O absurdo do vandalismo profissional no Rio
Bando criminoso com alvos predefinidos espalha o terror pela zona sul carioca. Governo reage criando uma força especial para prevenir as manifestações violentas e prender responsáveis
Eliane LobatoA RECEITA DO CRIME
Barricadas nas ruas, ataques com coquetéis molotov, lojas saqueadas,
bancos depredados e enfrentamento aberto com os policiais. A ação
explícita de agitadores profissionais afronta o Estado de Direito
Os atos de vandalismo explícito que se
espalharam pelas ruas do Rio de Janeiro nos últimos dias não têm a ver
com liberdade de expressão ou direito de manifestação, atributos de
qualquer democracia. O que está havendo é crime. Protagonistas de
barbaridades como as ocorridas na madrugada da quarta-feira 17 nas ruas
de Ipanema e Leblon, quando agências bancárias, lojas e equipamentos
públicos foram destruídos e saqueados, precisam ser tratados como parte
de um bando criminoso e não como manifestantes em luta por alguma causa.
Ainda que se escondam sob palavras de ordem “contra a dominação
capitalista”, adotam uma prática que lhes tira qualquer legitimidade. Em
junho, quando as manifestações populares eclodiram em todo o País, a
população não sabia direito quem era o quê, o que separava o democrático
do criminoso, que gigante era esse que tinha acordado. Mas, a essa
altura, é preciso diferenciar e identificar aqueles que estão atuando
como vândalos profissionais, com alvos a serem destruídos predefinidos,
listados nas redes sociais, e que podem comprometer uma política de
segurança pública que tem enfrentado o crime organizado depois de
décadas. “As ações criminosas estão predominando nas manifestações”,
afirma o secretário da Casa Civil, Régis Fichtner. “A polícia está
diante de um fenômeno muito recente e precisa reagir a isso.”
Na sexta-feira 19, o governador Sérgio
Cabral assinou decreto criando a Comissão Especial de Investigação de
Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas e contou que no dia
anterior recebera um telefonema da presidenta Dilma Rousseff,
manifestando “solidariedade, apoio e estarrecimento” diante do que
aconteceu no Leblon. “A gente sabe que há organizações internacionais
estimulando o vandalismo e o quebra-quebra”, disse Cabral. “É um
aprendizado, pois estas manifestações têm caráter muito diverso de
enfrentamentos que já aconteceram no passado.” A nova comissão, formada
por membros do Ministério Público, das polícias Civil e Militar e
setores de inteligência da Secretaria de Segurança Pública, vai
centralizar as investigações sobre os que se infiltram para praticar
vandalismo. O objetivo é, também, prevenir os atos violentos e
responsabilizar criminalmente os envolvidos. Até agora, a maioria tem
pagado fiança e escapado das grades. A delegada-chefe da Polícia Civil,
Martha Rocha, explicou que os vândalos são presos por formação de
quadrilha, um crime afiançável. “Identificamos pessoas por incitação à
violência, só que ninguém pode ficar detido por isso. O crime de dano ao
patrimônio depende de representação, ou seja, de que as vítimas se
manifestem”, lamentou Martha. Entre as 62 pessoas presas em flagrante
desde o dia 10 de junho, 25 eram menores.
A polícia já sabe que o primeiro grupo que desvirtua as democráticas passeatas para o quebra-quebra generalizado está entre o Black Bloc (nome dado à tática internacional de protestar, com máscaras, capuzes e vestes negras) e os anarquistas (corrente política contrária a qualquer autoridade ou estrutura social). Tudo piora quando chegam os bandidos e se infiltram entre os infiltrados. Nesse grupo existe o claro interesse, segundo o serviço de inteligência da Secretaria de Segurança, em desgastar politicamente os responsáveis pelas UPPs, que têm enfrentado o tráfico nos morros cariocas. Eles saqueiam, roubam, depredam e espalham o pânico numa população absolutamente indefesa. O procurador-geral do Estado, Marfan Vieira, suspeita que tenha surgido, nas últimas manifestações, mais uma vertente: militantes de organização paramilitar.
A polícia já sabe que o primeiro grupo que desvirtua as democráticas passeatas para o quebra-quebra generalizado está entre o Black Bloc (nome dado à tática internacional de protestar, com máscaras, capuzes e vestes negras) e os anarquistas (corrente política contrária a qualquer autoridade ou estrutura social). Tudo piora quando chegam os bandidos e se infiltram entre os infiltrados. Nesse grupo existe o claro interesse, segundo o serviço de inteligência da Secretaria de Segurança, em desgastar politicamente os responsáveis pelas UPPs, que têm enfrentado o tráfico nos morros cariocas. Eles saqueiam, roubam, depredam e espalham o pânico numa população absolutamente indefesa. O procurador-geral do Estado, Marfan Vieira, suspeita que tenha surgido, nas últimas manifestações, mais uma vertente: militantes de organização paramilitar.
Um grupo se destaca nas manifestações em todo o Brasil: o braço brasileiro do Anonymous. Eles surgiram no início dos anos 2000, na Inglaterra, e se articulam na internet, o paraíso do anonimato. Divulgam, em sua página online, que “não incentivam a violência e os atos de vandalismo”, e que consideram as manifestações resultado de “insatisfação popular contida durante muitas décadas de descaso e opressão por parte do Estado Brasileiro.” Mas o movimento já saiu do controle dos hackers que o criaram. A máscara que os identifica – inspirada no revolucionário inglês Guy Fawkes e popularizada pelo filme “V de Vingança” – agora é usada por qualquer um, inclusive por aqueles que nada têm a ver com a filosofia do grupo. Nos camelôs cariocas, por exemplo, são vendidas a R$ 10 (ou menos). Na semana passada, a polícia começou a rastrear a presença do grupo nas redes sociais, depois de constatar que, através do Facebook, os vândalos combinavam os alvos a serem depredados, como agências bancárias e lojas de roupas.
Colaborou Tamara Menezes
Fotos: Gustavo Miranda, Simone Marinho, Pablo Jacob – Ag. O Globo
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