quarta-feira, 27 de julho de 2016

Nosso curso de formação do “coxinha esclarecido” fez sucesso


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CURSO PARA O COXINHA ESCLARECIDO
por Luiz Carlos Azenha, no Facebook do Viomundo, com revisão que implicou em acréscimos e ajustes
Agora que você conseguiu derrubar uma presidente da República com premissas e argumentos falsos, é hora de sofisticar sua capacidade de debate.
Não seja confundido com um mero seguidor do intelectual pornô Alexandre Frota. Pega mal na turma.
Você certamente é muito mais sofisticado que isso.
Provavelmente você é admirador dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, do Estado Mínimo, escrito assim em maiúsculas para denotar a centralidade deste item na pauta neoliberal.
Nunca confunda uma coisa com outra. Por mais que a Miriam Leitão sugira isso, os Estados Unidos não são um Estado Mínimo.
Palavra de quem morou lá duas décadas e tem duas filhas novaiorquinas (na verdade, de tripla nacionalidade, dentre as quais preferem a brasileira), com direito a tirar proveito do estado de bem estar social dos Estados Unidos.
Você costuma confundir estado de bem estar social com comunismo (como em Bolsa Família, médicos cubanos, etc.). Nos Estados Unidos, ele é resultado do anticomunismo.
Preste atenção: quem implantou o estado de bem estar social nos Estados Unidos foi o presidente Roosevelt. O país vinha do crash econômico de 1929. Depressão econômica. Os sindicatos eram fortes.
Para cooptar os sindicatos e evitar a ascensão dos comunistas, Roosevelt resolveu implantar programas sociais e salvar o capitalismo. Portanto, as coisas que ele bolou e implantou eram uma forma de combater o comunismo. Logo, anticomunistas.
Chamar o Roosevelt de comunista é tão absurdo quanto chamar o Lula ou a Dilma ou o PT de comunista. Eles são social democratas.
No Brasil, o partido que tem social e democratas no nome não é nem uma coisa, nem outra.
Voltemos aos Estados Unidos. Por mais que a partir daquele seu grande herói, o Reagan, os EUA tenham dilapidado o estado de bem estar social, os pilares deles subsistem: Social Security, Medicare, Medicaid e Food Stamps.
Pode chamar de Previdência Social, Bolsa Terceira Idade, Bolsa Plano de Saúde e Bolsa Família.
Essa ideia, de que o Estado deve ajudar a cuidar dos mais fodidos, é uma coisa antiga, que surgiu em outro país que você admira muito, a Alemanha. Mas não quero dar overload de informação no seu cérebro.
Basta você registrar isso: por causa dos programas sociais acima — e de outros fatos que apresentarei em seguida — os Estados Unidos não são um Estado Mínimo.
Pelo contrário, os EUA se assentam sobre um Megaestado, muito maior que o brasileiro.
Se você quer alguns exemplos de Estado Mínimo, eu os ofereço: México, Honduras e Paraguai, países que você certamente despreza e nunca utiliza como exemplo para reforçar seus argumentos.
Portanto, sempre que você falar em Estado Mínimo, esqueça os Estados Unidos e diga: “Devemos fazer como lá no Paraguai, que…”
Acrescente, em seguida, os argumentos pelos quais o Brasil deve seguir o mesmo caminho. A gente quer coxinhas sofisticados e intelectualmente honestos!
INTERVENCIONISMO ESTATAL
Caro amigo, você passou com louvor pela primeira aula. Para encarar a segunda, temos de voltar no tempo.
Vamos falar sobre intervencionismo estatal.
Anos 70. Você não tinha nascido. Eu estudava na Old Mill Senior High School, no condado de Glen Burnie, estado de Maryland. Fiz todas aquelas bobagens que você vê nos filmes de escola gringa, inclusive levar a linda Töve, estudante sueca, ao baile de formatura.
Meu pai americano era vendedor de seguros e trabalhava em Baltimore, cidade que visitei algumas vezes.
Os americanos, como a minha família, tinham se mudado em massa para loteamentos distantes, tipo Alphaville.
A indústria de base tinha abandonado o país em busca de salários mais baixos em outros lugares do mundo.
Sem a grana dos impostos, as áreas metropolitanas tinham entrado em decadência profunda: prédios abandonados, crime, tráfico de drogas.
É óbvio que você, que prega o Estado Mínimo, defenderia para este caso uma solução tocada pela mão invisível do mercado.
