de segunda linha. A experiência mostra que, felizmente, o governo FHC não conseguiu fazer o que pretendia.
COMO ASSIM?
Muitas pessoas acreditam que os bancos públicos têm lucratividade baixa, o que também não é verdade. O BNDES teve lucro de R$ 8,15 bilhões, em 2013, ante um lucro de R$ 550 milhões, em 2002. Estamos falando de um aumento de R$ 7,6 bilhões. O Banco do Brasil também aumentou o seu lucro no período, que passou de R$ 2 bilhões para R$ 15,8 bilhões. Assim como a Caixa, cujo lucro saltou de R$ 1,1 bilhão para R$ 6,7 bilhões. Esses números são ainda mais impressionantes quando se recorda que essas instituições cumprem uma função relevante para o país, seja do ponto de vista social, seja do ponto de vista econômico. O Banco do Brasil cumpre um importante papel financiando o investimento e o capital giro, tanto para a agricultura empresarial como para a familiar. O total do crédito agrícola no Brasil saltou de R$ 24,7 bilhões, na safra 2002/2003, para R$ 180,2 bilhões, na safra 2013/2014. Este incremento foi fundamental para financiar o salto na produção de grãos, que cresceu 58%. A Caixa Econômica Federal, por sua vez, é um dos pilares do nosso financiamento habitacional. As unidades financiadas pularam de 1,45 milhão, no período FHC, para 4,54 milhão no governo Dilma. Sem o crédito direcionado e, subsidiado e operado, em grande parte, por meio da Caixa, esse incremento de 213% não teria sido possível.

DE ONDE VEM ESSA VISÃO SOBRE BANCOS PUBLICOS?
A origem deste equívoco é uma visão ideológica, capitaneada por Armínio Fraga. Economias extremamente competitivas, como as da China, Alemanha e Coréia do Sul, têm importantes bancos públicos de desenvolvimento, fundamentais no apoio à indústria, agricultura e infraestrutura. No Brasil, nosso banco de desenvolvimento, o BNDES, é o terceiro maior do mundo, com ativos no valor de US$ 368 bilhões, atrás apenas dos bancos de desenvolvimento da China e da Alemanha. O BNDES desembolsou, em 2013, cerca de R$ 190 bilhões em mais de 1,1 milhão de operações e responde por 5,9 milhões de empregos criados ou mantidos no período. Das mil maiores empresas do Brasil, segundo a publicação Maiores Empresas do jornal Valor Econômico, 783 contam com financiamento do BNDES. Essas mil empresas representam 84% do investimento na indústria brasileira. Já na infraestrutura, 1/3 do financiamento (R$ 62 bilhões) do banco é destinado ao setor. Desde 2007, o BNDES financiou 97% da capacidade instalada de geração de energia no Brasil, 55% da capacidade instalada de geração de eólicas, e 61% da capacidade instalada por Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). São investimentos como esses que têm afastado o risco de apagão. como tivemos no governo FHC. Com o custo do crédito mais caro, alguns desses projetos não sairiam do papel, ou seria encarecido o custo da energia ao consumidor, para que se pudesse arcar com custos financeiros mais elevados.
E A POLÍTICA INDUSTRIAL?
Mais uma vez, estamos falando de projetos completamente distintos. Nos anos FHC, era proibido se falar em política industrial. A ideologia neoliberal não permitia. O receituário tucano para a indústria era baseado na abertura comercial radical como indutor do aumento da competitividade, políticas horizontais, sem ênfase aos setores estruturantes da indústria, e políticas macroeconômicas muito pouco amigáveis para a indústria. Quem não conseguisse suportar a concorrência deveria fechar as portas e mudar de ramo. O resultado nós conhecemos: a fragilização da nossa estrutura industrial, com a desnacionalização das nossas cadeias produtivas. Aécio retoma este receituário em seu programa de governo, ao criticar o apoio aos setores estruturantes, ao defender políticas horizontais e ao defender abertura comercial sem contrapartidas nas mesas diplomáticas e negociação. O resultado desta receita a gente já conhece desde os anos 1990: desemprego em alta, perda de setores estratégicos da nossa indústria, e salários que não crescem.
