Cartas Persas contesta Marco Antonio Villa
Enviado
por Miguel do Rosário
on 12/12/2013 – 10:06 am 3 comentários
O Blog
Cartas Persas faz uma análise do histórico dos investimentos estrangeiros
diretos (IED), e contesta artigo do historiador xodó da mídia, o ultratucano
Marco Antonio Villa, que fala em triênio perdido. O blog revela que os IED nos
três últimos anos (incluindo 2013) foram os maiores da história. E analisa
também porque o investidor doméstico, ao contrário do estrangeiro, tem se
retraído.
*
No blog Cartas Persas.
Em
triênio “perdido” de Dilma, investimento estrangeiro direto bate recorde
histórico no Brasil
Soma do
investimento produtivo estrangeiro entre 2011 e outubro de 2013 chega a US$ 181
bilhões
Depois da
“década perdida”, eis que um famoso e midiático historiador subiu as tribunas para
decretar o triênio do mandato de Dilma como um período para ser esquecido, um
triênio igualmente “perdido”. A revista inglesa Economist afirmou, durante a entrevista com Eduardo
Campos, que “o governo está fazendo algo para desencorajar investimento
estrangeiro”. Esqueceram de combinar com os russos.
Nunca
antes na história deste país houve tanto investimento estrangeiro direto quanto
nos últimos três anos. Em 2011, o volume do fluxo de capital produtivo vindo de
fora atingiu US$ 66,6 bilhões, recorde histórico no país – e sem ter de
recorrer a privatizações –, o que colocou o país na 5ª colocação no ranking
mundial daquele ano. No ano seguinte, o valor caiu, mas bem pouco: foi para US$
65,2 bilhões. A manutenção do patamar elevado do ano anterior fez ainda o país
subir uma posição no ranking, terminando 2012 como 4º maior destino de
investimento estrangeiro direto do mundo, em pleno ano do “pibinho”.
Em 2013,
entre janeiro e outubro, o nível do investimento manteve-se elevado, embora um
pouco menor que 2012: foram US$ 49,3 bilhões, contra US$ 55,3 bilhões no mesmo
período do ano anterior. Com mais dois meses pela frente, a se manter a
tendência, o IED em 2013 deve passar dos US$ 60 bilhões.
Somando o
estoque de investimento estrangeiro do período 2011-2013, já temos o melhor
triênio da história. E o ano ainda não acabou.
Fica
claro que Dilma e o Brasil não estão afugentando investidores estrangeiros. Ao
contrário. Eles nunca foram mais atraídos para investir no país. E não apenas o
IED está crescendo, como também está aumentando sua participação no total do
investimento produtivo no país (barra verde no gráfico acima): subiu de 9% para
16,4% do total. Trata-se de um movimento diferente, porém, do que ocorreu nos
anos 1990, quando a participação do IED no total de investimento era elevada
por conta das privatizações e, depois, por conta da desvalorização súbita do
real. Naquele tempo, o IED chegou a representar, em 1999, quase 30% de todo o
investimento no país. Nos últimos quatro anos, porém, investidores vem para o
país em busca de oportunidades de lucro no país de 200 milhões de habitantes,
com demanda aquecida e taxas baixas de desemprego.
A questão
é que fica é: por que o investidor estrangeiro está investindo no Brasil e o
investidor nativo, não?
Tenho
duas hipóteses: uma é que o investidor doméstico tem uma percepção diferente do
estrangeiro quanto as perspectivas de lucro futuro, isto é, tem menos confiança
e é mais pessimista; a segunda é que o investidor do Brasil tem de lidar com
entraves para investir que o estrangeiro não enfrenta.
Começando
pela segunda hipótese, qual seria o principal entrave que um investidor do
setor produtivo enfrenta que o estrangeiro não sofre? Meu palpite: juros altos.
Os juros no país, desde pelo menos o lançamento do Plano Real, sempre se
mantiveram em patamares elevadíssimos, entre os maiores juros reais do mundo.
Assim, não só é caro para o empresário pegar empréstimo para investir, como
também deixar o dinheiro em uma aplicação é mais lucrativo e menos arriscado
que investir em um empreendimento produtivo. Nos países desenvolvidos, os que mais
investem no Brasil, o acesso ao crédito é bem diferente.
Pois bem,
eis que o Banco Central começa a baixar os juros a partir de setembro de 2011,
de 12,5% até chegar em 7,25% em outubro de 2012. Em paralelo, o governo passou
a usar os bancos públicos para oferecer crédito a juros menores, forçando os
bancos privados também a reduzirem seu “spread” (lucro dos bancos). E o
investimento não deslanchou, forçando o BC a recuar, e a aumentar os juros
básicos, o que vem sendo feito desde de abril, diante de pressões
inflacionárias. Pode ser que o ambiente de juros básicos de um dígito não tenha
durado o suficiente, ou que o spread não tenha se reduzido de maneira
significativa. Pode ser. Mas o fato é que o investimento doméstico não veio.
Resta,
então, analisar a segunda hipótese, a saber, que o comportamento diferente é
explicado por percepções diferentes. Percepções são formadas por informações
que cada indivíduo recebe. E a principal fonte de informações formadoras das
percepções é a grande mídia e relatório de bancos. Assim, como o investidor
estrangeiro seria relativamente mais insulado do discurso catastrofista
monolítico da mídia nativa, sua ação é orientada por informações obtidas em uma
variedade maior de meios (menos engajados politicamente sobre o Brasil,
provavelmente) e provavelmente por fontes um pouco mais objetivas. É uma
hipótese que poderia ser melhor explorada em um trabalho acadêmico qualitativo.
Fica a dica.
FONTE: OCAFEZINHO
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