Se você condena o BNDES, bote um isordil sob a língua para encarar o que vou te contar.
Os governos americanos enfrentaram o problema despejando bilhões de dólares na recuperação dos centros urbanos, em dinheiro vivo ou deixando de cobrar impostos.
Funcionou mais ou menos assim: os governos reduziram os impostos para empresas que se instalassem em áreas degradadas.
Em alguns casos, exigiram que as empresas contratassem moradores locais.
Com salário garantido, os moradores financiavam apartamentos em prédios reformados com dinheiro público, tipo Minha Casa Minha Vida.
Que horror! Puro dirigismo estatal.
Baltimore ganhou um lindo shopping center bem na marina. Cleveland, Detroit… aconteceu o mesmo num grande número de cidades dos Estados Unidos.
Mais tarde, foi assim no Harlem e no Times Square, em Nova York.
Quando conheci o Harlem, em 1985, parecia um bairro recém bombardeado. Hoje você pode até ir àquela missa gospel recomendada pelos reaças do Manhattan Connection, também defensores do Estado Mínimo (para os outros).
E você que pensou que o intervencionismo estatal nos Estados Unidos fosse coisa da crise de 2008, quando o Obama salvou os bancos e a General Motors!
Portanto, quando você fizer o próximo selfie diante daquele teatro da rua 42, escreva na legenda: “Mamando nas tetas do Estado americano”.
O Lion King só passa lá por conta do intervencionismo estatal com dinheiro público.
MANIPULAÇÃO DO LIVRE MERCADO COM AJUDA BILIONÁRIA AOS MAIS RICOS
Chegamos ao último capítulo: manipulação do “livre mercado”, aquele pelo qual você tem uma admiração quase religiosa.
Sabemos que você abomina o Bolsa Família: distorce a livre competição por mão de obra no mercado de trabalho.
Note, no entanto, que este não é um “problema” exclusivamente brasileiro.
Na tão admirada América — é assim que você chama os Estados Unidos — o número de usuários da versão local do Bolsa Família, os Food Stamps, está próximo de 45 milhões de pessoas.
Sabe por que os Food Stamps sobrevivem na América? Não é apenas por causa da compaixão dos conservadores.
O programa é defendido pela indústria da alimentação! Há restrições ao que pode ser comprado com o cartão, que foca nos produtos da indústria local de alimentos processados. Assim, ela fatura uma enormidade com os pobres.
Portanto, quando o Lula falava que o Bolsa Família fazia girar o comércio e a indústria locais, não é que ele tinha razão?
Mas, na terra do suposto Estado Mínimo, os Food Stamps são um exemplo menor de como o dinheiro público ajuda os mais ricos.
Nem sempre beneficiando os mais pobres.
Você já pensou o que representam para a indústria farmacêutica as compras governamentais dos Estados Unidos?
Elas são tão importantes para os lucros das companhias que o Congresso, cedendo ao lobby das farmacêuticas, proibiu — em alguns casos — o governo de negociar diretamente com as empresas para baixar o preço das drogas oferecidas nos programas públicos.
O Estado Mínimo paga o Preço Máximo!
É uma baita distorção do Livre Mercado, que vai parar direto no bolso de companhia farmacêuticas trilionárias.
Como exemplo final, os subsídios da agricultura. Você sabia que a América gasta U$ 45 bi anuais para bancar o plantio de trigo, algodão, milho, soja e arroz?
Sabia que a grana fica principalmente com as grandes empresas do agribusiness, em vez de ajudar os agricultores mais pobres?
Você, que sempre protesta contra os subsídios da Lei Rouanet, deveria protestar contra o David Rockefeller: o bilionário levou meio milhão de dólares em subsídios agrícolas do Estado Mínimo!
Sabe as consequências do Bolsa Fazendeiro?
Mais pobreza na África e na América Latina, cujo potencial exportador fica comprometido pelo derrame de dólares em larga escala na produção agrícola da América — os europeus, aliás, fazem igualzinho.
Portanto, em sua próxima viagem a Miami, não esqueça de reservar um dia para protestar. Junte os amigos pelo Facebook.
Sugestão de faixas, direto do Google Translator: “Food Stamps is a factory of floaters”, “Rockefeller suckle the government teats”, “Military intervention already”.