DILMA É CONTRA A ABERTURA COMERCIAL?
Nós acreditamos que a abertura comercial é fundamental para dar dinamismo às nossas empresas. Mas, neste cenário internacional, é indispensável fortalecer nossa indústria para essa competição, induzindo ganhos de competitividade. Por isso, são cruciais o crédito subsidiado para o investimento e o fomento à inovação, por meio do BNDES, da FINEP e da EMBRAPII, além do investimento na qualificação profissional do trabalhador com o PRONATEC, e a expansão do ensino superior. Eu destaco ainda o Inova Empresa, criticado por Aécio em seu programa. Os tucanos, como sempre, só enxergam o custo fiscal da política, sem perceber percebem o retorno que o Inova Empresa oferece. É o maior programa para a inovação da história do país. Faz a junção de uma série de instrumentos diferentes de apoio à inovação e fomenta setores estratégicos para a economia brasileira, como defesa e aeronáutico, energia, petróleo e gás, agroindústria, TIC,s entre outros. Até março de 2014, já tinha sido contratados R$ 16 bilhões e existem mais R$ 23,4 bilhões em fase de contratação.
QUAIS MEDIDAS FORAM TOMADAS PARA BENEFICIAR A INDUSTRIA?
Além do crédito para investimento e do incentivo à inovação, conduzimos uma importante política de desonerações, que tiveram papel fundamental para reduzir os custos das empresas e fomentar sua competitividade diante de um cenário internacional bastante adverso. As desonerações sobre a folha de pagamentos permitiram preservar o emprego e renda. Outro importante pilar de nossa política industrial é a política de conteúdo local, que também é tratada muito timidamente pelo candidato Aécio. Por meio desta política, conseguimos resgatar a nossa indústria naval e incentivar toda a cadeia industrial de petróleo e gás.
A OPOSIÇÃO DIZ QUE OS INVESTIMENTOS PRIVADOS NA INFRAESTRUTURA NÃO DECOLARAM E QUE O PAÍS ESTÁ PERTO DE UM COLAPSO.
Eu discordo. Eles desconsideram que o governo Dilma lançou, em 2012, o maior plano de concessão de infraestrutura e logística, que abarca portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Só nas concessões já realizadas, já foram contratados investimentos da ordem de R$ 51 bilhões, em rodovias, portos e aeroportos. Além desse pacote de concessões, há vários outros projetos de infraestrutura em geração de energia, que aumentou a capacidade de geração, expansão de nossa malha de linhas de transmissão, rodovias e até ferrovias, como é o caso da Norte-Sul. Um exemplo que vale a pena mencionar é dos aeroportos concessionados, que contribuíram para a expansão aeroportuária de nossa história com nova capacidade para 69 milhões de novos passageiros. Ao mesmo tempo em que apostamos na expansão de nossa economia, estamos fortalecendo a oferta de infraestrutura e logística para garantir o aumento de demanda que decorre dessa expansão.
Quando os tucanos falam em colapso da infraestrutura, eles devem estar falando do que eles nos deixaram. Mesmo com crescimento econômico pífio, os tucanos entregaram um modelo de infraestrutura inadequado, que redundou no apagão de 2001, em tarifas abusivas nas rodovias e numa malha ferroviária subutilizada e abandonada.

No caso da energia, o setor elétrico foi privatizado de maneira atabalhoada, sem a definição de um marco regulatório claro e sem a existência de agência reguladora para o setor, o que gerou desestímulo aos investimentos no setor. O resultado foi um nível extremamente baixo de investimentos e a consequente crise energética de 2001-2002. O arcabouço regulatório do setor só foi concluído em 2004, no Governo Lula, com as Leis 10.847 e 10.848, o que trouxe de volta os investimentos e levou ao acréscimo de 48.866 MW ao parque gerador do país, cerca de 60% da capacidade instalada em 2002. Somente no governo Dilma, o aumento de capacidade de geração de energia elétrica foi o mesmo de todo o período FHC, e também fizemos mais do que o dobro de linhas de transmissão que eles fizeram em oito anos de governo.