Moro conseguiu: era uma vez a Odebrecht​

Ou quebra ou se vende aos americanos...
publicado 27/07/2016
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Da Petrobras:
Nota à imprensa
26 de julho de 2016

Justiça revoga liminar que autorizava participação de empresa bloqueada cautelarmente em licitação da Petrobras

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro revogou, nesta terça-feira (26/7), liminar que autorizava a empresa Odebrecht Óleo e Gás a participar de licitação da Petrobras.

A Odebrecht Óleo e Gás é uma das empresas listadas no bloqueio cautelar adotado pela Petrobras em 29 de dezembro de 2014. O bloqueio cautelar inclui empresas pertencentes aos grupos econômicos citados como participantes de cartel nas investigações decorrentes da Operação Lava Jato.

As investigações evidenciam possível envolvimento da Odebrecht Óleo e Gás nos ilícitos apurados pela Operação Lava Jato, em especial nas fases Acarajé e Xepa. Em razão disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro entendeu que a Petrobras agiu corretamente ao efetuar e manter o bloqueio cautelar vigente, até que sejam concluídas as investigações do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.

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Cerra vai entregar Alcântara aos EUA

Cruvinel denuncia crime de lesa pátria!
publicado 27/07/2016
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De amigo navegante indignado:
Lembra que o Brasil tinha rejeitado as condições americanas porque eram humilhantes? Proibiam brasileiro de entrar na base que seria área de segurança nacional americana. O Brasil optou por usar a base em cooperação com a Ucrânia. E aí, sem explicação convincente, foi só Kabooouuuum. E lá se foram nossa tecnologia e nossos melhores cientistas. E agora o governo entreguista volta ao colo do Tio Sam. Sem ao menos esclarecer ao público como aconteceu a destruição da base. Isso é crime de lesa pátria.
O comentário é a propósito da excelente reportagem de Tereza Cruvinel:
Brasil e Estados Unidos podem reativar acordo sobre a Base de Alcântara

Um dos assuntos tratados em recente reunião entre o chanceler José Serra e o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral, ex-ministro de FHC, foi a retomada das negociações com os Estados Unidos sobre o uso, pelos americanos, da base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA). O acordo firmado por FHC no ano 2000, que conferia amplos poderes aos “locadores”, foi denunciado como entreguista e lesivo à soberania nacional pelo então deputado, que era o relator da matéria na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Seu parecer alterou fundamentalmente o texto. Chegando ao governo, o ex-presidente Lula retirou o acordo do Congresso e deu o assunto por encerrado. A volta do assunto à agenda bilateral, sob Temer e Serra, preocupa inclusive setores militares que temem novas cláusulas atentatórias à soberania nacional sobre a base.

Por sua localização privilegiada, na linha do Equador, a base brasileira é atraente porque, segundo especialistas, reduz em até 30% o custo de um lançamento. O Brasil deve explorar este ativo através da locação das instalações a diferentes países, para obter recursos inclusive para desenvolver seu programa espacial. Entre os clientes, pode ter os Estados Unidos mas não submeter-se às suas exigências ao ponto de perder outros negócios e a própria autoridade sobre a base.

História

O acordo firmado por FHC no ano 2000 provocou reações de militares e setores nacionalistas. Ele na prática criava um enclave americano em nosso país, ao abdicar de controles e prerrogativas de dono das instalações, através de cláusulas denunciadas pelo então deputado WALDIR PIRES, que era o relator da matéria na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, e alteradas em seu parecer.

Uma delas impedia autoridades brasileiras de abrir os contêineres lacrados, transportados em território nacional, contendo veículos de lançamento, espaçonaves e equipamentos afins. O texto de Waldir tornou esta prática permitida, desde que realizada no interior da Base de Alcântara e na presença de autoridades americanas e brasileiras. Caiu também a proibição, prevista no texto original, para o Brasil fotografar ou filmar satélites, foguetes ou partes desprendidas destes objetos que venham a cair em solo nacional. Waldir acrescentou uma ressalva, segundo a qual o registro poderia ser feito, desde que previamente autorizado pelos norte-americanos. Ele suprimiu também a previsão de que caberia aos norte-americanos a expedição de crachás para que brasileiros circulassem na área de lançamento de foguetes da base. Eliminou ainda a restrição sobre a aplicação dos recursos obtidos com o aluguel da base aos americanos, já que o texto anterior proibia que fossem destinados a projetos de desenvolvimento de tecnologia. E, mais importante, Waldir acabou com o impedimento de que o Brasil fizesse acordos com países que sofram restrições dos Estados Unidos, como era, naquele momento, o caso do Iraque, do Sudão e de Cuba, e que alugasse a base para o lançamento de mísseis por países que os EUA consideravam inconvenientes. Isso impediria, por exemplo, acordos com a China.

Com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo, em 2003, Waldir tornou-se ministro da Defesa e recomendou a desistência do acordo, que foi retirado do Congresso. O chanceler Celso Amorim comunicou aos Estados Unidos que o assunto estava encerrado. Ainda em 2003, Lula fechou um acordo com a Ucrânia para desenvolvimento de foguete, o Cyclone-4. Uma empresa binacional, a Alcântara Cyclone Space (ACS), foi fundada, mas até hoje não teve grandes resultados.

Os Estados Unidos, entretanto, nunca perderam seu interesse por um acordo que lhes permita utilizar a Base de Alcântara. Mesmo no governo Dilma, o assunto chegou a entrar na agenda em 2013 mas, com as revelações de Snowden sobre a espionagem da NSA sobre Dilma, Petrobrás e autoridades brasileiras, as relações esfriaram e o assunto morreu.

Gustavo Castañon desmonta editorial do Globo contra universidade pública: Uma farsa, do título ao último pagrágafo