Em relação às rodovias, desenvolvemos um novo marco regulatório maximizando os investimentos e reduzindo fortemente as tarifas. Tivemos 6 novas concessões, com cerca de 5 mil Km já concedidos e outros 5 mil Km previstos no próximo lote. Os pedágios cobrados em estradas concedidas em 1996/1997 são, no mínimo, três vezes mais altos do que os que serão cobrados nas rodovias concedidas em 2013/2014 pelo governo federal.

Por fim, as concessões ferroviárias são outro exemplo. Realizadas pelo governo tucano entre 1996 e 1998, tiveram um viés fiscalista e obtiveram um resultado desastroso, com boa parte da malha ficando sem investimentos, subutilizada ou mesmo abandonada, com fretes extremamente elevados, próximos aos fretes rodoviários, pois se criou monopólios nos principais corredores ferroviários. É exatamente isso que novo modelo de ferrovias aprovado nesse governo busca superar. Já foram construídos aproximadamente 2 mil Km de linhas ferroviárias e outros 2 mil Km estão em construção.

Apenas para dar um último exemplo de gestão tucana da infraestrutura, eu cito o caso da falta de água em São Paulo. Neste caso, o Ministério Público acaba de mover uma ação civil contra o governo estadual por captação irregular de água pela Sabesp. É evidente que tivemos uma falta de planejamento e de investimentos estratégicos no sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo, atingido por um forte período de seca, com riscos crescentes de agravamento em um quadro já muito difícil.

AECIO PROPOE UMA MUDANÇA NA POLÍTICA EXTERNA...
Em seu Programa de Governo, no capítulo “Desenvolvimento Econômico”, Aécio afirma que “será necessário rever o modelo de integração do Mercosul, reduzindo o peso da união aduaneira” e “reavaliar prioridades estratégicas” em relação à China e à região asiática . O candidato propõe “lançar as bases para um acordo preferencial com os Estados Unidos”, “concluir as negociações, em curso, com a União Europeia”, criar “uma abrangente área de livre comércio, incluindo México” e “redefinir as políticas baseadas em exigências de conteúdo nacional”. Na verdade, Aécio Neves retoma uma concepção de inserção subordinada do Brasil nas relações internacionais. No passado, essa mesma política, afinada com o Consenso de Washington, levou ao enfraquecimento do Mercosul, ao aumento da vulnerabilidade externa e à redução de nosso protagonismo comercial e diplomático. Hoje, o que está sendo proposto, ainda que envergonhadamente, é a retomada da ALCA – tentativa fracassada de criação de uma área de livre comércio nas Américas. É fundamental que o Brasil tenha uma política industrial e comercial para que essa inserção não seja na condição de maquilador, ou de produtor de commodities. As propostas do candidato, portanto, retomam a mesma lógica de subordinação que, no passado, fez o Brasil acumular déficits comerciais de US$ 8,6 bilhões, em contraposição aos superávits comerciais registrados durante os governos Lula (US$ 312 bilhões) e Dilma (US$380 bilhões). As propostas de Aécio Neves conduzirão, na prática, ao enfraquecimento dos BRICS e do Mercosul. Na verdade, os BRICS nem sequer são mencionados em seus oito “Compromissos/Propostas” de política comercial. Ou seja, o candidato ignora os esforços dos principais países emergentes para a criação de novos mecanismos de promoção do desenvolvimento e da estabilidade financeira, como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas, que hoje trazem instrumentos mais avançados que o Banco Mundial e o FMI. Além disso, Aécio Neves relativiza a importância da integração regional e ignora os passos dados nos últimos anos para o fortalecimento do Mercosul e a criação da Unasul e da Celac. Esses avanços têm permitido ao Brasil, a maior economia do bloco, firmar-se como líder na região. De fato, nos últimos anos, o comércio mundial cresceu 180%, enquanto que nossas exportações para o Mercosul cresceram mais de 600%, com destaque para as exportações de bens industriais. Essas iniciativas têm contribuído, de forma decisiva, para a criação de novos espaços geopolíticos e nichos comerciais, e para a consolidação de nossa participação no comércio mundial, que passou de 0,94%, em 2002, para 1,36%, no governo Dilma. É bom lembrar que o Brasil, em conjunto com o Mercosul, já elaborou uma proposta de acordo com a União Europeia (UE). Entretanto, as negociações estão estancadas devido às dificuldades da UE em apresentar a sua proposta alternativa, que contemple a redução dos subsídios agrícolas. Hoje, o Brasil assume um protagonismo internacional sobre temas sociais e econômicos que é inédito em nossa história. É lamentável ver o debate sobre política externa ser permeado novamente por uma retórica conservadora, associada a uma visão subalterna do Brasil no cenário internacional.
NO PRIMEIRO TURNO, AÉCIO TENTOU APRESENTAR MINAS GERAIS COMO SUA VITRINE. APESAR DISSO, OS MINEIROS ELEGERAM FERNANDO PIMENTEL NO PRIMEIRO TURNO. COMO VOCÊ AVALIA ISSO?
Aécio Neves tem procurado apresentar a “eficiência” como principal característica de seu projeto político. Isso tem servido de artifício para mascarar o debate que realmente importa. Na verdade, nenhum gestor ou político em sã consciência é contra tornar o Estado mais eficiente, sabendo que isso lhe permitiria realizar mais e melhor com os mesmos recursos disponíveis. Não há nenhuma novidade nisso. O que é fundamental na condução política do país é mostrar com clareza qual é o melhor caminho estratégico a ser seguido no enfrentamento dos grandes desafios da nação. Foi o que nós fizemos quando elegemos o social como eixo estruturante do desenvolvimento econômico, definição que passou a orientar tanto nossas decisões de política econômica como nossa agenda política e social. Esse é o debate relevante nesta eleição: qual é o caminho que o Brasil deve trilhar nos próximos anos? O candidato Aécio afirma que vai resgatar o governo FHC, que era um governo “eficiente e decente” .Eles consideram eficientes os resultados econômicos e sociais de FHC? Eles consideram decente um governo que deixou mais de 1/3 de sua população vivendo na pobreza? A gestão pública tem que ser avaliada pelos seus resultados à luz dos compromissos firmados nas urnas. Os nossos estão aí para serem avaliados. Ora, se o modelo de gestão implantado por Aécio fosse efetivamente um avanço, era de se esperar que ele tivesse resultados superiores aos nacionais e ao de outros estados com características semelhantes a Minas Gerais. Não é isso que se vê. No período Aécio, o PIB per capita cresceu 3,8%, menos que a média nacional, que foi 4,03%. Esse resultado se manteve no período Aécio-Anastasia, quando o PIB per capita cresceu 3,29%, contra um crescimento de 3,8% do PIB nacional. Isso fez com que Minas passasse do 9º para o 12º lugar entre os estados brasileiros. Com o agravante de que isso ocorreu num dos períodos mais favoráveis da história da economia mineira, quando o estado se beneficiou do boom das commodities agrícolas e minerais. Esse resultado decorre de um modelo de desenvolvimento e gestão equivocados, que Aécio quer nacionalizar.
E NA ÁREA SOCIAL?