26 de julho de 2016 às 17h06 Eeditoral de O Globo pelo fim do ensino gratuitopor Gustavo Castañon, especial para o Viomundo
No último domingo, 24 de julho, menos de uma semana após a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, ter instituído a gratuidade do ensino universitário em instituições públicas (antiga luta da juventude lá), o jornal O Globo, sempre na vanguarda do atraso brasileiro, publicou  editorial  no sentido oposto.
Sofismas e mentiras. Uma farsa do início ao fim, que vamos desmontar aqui, parágrafo por parágrafo. Começando pelo título:  
Globo-001
A crise força é o fim do injusto sistema tributário brasileiro e do saque da dívida pública que roubou ano passado 43% do orçamento, baseado nos juros mais altos do mundo. Sistema esse do qual a família Marinho é uma das principais beneficiárias.
Globo: “Os alunos de renda mais alta conseguem ocupar a maior parte das vagas nos estabelecimentos públicos, enquanto aos pobres restam as faculdades pagas.”
A maior parte das vagas é ocupada por alunos de classe média, que também não teriam, em grande parte, condições de pagar por essas vagas.
Mas agora, com a política de cotas, praticamente metade das vagas federais está sendo ocupada por alunos de classe média baixa e baixa. Além disso, é o Estado que, infelizmente, subsidia grande parte das vagas nas universidades privadas.
Globo: “Numa abordagem mais ampla dos efeitos da maior crise fiscal de que se tem notícia na história republicana do país, em qualquer discussão sobre alternativas a lógica aconselha a que se busquem opções para financiar serviços prestados pelo Estado. Considerando-se que a principal fórmula usada desde o início da redemocratização, em 1985, para irrigar o Tesouro — a criação e aumento de impostos — é uma via esgotada.”
Afirmações peremptórias sem qualquer fundamento:
a) Não é a maior crise fiscal da história (e temos notícias de todas).
b) Ridícula afirmação peremptória de que aumentar imposto é via esgotada para financiar o Estado. É inadequada se for aumentar impostos para a classe média e empresas. É fundamental aumentar, e massivamente, a taxação de ricos no Brasil, que basicamente vivem no paraíso mundial dos oligarcas sem pagar impostos e muitas vezes só vivendo do saque da dívida pública, montados nas heranças que receberam sem mérito algum.
Globo: “Mesmo quando a economia vier a se recuperar, será necessário reformar o próprio Estado, diante da impossibilidade de se manter uma carga tributária nos píncaros de mais de 35% do PIB, o índice mais elevado entre economias emergentes, comparável ao de países desenvolvidos, em que os serviços públicos são de boa qualidade. Ao contrário dos do Brasil.”
Sim, o Estado precisa ser reformado. Ele precisa duplicar de tamanho se queremos serviços equivalentes aos dos países europeus. Mesmo assim, eles ainda teriam que ser oferecidos consumindo quatro vezes menos recursos.
Explico. O funcionalismo brasileiro é mínimo, só 11% da população empregada, enquanto a média dos países desenvolvidos é de 22% (OCDE) e nos escandinavos, como a Dinamarca, chega a 39%. Ao mesmo tempo, nossa carga tributária é baixa se comparada com a Europa (Dinamarca, 49%; Suécia, 43%; Finlândia, 44%; dados de 2013, OCDE), e não equivalente.
Além disso, nossa riqueza, nossa renda per capita, é menor, brutalmente menor. Um brasileiro médio produz U$ 8.672 por ano. Já um norueguês produz U$ 74.822. Um dinamarquês, para manter o termo de comparação, produz U$ 52.114 (dados FMI, 2015).
Resumindo, somos seis vezes menos ricos que a Dinamarca, cobramos muito menos impostos dessa riqueza, temos menos gente no funcionalismo público e 43% de nosso orçamento vão para financiar a fortuna de parasitas rentistas, Marinhos inclusos. Na Dinamarca, zero.
Enquanto o Estado brasileiro tem em torno de U$ 1.730 por pessoa-ano para prover investimento, educação, saúde, previdência, justiça e segurança, o Estado dinamarquês tem U$ 25.535 por pessoa. E esses saqueadores do erário ainda cobram o mesmo padrão de serviços de países europeus.
Globo: “Para combater uma crise nunca vista, necessita-se de ideias nunca aplicadas. Neste sentido, por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado. E em países avançados, com muito mais centros de excelência universitária que o Brasil.”
Quando qualquer pessoa com mais de quarenta anos lê alguém com mais de quarenta anos falando de “crise nunca vista” sabe instantaneamente se tratar de um canalha.
Mas é verdade, a crise que o Levy, com essas ideias, e os bandidos do PMDB provocaram com as molecagens políticas e orçamentárias é grave. Podemos aplicar a ideia nunca aplicada no Brasil de fazer rico pagar imposto.
Nada que uma nova alíquota de 40% no imposto de renda, imposto sobre lucro e sobre fortunas não resolva. Ou melhor que isso. Nada que uma taxa de juros real de somente dois por cento não resolva.
Na Inglaterra e EUA funciona como o Globo quer, no resto da Europa, não. Não é isso que faz a excelência dos cursos anglófonos. No entanto, apesar de excelentes, são de acesso extremamente excludente e criam uma sociedade totalmente controlada pelo capital. O aluno pobre de alto rendimento acadêmico, em vez de receber sua educação como um direito, acaba tendo que mendigar o financiamento de seu futuro a fundações controladas por oligarcas bilionários, que a partir desses instrumentos controlam suas vidas, sua voz e o sistema universitário.
Globo: “Tome-se a maior universidade nacional e mais bem colocada em rankings internacionais, a de São Paulo, a USP — também um monumento à incúria administrativa, nos últimos anos às voltas com crônica falta de dinheiro, mesmo recebendo cerca de 5% do ICMS paulista, a maior arrecadação estadual do país.”
Como é que a única universidade latino-americana entre as 100 melhores do mundo pode ser um monumento à incúria administrativa? E no que privatizá-la resolveria isso?