Durante a gestão de Aécio, o estado perdeu até uma posição no IDH, caindo de 8º para 9º lugar, entre os estados brasileiros. Durante a Gestão de Anastasia, Minas também passou do 3º para o 6º lugar no ranking de competividade econômica, elaborado pela The Economist. Quando analisamos áreas especificas de governo, como a segurança pública, os resultados também são catastróficos. Em 2009, no governo Aécio, Minas Gerais tinha o 3º pior índice de solução de inquéritos policiais, o que alimentava a impunidade. Apenas 2,9% dos inquéritos eram solucionados, de acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público. Nos últimos 10 anos de gestão do PSDB, o crescimento dos homicídios foi de 52%, de acordo com o Mapa da Violência 2014, e 56% das vítimas eram jovens entre 15 e 29 anos. No mesmo período, houve queda de quase 40% nos homicídios em toda a região Sudeste. Entre 2010 e 2013, os crimes violentos – estupros, homicídios e latrocínios – cresceram 74%. O governo Aécio também copiou a fórmula de FHC para os programas sociais, com programas com escala de projetos piloto. O programa Poupança Jovem, que ele promete transformar em um programa nacional, atinge hoje apenas 9 dos 853 municípios mineiros, o que equivale a 1% do municípios, e beneficia apenas 8,9% dos estudantes do ensino médio da rede pública do estado, 65,4 mil estudantes. De acordo com matéria do site da Folha de São Paulo, de 26 de agosto de 2014, que cita dados fornecidos pelo próprio governo de Minas, esse programa beneficiou em sete anos apenas 139,5 mil jovens. É bom lembrar que a rede pública de Minas Gerais tem 735 mil alunos, de acordo com o Censo Educação Básica de 2013.
O QUE SE PODE FALAR SOBRE A INFRAESTRUTURA?
Aécio também promete revolucionar a infraestrutura, através de concessões e PPPs. Como governador, repetiu a fórmula de FHC que culmina em tarifas caras, tanto para o poder público como para o usuário. A rodovia MG-050, concedida por meio de PPP pelo governo tucano em Minas Gerais, tem pedágio de aproximadamente R$ 7/100 km, mais de duas vezes o que será cobrado nas rodovias concedidas pelo Governo Federal no país inteiro. .E apesar do pedágio elevado e do regime de PPP o governo é obrigado a pagar uma contraprestação mensal à concessionária. Na área de obras públicas, o governo Aécio também não é um bom exemplo. Em 12 anos, os governos do PSDB não concluiu nenhum dos oito hospitais regionais que começaram a ser construídos no estado. E o programa Caminhos de Minas, que deveria pavimentar 7 mil KM de rodovias na região mais pobre de Minas, praticamente não saiu do papel.
E O CÉLEBRE CHOQUE DE GESTÃO?
O candidato tucano sempre destacou que a primeira fase de seu “choque de gestão” era um forte ajuste fiscal. Novamente, ele buscou inspiração em FHC, que retirava 20% dos recursos anuais da Saúde e da Educação, por meio da DRU cuja aprovação Aécio liderou no Plenário da Câmara dos Deputados. Os governos Aécio e Anastásia sempre pagaram salários muito baixos para os professores, entre os piores da rede pública, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, embora estivessem a frente de um dos Estados colocados entre os PIBs mais altos do país. Estima-se que, de 2003 a 2008, período em que Aécio era governador, a saúde mineira deixou de receber R$ 4,3 bilhões, e por isso o governo de Minas é réu numa ação do Ministério Público. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, Minas Gerais está entre os estados com menor investimento em saúde por pessoa, o 20º lugar entre os estados brasileiros. Na área de educação, estimativas apontam que nos últimos 10 anos o governo de Minas pode ter deixado de investir R$ 8 bilhões de reais
O PT FALHOU NO COMBATE A CORRUPÇÃO?
A corrupção é um problema grande, que atinge invariavelmente países desenvolvidos e em desenvolvimento. A Comissão Europeia, por exemplo, estima que a corrupção custa 120 bilhões de euros por ano aos países do bloco europeu. Isso equivale a 1,04% do seu PIB. Também na China esse é um tema central na agenda do governo. O Brasil não é diferente do resto do mundo. Aqui os casos de corrupção historicamente envolveram agentes públicos dos Três Poderes e de todas as esferas de governo – federal, estadual e municipal. Durante o governo FHC, também presenciamos inúmeros escândalos, com a diferença que os casos politicamente relevantes foram abafados, por iniciativa do próprio governo, ou não foram devidamente apurados, nem pela Polícia Federal, nem pelo ministério público, nem pelo Congresso. Veja só alguns casos, para refrescar a memória: o escândalo do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), que envolveu negociatas em torno de um contrato de R 1,4 bilhão; o caso dos precatórios do DNER, que trouxe quase R$ 3 bilhões de prejuízo à União; os indícios claros de compra de votos para a reeleição de FHC; a entrega ao setor privado de diversas estatais, a chamada “privataria tucana”, que ocorreu “no limite da irresponsabilidade”, nas palavras de um diretor do Banco do Brasil, e que desempenhou papel destacado na arrecadação de recursos nas campanhas eleitorais do PSDB. Também podemos falar da "pasta rosa". Isto para não falar do chamado Mensalão-PSDB-MG que até hoje não foi nem julgado. Ou do chamado propinoduto do metrô paulista.
O PT FEZ ALGUMA COISA DIFERENTE? 
Nossos governos não varreram a sujeira para debaixo do tapete. A opção foi fortalecer e valorizar os órgãos de repressão e controle da máquina pública, internos e externos. Transformamos a CGU em ministério, criamos o Portal da Transparência, regulamentamos o Pregão Eletrônico, baixamos normas para coibir o nepotismo na administração pública, e conduzimos a aprovação das leis de acesso à informação e de combate à corrupção, além da aprovação da lei da ficha limpa. Também valorizamos a independência da Procuradoria Geral da República (PGR) e a autonomia da Polícia Federal (PF) e fortalecemos a Advocacia Geral da União (AGU). Na PGR, não fizemos como FHC, que optou por engavetador de denúncias escolhido a dedo e que, na Polícia Federal, chegou a nomear um delegado filiado ao PSDB. Sempre nomeamos o primeiro nome da lista tríplice, elaborada pelos procuradores. Quanto à PF, asseguramos a autonomia de suas ações, sem deixar de investir no seu aparelhamento, na reestruturação das carreiras, e na contratação de delegados, agentes e peritos. Seu orçamento cresceu 106%. Ela tinha 6100 servidores, hoje tem 8900 entre delegados, agentes e peritos. Durante o governo de Aécio Neves em Minas Gerais, nas indicações para Chefe do Ministério Público Estadual, em 2004, e para Procurador-Geral de Justiça, não se observou a posição dos votados em lista tríplice, sendo escolhido o último colocado e posteriormente, em 2008 o segundo colocado. Em São Paulo, o Governador Geraldo Alckmin, mantendo a tradição tucana, indicou, em 2012, o segundo colocado da lista tríplice para o cargo de Procurador-Geral de Justiça. Diante das denúncias de desvios de bilhões de dólares do metrô, foi necessário que o Ministério Público Suíço procedesse às investigações, que continuam não avançando na velocidade desejável.
E AS DENUNCIAS SOBRE A PETROBRAS?
Foi o governo que criou as condições para que tudo fosse investigado, o que no passado jamais aconteceu diante de denúncias semelhantes. Foi a presidenta Dilma que demitiu o senhor Paulo Roberto Costa e tão logo surgiram as primeiras denúncias ela também determinou que se fortalecessem as investigações. O Supremo Tribunal Federal e o Procurador Geral da República negaram ao governo federal e à CPI da Petrobras o acesso ao depoimento de Paulo Roberto Costa, sob o argumento de que isso poderia comprometer as apurações, a reunião de provas e o devido processo legal. Respeitamos essa decisão e aguardamos o pronunciamento da Justiça para que pudéssemos tomar as medidas cabíveis no âmbito do Poder Executivo.