Não é difícil imaginar o resultado da incompetência privada no Brasil, como transformou a energia mais barata e renovável do mundo em uma das mais caras ao consumidor final, como criou a telefonia e a internet mais caras do mundo, mesmo com subsídios públicos (e faliu, como a Oi). O que teríamos na universidade pública é o que temos na universidade privada hoje: nem é preciso imaginar. Incompetência administrativa, subsídios públicos (Prouni, bolsas de pós), mensalidades escorchantes e péssimo, péssimo simulacro de educação.
Globo: “Ao conjunto dos estabelecimentos de ensino superior público do estado de São Paulo — além da USP, a Unicamp e a Unifesp — são destinados 9,5% do ICMS paulista. Se antes da crise econômica, a USP, por exemplo, já tinha dificuldades para pagar as contas, com a retração das receitas tributárias o quadro se degradou. A mesma dificuldade se abate sobre a Uerj, no Rio de Janeiro, com o aperto no caixa fluminense.”
O ICMS é só uma das fontes de receita do Estado e a Unifesp é federal. São informações sem nexo para confundir o leitor e fazê-lo acreditar que 10% de seus impostos vão para bancar universidades.
No Brasil, o orçamento da educação inteira, incluindo a básica e a média, não atinge 4% do orçamento. É muito, muito pouco.
Se a UERJ está em crise é porque a universidade é, historicamente, a primeira a sofrer cortes quando os orçamentos estão em crise. E o orçamento do Rio está em crise porque o preço do barril do petróleo caiu brutalmente, deprimindo o valor dos royalties, tem um grupo político apoiado pelos irmãos Marinho no poder há dez anos dando isenções fiscais para concessionárias públicas, e porque a ação do juiz Moro, bancado pela Globo, quebrou a indústria de petróleo e a de construção naval brasileira, sediadas basicamente no Rio.
Globo: “Circula muito dinheiro no setor. Na USP, em que a folha de salários ultrapassa todo o orçamento da universidade, há uma reserva, calculada no final do ano passado em R$ 1,3 bilhão. Mas já foi de R$ 3,61 bilhões. Está em queda, para tapar rombos na instituição. Tende a zero.”
Vejam a manipulação. Universidade é basicamente recursos humanos. Em qualquer universidade, o orçamento é em sua maior parte salário. O problema é que a proporção recebida do ICMS é fixa e a arrecadação do Estado de São Paulo caiu.
Aliás, o PIB paulista arrasta o nacional para trás desde que o PSDB assumiu o poder em São Paulo. Se o orçamento da instituição não está suportando, deve haver o natural, uma reforma administrativa que racionalize cursos, salários ou aumente os recursos dedicados no orçamento estadual. O que não se deve pressupor, é que uma instituição que, no alto dessa crise, ainda tem uma reserva de 1,3 bilhão, seja uma instituição mal administrada. É um escárnio!
E o que se deve lembrar também, é que o período em que o fundo de reserva da USP despencou foi o período em que foi gerido por um reitor biônico, nomeado pelo ex-governador José Serra.
Globo: “O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado concentradores de renda que está a universidade pública gratuita. Pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional, donos das primeiras colocações nos vestibulares.”
Monstros. Esse é o ponto máximo do cinismo, apontar a universidade pública, um dos poucos instrumentos que permite à classe média brasileira manter seu nível de vida e à classe baixa ascender socialmente através dos programas de cotas, como “mecanismo concentrador de renda do Estado”. Enquanto isso, protegem em seus editoriais e telejornais a política mais insana de juros da história e vetam, neste mesmo editorial, o uso do instrumento mais eficiente de desconcentração de renda do Estado: o tributário.
Globo: “Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar a faculdade privada, onde o ensino, salvo exceções, é de mais baixa qualidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos.”
Falso! Sempre foi denunciado, até que os governos do PT criaram o Prouni para as privadas e o sistema de cotas nas públicas, o mesmo sistema contra o qual o Globo se bate em outros editoriais. E na hora que interessa ao argumento, também admite que o ensino privado no país é de baixa qualidade. Mas é exatamente nisso que a Globo quer transformar todo ensino no Brasil!
Globo: “Levantamento feito pela “Folha de S.Paulo”, há dois anos, constatou que 60% dos alunos da USP poderiam pagar mensalidades na faixa das cobradas por estabelecimentos privados. Quanto aos estudantes de famílias de renda baixa, receberiam bolsas.”
Você, leitor bobalhão de classe média direitista, está nesses 60%. “Poder pagar” pra eles é quando você ainda pode comer e morar depois que deixa todo o resto de seu salário na universidade. É você, e depois seus filhos, que vão pagar por isso. Porque os filhos da elite não estudam aqui, a maioria estuda ou nas PUCs ou no exterior.
Globo: “Além de corrigir uma distorção social, a medida ajudaria a equilibrar os orçamentos deficitários das universidades, e contribuiria para o reequilíbrio das contas públicas.”
O que corrigirá essa distorção social é triplicar o orçamento da educação básica no Brasil e permitir educação pública de qualidade universal. O que corrigirá essa e outras distorções sociais no Brasil é fazer os ricos pagarem impostos. O que reequilibrará as contas públicas é parar de pagar aos irmãos Marinho e outros oligarcas parasitas metade de nossos impostos na forma de juros.
Eu estou muito cansado de ter condescendência democrática com uma instituição que nunca respeitou a democracia, que não tem qualquer pudor em usar todo seu poder, usurpado na ditadura, para aumentar a riqueza de seus donos e destruir nossa democracia, nosso patrimônio, nosso Estado, nosso futuro.
Eu tenho profunda amargura que familiares e amigos queridos dediquem sua vida de trabalho, o melhor de sua inteligência e esforços, a uma organização que só trabalha para destruir não só tudo o que é bom e decente no Brasil, mas também qualquer esperança de termos algo bom e decente em nosso futuro.
Não podemos, no entanto, ser mais condescendentes com essa emissora e aqueles que a constroem. Está na hora de cobrar a fatura de tanta destruição.
Nossa geração tem que acabar com essa corporação monstruosa. É nosso dever com o país e as gerações futuras.
Gustavo Castañon é professor de Filosofia e Psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora.