COMO AVALIAR O ATUAL ESTÁGIO DAS INVESTIGAÇÕES?

As informações que constam da delação premiada precisam ser devidamente apurados e comprovados. As pessoas supostamente envolvidas nem sequer foram oficialmente notificadas e devem ter assegurado seu amplo direito de defesa com base em provas fundamentadas. Contudo, estamos tendo vazamento seletivos com clara intenção político-eleitoral. Causa estranheza que os resultados de uma investigação que vem vendo conduzida há meses, sob sigilo, venha a público dessa forma, às vésperas do segundo turno das eleições. É fundamental o respeito às instituições republicanas. Isso vale para todos os poderes da república, inclusive para o Judiciário, que não pode servir de instrumento político. O vazamento de parte dos depoimentos prestados pelos senhores Paulo Roberto e Alberto Youssef perante a Justiça carecem, no mínimo de apuração e comprovação.

JÁ FOI POSSÍVEL ENCONTRAR ALGUMA CONTRADIÇÃO?
O doleiro Youssef afirmou que Lula teria nomeado Paulo Roberto Costa, em 14 de maio de 2004, devido à obstrução pela base aliada das votações no Congresso por 90 dias. Ora, uma simples consulta aos sites da Câmara e do Senado, desmente essa afirmação, como já esclareceu o vice-presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia do PT. Aquele foi um período de extensa atividade política. Foram votadas na Câmara 4 PECs, 37 Medidas Provisórias, 3 projetos de lei, 8 projetos de decreto legislativo e 8 projetos de resolução. No Senado, foram aprovados 35 medidas provisórias, 11 projetos de lei, 55 projetos de decreto legislativo e 1 projeto de resolução. Essa denúncia é mais um exemplo de como isso é ventilado pela imprensa sem qualquer comprovação dos fatos. Esta não é a primeira vez que acusações graves são feitas contra uma candidatura liderada pelo PT, às vésperas de uma eleição, com o claro propósito de influenciar o resultado das urnas. Em 1989, tentaram relacionar o sequestro do empresário Abílio Diniz com Lula e o PT, o que foi desmascarado graças à ação do grande Cardeal de São Paulo, Dom Evaristo Arns. Naquele episódio, os sequestradores acusaram a polícia de tê-los obrigados a vestir a camisa de Lula, candidato à presidência da república. Os jornais da época suscitaram o envolvimento do PT e somente após a vitória de Collor repararam seu erro. Isto não pode se repetir.

ENQUANTO DILMA QUER O FIM DO FINANCIAMENTO PRIVADO DE CAMPANHAS ELEITORAIS, AÉCIO FALA EM ACABAR COM A REELEIÇÃO E QUER VOTO DISTRITAL. NÃO É MUITA DIFERENÇA?

Ironicamente, o programa de governo do candidato Aécio Neves não enfrenta o problema que está na raiz dos grandes escândalos de corrupção: a questão do financiamento das campanhas políticas por empresas privadas. Como temos repetido, incansavelmente, não adotarmos o financiamento público exclusivo de campanha continuaremos a enxugar gelo. É por isto, que a Presidenta Dilma apresentou cinco novas propostas de combate à impunidade e a corrupção, inclusive transformar caixa dois em crime. Os movimentos da sociedade civil organizada, liderados pela CNBB e a OAB, já apresentaram proposta de reforma política que conta com mais de 500 mil assinaturas e trata diretamente desse tema. É fundamental restringir a influência do poder econômico no processo eleitoral e político. Jamais teremos uma “nova política” sem uma profunda reforma politica. Essa reforma não será feita por um Congresso que foi eleito pelas regras atuais e não quer que sejam modificadas. Só virá com a mobilização da sociedade, com apoio do Executivo.
E A REELEIÇÃO?