O que levou Temer a usar o filho de 7 anos numa operação de marketing rasteiro. Por Kiko Nogueira



Postado em 27 Jul 2016
temer - escola

A biografia de Michel Temer acaba de cruzar com a de Fernando Henrique Cardoso em mais um aspecto lamentável — e não me refiro à vocação golpista.
No mês passado, numa entrevista à Al Jazeera, FHC evocou o filho Tomás para provar ao jornalista Mehdi Hasan que era um cidadão de bem.
“Essa senhora [Mírian Dutra] tem um filho. Ela diz que é meu”, disse ele. “O DNA provou que não é. De qualquer jeito, eu gosto do cara. Eu banquei sua educação o tempo todo com meu dinheiro, usando o Banco Central. Eu mandei dinheiro para o cara.”
O rapaz surgiu na discussão por obra e graça do velho, que se amparou nele como uma tábua de salvação moral.
Na terça, 26, o interino, tentando ver se conseguia transmitir uma imagem de normalidade, provavelmente preocupado com o resultado trágico das pesquisas, resolveu expor estupidamente o filho Michel, de 7 anos.
Temer mandou seus assessores — e eles obedeceram — avisarem a imprensa que estaria na escola dele com a mulher, Marcela.
Um dos golpes mais baixos no manual da busca pela popularidade. E a imprensa amiga obedeceu e cobriu e mostrou.
Era o primeiro dia de aulas do pequeno Michel. Ele saiu antes dos colegas para encontrar os pais e todos poderem posar para as câmeras. De longe, Temer acenava para os fotógrafos enquanto orientava o caçula sobre como proceder diante dos paparazzi de casa.
Alguém lhe questionou se ele passaria a fazer aquilo todos os dias. Temer, solerte, respondeu: “Só hoje! Só hoje!”. O sujeito estava representando um papel que não vai mais se repetir. Michel Jr. deve estar achando que o pai fez aquilo numa boa, por puro amor e consideração, e que repetiria o gesto.
No tumulto, uma mãe gritou para os profissionais da mídia: “Vai ser todo dia essa palhaçada?”. “Vão atrás dos corruptos, ele é só uma criança”, falou outra. Elas seriam, depois, informadas que o Planalto havia convocado a galera e que podiam ficar tranquilas. O tempo de ir atrás dos corruptos passou.
Que tipo de homem coloca sua criança de 7 anos como peça de um plano de marketing mequetrefe? Quem ele pensa que engana? Alguém pensou no moleque ou está combinado que ele serve apenas para enfeitar o museu de cera de Michel, assim como mamãe?
E por que a imprensa compareceu em peso a essa encenação meia boca?
Numa entrevista com Dilma, eu quis saber se ela esperava que o vice decorativo a fosse trair e se o confrontou quando a conspiração ficou clara. Dilma disse que o interpelou e que não achava que ele fosse capaz de fazer o que fez “por um motivo não mencionável”.
A cada demonstração da elasticidade do caráter de Temer, esse motivo não mencionável cresce e fica mais misterioso e feio.

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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.