O instituto da reeleição não impediu, até esse momento, a renovação dos cargos majoritários, sempre que os dirigentes foram mal avaliados. Da mesma forma, também permitiu a continuação pela via do voto dos governos magnificamente apoiados pelos eleitores. É justo, portanto, que o eleitor tenha o direito de reconduzir ou não um governante pelo caminho das urnas. Foi graças e esse instituto que Lula pode dar início a uma imensa transformação de nosso país. É graças a ele que Dilma vai poder continuar transformando o Brasil.
POR QUE AÉCIO RESOLVEU COMBATER A REELEIÇÃO AGORA?
Essa confirma que, no âmbito político, os compromissos assumidos por Aécio Neves são superficiais, quando não casuísticos. O candidato do PSDB liderou no Congresso a aprovação da reeleição para Presidente da República. Seu partido fez de tudo para abafar o escândalo da compra de votos nessa votação. Agora, prega agora o fim da reeleição para todos os cargos eletivos no Executivo e no Legislativo, com o aumento do período de duração dos mandatos de quatro para cinco anos. Curiosamente, seu programa de governo menciona que “as propostas de alterações nas regras eleitorais devem ser planejadas para que comecem a valer a partir da eleição de 2018 e se consolidem na eleição de 2022”. Assim, sob o argumento de que é preciso compatibilizar a duração de todos os mandatos, pois esta proposta não foi defendida e apresentada com a antecedência devida, continuaria aberta a porta para a reeleição de Aécio Neves em 2018, agora para um período de cinco anos.
AÉCIO PROPOE A COINCIDÊNCIA DE TODOS OS MANDATOS. ISSO É BOM?
Não acho que isso seja saudável para uma democracia, quanto mais para um país que saiu há poucas décadas de uma ditadura. A coincidência de mandatos limita a possibilidade de exercício do voto a uma única oportunidade durante o período de cinco anos.

COMO ENTENDER A VOTAÇÃO DE DILMA E DO PT EM SÃO PAULO, NO PRIMEIRO TURNO?
Minha opinião é que a maioria dos eleitores não conhece o esforço que Lula e Dilma fizeram por São Paulo. Não tem informações, não sabe o que foi feito. A verdade é que uma grande parte dos investimentos do governo federal está voltada para favorecer o desenvolvimento das potencialidades do estado economicamente mais importante do país. Só o PAC 2 destina a São Paulo investimentos exclusivos da ordem de R$ 251 bilhões. São obras em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, entre outros, realizadas em parte com recursos da união ou financiadas com crédito subsidiado. As parcerias do governo federal em obras de mobilidade urbana no estado somam mais de R$58,1 bilhões de reais, destacando-se os investimentos em 194 km de BRTs, 650 km de corredores, 34 km de metrô, 46,7 km de monotrilhos, 15,4 km de trens urbanos, e 24,5 km de VLTs. Na habitação popular, com o Minha Casa Minha Vida, construímos e contratamos mais de 640 mil casas, 316 mil já entregues. É um volume superior ao que se fez nos trinta anos do CDHU, empresa habitacional do governo do Estado. O governo federal destinou para São Paulo mais de R$ 9,4 bilhões do Fundo Nacional da Saúde, para investimentos na atenção básica e de média e alta complexidade, para assistência farmacêutica, gestão do SUS, vigilância em saúde, entre outros, além dos 2.189 profissionais dos Mais Médicos que estão trabalhando na atenção básica. Mais de 4 mil escolas de São Paulo recebem recursos extras para ensino em tempo integral, que está beneficiando mais de 760 mil alunos. Foram construídas 33 novas escolas técnicas federais, desde 2003, e o estado teve mais de 454 mil matrículas no Pronatec. Também criamos uma nova Universidade Federal e aumentamos fortemente no interior o número de câmpus em São Paulo. O FIES já beneficiou mais de 440 mil estudantes. No Prouni são mais de 454 mil bolsistas beneficiados no estado, desde o início do programa. E 17.486 estudantes de São Paulo puderam estudar nas melhores universidades do mundo, por meio do programa Ciências Sem Fronteiras.